Advogada filha de pastor denuncia corrupção envolvendo máfia do PT, outras quadrilhas e até um membro do STF , que afirma ter sido seu amante

Cristiane denunciou a podridão em que esteve envolvida

A advogada Christiane Araújo de Oliveira, protagonista da
capa da edição de VEJA desta semana, teve acesso ao mundo dos poderosos por
intermédio de seu pai, o pastor Elói de Oliveira. Líder do Tabernáculo do Deus
Vivo, em Maceió, ele ganhou fama de profeta e hoje leva suas pregações em
igrejas de todo o país – o cachê não sai por menos de 2 mil reais.

Em Brasília, Elói de Oliveira costuma pregar em um templo da
Igreja Evangélica Bíblica da Graça. O pastor responsável pelo local, André
Salles, ajudou Elói a se aproximar do atual secretário-geral da Presidência,
Gilberto Carvalho. Na mesma época, o pregador alagoano conheceu Durval Barbosa,
o operador do chamado Mensalão do DEM em Brasília. Os poderes do pregador atraíram
políticos de várias matizes. Entre eles o ex-presidente Fernando Collor, o
ex-ministro Adir Jatene, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela e a
ex-ministra Marina Silva.

O pastor tem enfrentado percalços recentemente. Nos últimos
dois anos, problemas de fígado o afastaram do altar. Antes disso, havia sofrido
uma misteriosa paralisia da qual se livrou repentinamente. Os fiéis, que no
passado lotavam o templo, agora somam cerca de 60 em cada culto. A decadência,
porém, teria outra explicação: fanáticos próximos ao pastor dizem que ele
perdeu parte de seus poderes depois de cair em pecado, ao cometer adultério.
Ele chegou a ficar separado da mulher, Maria de Fátima, por alguns meses. A
esposa, aliás, coordena um grupo de oração às quartas-feiras em casa – um
sobrado discreto. Já a sede da igreja fica em um bairro pobre de Maceió. O
terreno foi doado nos anos 1990 por intermédio de um deputado estadual.

 

Enquanto o pai galgava degraus, Christiane não conseguia a
aprovação no vestibular para odontologia em Maceió. Por intermédio de uma
pastora amiga da família, ela decidiu ir para Brasília. Ingressou em um curso
particular de direito. Passou a morar em uma quitinete e, para pagar as contas,
arranjou um emprego. Foi quando o pai resolveu usar sua influência para ajudar
Christiane. Ela ganhou um cargo no gabinete do deputado João Caldas. Ele
garante que, enquanto esteve lá, ela teve um comportamento adequado.

Encarregado pelo pai de aproximar pastores evangélicos da
campanha de Dilma Rousseff à Presidência, Christiane acabou conseguindo um
cargo na equipe da petista. Mas não durou muito: perdeu o posto quando veio à
tona seu envolvimento com outra máfia, a das sanguessugas.

 Tramas

Na capital federal, Christiane se aproximou de Durval Barbosa, com quem, em 2007,
passou a trabalhar no governo do Distrito Federal. Tempos depois, ela se
envolveria com o então chefe da Advocacia-Geral da União, Antonio Dias Toffoli.
E tentou usar sua proximidade com o atual ministro do Supremo Tribunal Federal
para influenciar as investigações que derrubariam o então governador José
Roberto Arruda. A queda era do interesse de Durval.

A advogada também usou o contato com o ministro Gilberto
Carvalho para defender que o então procurador-geral de Justiça do Distrito
Federal, Leonardo Bandarra, fosse reconduzido ao cargo. Bandarra, descobriu-se
depois, era um integrante da máfia que tomara conta do governo local.

Advogada liga Toffoli e Gilberto Carvalho a máfia do DF

Em oito horas de gravações em áudio e vídeo, Christiane
Araújo de Oliveira revela que mantinha relações íntimas com políticos e
figuras-chave da República e que o governo federal usou de sua proximidade com
a quadrilha de Durval Barbosa para conseguir material contra adversários
políticos

Nascida em Maceió, em uma família humilde, Christiane Araújo de Oliveira mudou-se para Brasília há pouco mais de dez anos com o objetivo de se formar em Direito. Em 2007, aceitou o convite para trabalhar no governo do Distrito Federal de um certo Durval Barbosa, delegado aposentado e corrupto contumaz que ficaria famoso, pouco
depois, ao dar publicidade às cenas degradantes de recebimento de propina que
levaram à cadeia o governador José Roberto Arruda e arrasaram com seu círculo
de apoiadores. Sob as ordens de Durval, Christiane se transformou num
instrumento de traficâncias políticas.

