Entrevista/Zé Reinaldo – “Com Flávio Dino, estamos mudando uma página da história do Maranhão”

reinaldo

Por Djalma Rodrigues

Poucos políticos maranhenses são detentores de tanta experiência como o ex-governador Zé Reinaldo Tavares, que está na disputa por uma vaga na Câmara Federal, pelo PSB. Antes de ser governador, já havia sido diretor do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Ceará (primeiro cargo público, em 1965), professor de engenharia da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Ceará, (onde se formou), diretor do Departamento de Estradas de Rodagem do Maranhão (DER/MA), secretário de Infraestrutura, no governo Pedro Neiva de Santana, onde acumulou ainda o cargo de secretário de Planejamento, presidente da Novacap, em Brasília, Secretário de Obras do Distrito Federal, diretor geral do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (sede no Rio deJaneiro),conselheiro do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), superintendente da extinta Sudene, ministro dos Transportes, vice-governador e governador.

Passou parte do tempo como aliado do senador Sarney, com quem rompeu durante o período em que foi governador, por não aceitar a interferência da antecessora, Roseana Sarney. Na última segunda-feira ( 22), recebeu, em seu apartamento, na Ponta do Farol,  esse blogueiro, a quem concedeu esta entrevista, onde fala da perseguição do grupo Sarney e da perspectiva da eleição de Flávio Dino, a quem apoiou como candidato a deputado federal, em 2006.

Veja a íntegra da entrevista:

 

As últimas pesquisas de opinião apontam uma vitória do candidato ao governo do Estado, Flávio Dino (PC do B), que é seu aliado e quem o senhor apoiou para chegar à Câmara Federal, em 2006. Partindo dessa premissa, como o senhor vê o atual cenário político do Maranhão?

 

ZÉ REINALDO – Com a vitória do candidato Flávio Dino, acho que estaremos mudando uma página da história do Maranhão. Uma história que foi de domínio durante cinquenta anos do grupo Sarney, que teve todas as oportunidades para desenvolver nosso Estado. Ele foi até Presidente da República. No entanto, a herança do grupo Sarney é uma herança com os piores indicadores sociais do Brasil: a pobreza, a pior renda per capita, o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), os piores índices da Educação; problemas crônicos sobre Saúde e em todas as áreas.

 

O que aconteceu, realmente, para o senhor romper com o grupo Sarney, de quem foi aliado por muito tempo?

 

ZÉ REINALDO – Aconteceu como em um acidente de avião. Não tem uma causa só, são várias causas. Uma causa preponderante, que levou a Roseana a me atacar e acabar me levando ao rompimento com o grupo, foi que o Sarney me procurou, logo que fui eleito governador do Estado. Todos lembram que, num primeiro momento, assumi o Governo, substituindo Roseana, já que eu era o vice-governador. Disputei a eleição, naquele mesmo ano, e fui eleito no primeiro turno, ganhando de Jackson Lago. E, logo depois da eleição, o Sarney me procurou pedindo que ajudasse a fazer o Zequinha (Sarney Filho), governador. Concordei, já que Sarney Filho é trabalhador, e tinha certa influência política.

Ficou tudo acertado, mas o ex-Presidente Sarney não conversou com a  Roseana. Com isso, ela se rebelou. Lembro que, numa reunião na casa do pai, Roseana, furiosa, gritou que quem tinha voto era ela, não era Zequinha Sarney. Como é que o pai tinha feito isso com ela! Aí ele (José Sarney) disse que a ideia não era dele, era minha. Comecei a ser atacado pelo conglomerado de comunicação da família.

Fui três vezes a Brasília, mostrar ao Sarney, o que estava acontecendo aqui. Ele me dizia que ia corrigir a situação e nunca corrigiu. Dava para consertar, era só o Sarney dizer: ‘Roseana, minha filha, vou lá conversar como Zé Reinaldo (…) e aí, você pode ser candidata, se quiser. Qualquer coisa assim, facílimo de fazer. Mas não foi isso o que aconteceu.

O problema foi o seguinte: Quando assumi o Governo do Estado, o grupo mantinha-se em média em 158 municípios. Um ano depois, um terço. E ninguém discutia politicamente isso. Como não discutiam um parâmetro, que não podiam contestar, mas dispunham de um forte aparato de meios de comunicação em suas mãos, colocavam que o Maranhão era uma maravilha, estava crescendo. Pura balela! Quando assumi, coloquei o IDH como a meta-síntese de meu Governo, ou seja, melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano. Meu primeiro ato, foi a afirmação do meu governo, sem intromissões. Isso desagradou Roseana. Ela não gostou da minha decisão. Na verdade, Roseana queria manter forte influência na minha administração. Ela já tinha sido governadora, Lobão tinha sido governador na década de 90. E quando decidi levar o ensino médio a todos os municípios maranhenses, que era a função do Estado, isso foi um choque para a população toda, porque ninguém sabia disso.

