PM mata trabalhador, é promovido e trabalha normalmente em São Luis

Alex Barbosa- TV Mirante

Policiais militares acusados de atirar e matar um pedreiro há dois anos, em São Luís, continuam trabalhando normalmente. Um deles foi até promovido. É o caso do sargento da PM, Joniel Ribeiro Farias. Transferido para o município de Rosário, a 30 km da capital, ele mesmo confirma que continua atuando nas ruas.

Repórter: “O senhor está trabalhando normalmente?
Sargento da PM: “sim. Normal”
Repórter: “Nas ruas?”
Sargento da PM: “sim”.

A afirmação do PM desmente a nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública, que disse que ‘o policial está fazendo serviço burocrático enquanto é investigado por assassinato’.

O caso aconteceu no dia 31 de outubro de 2011, na Avenida Guajajaras. Imagens mostram policiais arrastando uma pessoa baleada, que teria reagido a uma ação policial. Eles jogam o homem numa viatura e um PM ainda chuta o braço do baleado.

Na versão dos policiais, o pedreiro José de Ribamar Vieira Batista teria colocado R$ 10 de combustível em um posto e saiu sem pagar. Após perseguição, ele avançou com um facão sobre dois policiais que o abordaram. Os PMs teriam agido em legítima defesa.

Mas as imagens feitas com um celular desmentiram a versão. Um dos policiais atira contra o pedreiro, que nem desceu do carro. Foram cinco tiros. O laudo do IML comprovou que os tiros foram de lado, de cima para baixo – como se ele estivesse sentado ao ser baleado.

Dois policiais foram indiciados pelo crime, um deles, o então cabo Joniel Ribeiro Farias, promovido a sargento, um ano após o crime. O outro, o soldado Francisco Silva Lima, segue trabalhando no mesmo lugar de antes: o 6° Batalhão da PM, no bairro Cidade Operária, em São Luís.

O soldado Silva Lima, como é conhecido, não foi encontrado para falar sobre o assunto. E, apesar de estar de escala de trabalho, no GTM (Grupo Tático Móvel) ninguém soube informar onde ele estava exatamente.

A Justiça teve a mesma dificuldade para encontrar o soldado. O tribunal tentou intimá-lo durante seis meses e só conseguiu ouvi-lo depois que intimou o comandante do Batalhão onde ele trabalha, pedindo para que ele apresentasse o PM.

Segundo o Ministério Público, o soldado Silva Lima responde ainda a outros dois processos criminais. Um deles por tortura, em que a vítima  chegou a ficar de cadeira de rodas. “O que a gente percebe na maioria das vezes, é que os procedimentos administrativos, os próprios IPMs (Inquéritos Policial Militar) são lentos, muitas das vezes corporativos e isso dificulta o nosso trabalho”, afirmou o promotor de Justiça Cláudio Cabral Marques, que reponde pelo Controle Externo da Atividade Policial.

O Comando da Polícia Militar admitiu que os policiais estejam nas ruas. “Não existe uma legislação que determine o afastamento dele. O que existe é uma norma administrativa nossa de afastarmos quando no início da apuração. Um está na rua, mas sendo acompanhado pelo oficial. O outro foi transferido para o interior do Estado e se encontra numa viatura administrativa, trabalhando com o comandante da Unidade”, explicou Coronel Zanoni Porto.

Além disso, Silva Lima também se envolveu numa outra ação da polícia que está sendo investigada. Desta vez, a denúncia vem de um casal, que diz ter sido espancado por policiais, no fim do mês de junho, após a filha caçula ter sido atropelada por uma motocicleta da polícia.

“Ele [soldado Silva Lima] tava na ocorrência e era o mais agressor”, garante o vigilante Reginildo Duran Soares.

Testemunhas que preferiram não ser identificadas, confirmam que houve truculência e mais uma vez o nome do soldado aparece entre os supostos agressores. “Silva Lima bateu no rosto dela, puxou o cabelo dela, mandando algemar ela, e ele também apontou a arma. Tirou uma arma do coldre dele lá, da cintura dele lá e apontou a arma pra gente, dizendo que ia atirar na gente”, relatou. O caso foi registrado na Delegacia da Mulher.

Enquanto os policiais continuam nas ruas, a família do pedreiro José de Ribamar espera por justiça. “Meu filho morreu como se fosse um cachorro. Não teve ajuda de ninguém, da lei, de policial, nem nada. Os próprios ‘policial’ foi que fizeram isso”, lamentou Luzia Batista, mãe do pedreiro.

A viúva de José de Ribamar diz que o marido era um trabalhador. “Tudo que eu quero é que eles paguem pelo que eles ‘fez’. Não traz meu marido de volta. Mas vai ser um alívio pra mim, como mulher, poder respirar melhor vendo eles atrás das grades. Pra eles ‘pagar’ por todo sofrimento, cada sofrimento que eles fizeram meu esposo passar”, relatou Luzia Batista.

 

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