No ano passado, depois de VEJA mostrar a
relação promíscua entre o petismo e o delegado, Christiane foi orientada a
sumir da capital federal. Relatos detalhados de suas aventuras com poderosos,
no entanto, já estavam em poder do Ministério Público e da Polícia Federal. Na
edição que chega às bancas neste sábado, VEJA revela o teor de dois depoimentos
feitos pela jovem advogada no final de 2010.

Em oito horas de gravações em áudio e vídeo, Christiane
revelou que mantinha relações íntimas com políticos e figuras-chave da
República. Ela participava de festas de embalo, viajava em aviões oficiais, aproveitava-se dos amigos e amantes influentes para obter favores em benefício da quadrilha
chefiada por Durval, que desviou mais de 1 bilhão de reais dos cofres públicos.
Ela também contou como o governo federal usou de sua proximidade com essa máfia
para conseguir material que incriminaria adversários políticos.

A advogada relatou que manteve um relacionamento com o hoje
ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Toffoli, quando ele
ocupava cargo de advogado-geral da União no governo Lula. Os encontros, segundo
ela, ocorriam em um apartamento onde Durval armazenava caixas de dinheiro usado
para comprar políticos – e onde ele eventualmente registrava imagens dessas (e
de outras) transações.

Christiane afirma que em um dos encontros entregou a Toffoli
gravações do acervo de Durval Barbosa. A amostra, que Durval queria fazer
chegar ao governo do PT, era uma forma de demonstrar sua capacidade de
deflagrar um escândalo capaz de varrer a oposição em Brasília nas eleições de
2010. Ela também teria voado a bordo de um jato oficial do governo, por
cortesia do atual ministro do STF, que na época era chefe da Advocacia Geral da
União (AGU).

Por escrito, Dias Toffoli negou todas as acusações. “Nunca
recebi da Dra. Christiane Araújo fitas gravadas relativas ao escândalo ocorrido
no governo do Distrito Federal.” O ministro disse ainda que nunca frequentou o
apartamento citado por ela ou solicitou avião oficial para servi-la. Como chefe
da AGU, só a teria recebido uma única vez em seu gabinete, em audiência formal.

Nas gravações, Christiane relatou ainda que tem uma amizade
íntima com Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. No
governo passado, quando Carvalho ocupava o cargo de chefe de gabinete de Lula,
ela pediu a interferência do ministro para nomear o procurador Leonardo
Bandarra como chefe do Ministério Público do Distrito Federal. O pedido foi
atendido. Bandarra, descobriu-se depois, era também um ativo membro da máfia
brasiliense – e hoje responde a cinco ações na Justiça, depois de ter sido
exonerado.

Gilberto Carvalho também teria tentado obter do grupo de
Durval material para alvejar os adversários políticos do PT. Ele nega todas as
acusações, e disse a VEJA: “Eu não estava nesse circuito do submundo. Estou
impressionado com a criatividade dessa moça.”

Há uma terceira ligação de Christiane com o petismo. Ela
trabalhou no comitê central da campanha de Dilma Rousseff. Foi encarregada da
relação com as igrejas evangélicas – porque é, ela mesma, evangélica e filha de
Elói Freire de Oliveira, fundador da igreja Tabernáculo do Deus Vivo e figura
que circula com desenvoltura entre os políticos de Brasília, sendo chamado de
“profeta”. Com Dilma eleita, a advogada foi nomeada para integrar a equipe de
transição. Mas foi exonerada quando veio à tona que ela teve participação na
Máfia das Sanguessugas.

Segundo o procurador que tomou um dos depoimentos de
Christiane, o material que ele coletou foi enviado à Polícia Federal para ser
anexado aos autos da Operação Caixa de Pandora. Um segundo depoimento foi
tomado pela própria PF. Mas nenhuma das revelações da advogada faz parte
oficial dos autos da investigação. A reportagem de VEJA, que reproduz imagens
das gravações em vídeo, conclui

(Revista Veja)

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