Apesar do Maranhão ser um Estado eminentemente agrícola, não tinha Secretaria de Agricultura. Para mudar isto, decidi, no meu Governo, formalizar, criar 18 Casas da Agricultura Familiar, com assistência técnica.

 

Outra, a produção do Maranhão estava lá em baixo. Os indicadores sociais da área rural são terríveis, a escolaridade média do Estado, quando assumi, era 4 anos e meio. Hoje tem 7,3 anos. Mas se você vai ver na área rural, não chega a 3. Isto quer dizer o seguinte: o maranhense tem um currículo de alguém que não completou nem o ensino fundamental.

Então, qual é o salário que o maranhense vai receber, se não é profissionalizado?

 

ZÉ REINALDO – Tem um estudo que mostra que o analfabetismo no Maranhão ainda é muito grande. Inclusive, entre as pessoas mais velhas, experientes. O analfabetismo funcional chega a quase 60 por cento. Então, a única maneira daquela família se libertar da pobreza é ter um ensino de qualidade, uma educação de qualidade. Então, para mascarar esta realidade, ela assinou um convênio com a Fundação Roberto Marinho, de mais de 100 milhões. Naquela época era muito dinheiro. Para se ter uma ideia, o Orçamento era de 4 bilhões e meio.

Há perspectiva de mudança deste quadro desolador, a curto prazo?

ZÉ REINALDO – Não tenho dúvida nenhuma. O Maranhão está tomado pela corrupção. Você vê aí, a corrupção enraizada.  É uma loucura o que está acontecendo no Estado, atingindo todas as instituições do Governo. Você vê a Roseana, o Lobão sem credibilidade para implantarem a Refinaria. A Refinaria não vai a lugar nenhum, não tem nada feito. Tem o caso do doleiro envolvido com a Casa Civil. Isso é o que se sabe! Mas o que se sabe mesmo é uma corrupção generalizada no Governo do Estado.

Então, o dinheiro do Maranhão não dá para nada porque não é aplicado em nada. E aí dizem que o ‘Maranhão tem muito dinheiro’. Quando assumi o Governo, o Orçamento era 4 bilhões e meio; quando saí eram 7 bilhões.

Como o senhor modificou esse quadro?

ZÉ REINALDO – Quando assumi, o ICMS mensal estava R$ 62 milhões. Tinha uma dívida que se paga até hoje, deixada pelos governos anteriores, da ordem de R$ 50 milhões por mês. Então, tinha 2 milhões de saldo do ICMS mais o Fundo de Participação. Era isso, o Maranhão não tinha dinheiro. Quando saí do Governo, nossa arrecadação já era R$ 280 milhões. Aí passou a ter Governo. Começamos a fazer obras em todo o Estado. Levamos, por exemplo, água a todo lugar. Aí, o jornal O Estado do Maranhão botou que água encanada era uma das mais caras, cerca de 20  por cento.

Cumpre ressaltar que o Maranhão passou pela maior prova, de que é viável, no meu Governo, porque o Sarney fez o Lula me chamar para fazer as pazes. Lula me chamou, eu fui. A ideia-base era uma discussão sobre a Siderúrgica. E aí, ele perguntou o que eu queria. Estavam lá, a Dilma Rousseff, o Zé Dirceu, entre outros. Então disse: ‘Olha, o que preciso mesmo, é de um complexo de qualidade para capacitar e qualificar o pessoal que vai trabalhar na Siderúrgica’ (…) A ideia da Siderúrgica é do meu Governo, não foi a Refinaria.

 

Mas, realmente, o que estava decidido?

 

ZÉ REINALDO – O que estava decidido era a Siderúrgica. Inclusive, cheguei a ver o marchdesigner, assinamos todos os protocolos, e tudo o mais. Depois da reunião, o Lula disse ‘fica aí’. Saiu Zé Dirceu e os outros. Ficaram eu e ele (o Presidente). Lula chegou e me disse: ‘Faz as pazes com Sarney’.

Aí, disse; ‘Presidente, não briguei com Sarney. O problema lá, no Maranhão, (…) o senhor não está bem informado. O Sarney não manda na Roseana, a Roseana é quem manda no Sarney. Na época, fui três vezes falar com o Sarney. E cada vez que eu voltava, piorava mais a situação. Mas o problema não era o Sarney, era a Roseana. Se ele estivesse no meu lugar, ele se obrigava, também, fazia acordo, não ia suportar (…) Se eu fosse um político estrategista, tinha conseguido o que eu quisesse. O Lula estava ali para resolver o problema do Sarney, de qualquer jeito.

 Faria tudo?…

ZÉ REINALDO – Faria tudo o que eu quisesse. Lula estava ali para resolver o problema de Sarney, de qualquer jeito.

Aceitaria qualquer pedido?

ZÉ REINALDO – Tudo o que eu quisesse.

A porque não fez as pazes com Sarney?

ZÉ REINALDO –  Disse que não dava, porque Sarney não manda na Roseana. Não vai adiantar nada eu fazer as pazes com Sarney, porque as coisas vão  continuar do mesmo jeito. Eles não queriam que eu trabalhasse, não queriam  deixar que eu fazer nada. O Maranhão  está numa situação de o Estado mais pobre do Brasil (…)

O senhor foi penalizado pelo seu gesto?

ZÉ REINALDO – A partir daquele momento, com a minha negativa, não veio mais nenhum ministro ao Maranhão, nenhum recurso foi mais alocado para o Estado. O que estava lhe dizendo, que ali está a maior

prova que o Maranhão é viável. Resisti, não recebi dinheiro, fiquei isolado politicamente, mas o Maranhão passou a ter R$ 1 bilhão por ano para investimentos. Naquela época, era muito dinheiro. Fizemos a ponte lá do Tocantins, lá em Imperatriz, maior obra que já foi feita com recursos próprios do Estado.

De forma que não tenho medo (…) Hoje, o Orçamento do Estado vai a R$ 14 bilhões, ano que vem vai mais que isto. Ou seja, dobrou em relação ao que era. Esse dinheiro bem aplicado, tenho certeza que o Flávio vai moralizar as ações do Governo, vai aplicar o dinheiro, vai dar para fazer muita coisa.

O senhor passou pelo Governo, o doutor Jackson Lago passou dois anos e quatro meses. Não poderia ser feita uma auditagem naquele período, para saber o destino do dinheiro público?

ZÉ REINALDO – Acho que isto pode ser feito paralelo. Mas isto não pode ser problema do Governo. Não podemos parar o Estado, porque temos que pensar na frente. O que está acontecendo hoje, nesse momento, é uma coisa que nunca aconteceu no Estado. No passado, a classe política elegeu todos os governadores do Maranhão. Dessa vez será diferente.

Será o povo mesmo?

ZÉ REINALDO – A maioria dos prefeitos está ao lado da candidatura de Flávio Dino. Sua candidatura está com mais de 30 por cento de diferença sobre o segundo candidato. Isso é fundamental, e não permite que haja uma mudança. Eles já trocaram de candidato, e não lograram reverter o quadro. Continua tudo a mesma coisa, porque o povo quer tirar a família Sarney do poder no Maranhão.

Acabou o domínio político do Sarney no Maranhão?

ZÉ REINALDO – Acabou o ciclo do Sarney no Maranhão. E a responsabilidade do Flávio é muito grande. Mas, ele está preparado.

Flávio Dino está preparado para suportar o desgaste de algumas prefeituras que o estão apoiando?

ZÉ REINALDO – Não vejo problema. Isto fica por conta do gestor. Se não der certo, obviamente, será por inabilidade de uns poucos prefeitos. Flávio está muito preparado, ele tem conversado muito com os prefeitos

maranhenses. Flávio sabe da sua grande responsabilidade, e tem enfatizado muito isto em suas viagens pelo interior do Estado, quando de suas conversas com lideranças políticas locais. Sabe da expectativa criada no meio da população, que anseia por mudanças. E Flávio passa uma coisa diferente, que melhores o dia a dia das pessoas. E isto ele passa para as famílias. Ele sabe que as mães de famílias maranhenses sofrem mais do que qualquer dona de casa de qualquer estado brasileiro para conseguir acesso à Saúde, a Seguranças, a Educação, a qualquer coisa. Então, o povo quer que esta situação melhore.

A situação porque passa o Governo do Maranhão, em termos de Segurança Pública, que está provocando a paralisação do transporte coletivo, prejudicando milhares de trabalhadores, não parece o anúncio de um fim melancólico da era Sarney no Estado?

ZÉ REINALDO – Acho que é mais do que melancólico. Durante estas cinco décadas de domínio político, o grupo do Sarney teve tudo nas mãos para alavancar o Estado, principalmente na área educacional. Mas não foi isto o que aconteceu. O Maranhão não tem Escolas Técnicas Estaduais. Sabes quantas Escolas Estaduais o Ceará tem? Cento e setenta. Aí, como é que o grupo do Sarney quer competir com o Estado do Ceará? Lá, no Ceará, a mão de obra está preparada; aqui, não está. E quando vem uma empresa para cá, para aproveitar as condições naturais do Maranhão, traz a mão de obra de lá. Então, o Maranhão hoje está precisando mudar mesmo, porque senão vai ficar atrasado. O Maranhão não é isso; o Maranhão é muito rico (…) O Maranhão tem um porto gigantesco, um dos mais importantes do mundo, mas que não tem reflexos na economia do Estado. Ou seja, o complexo portuário não tem planejamento, não tem uma proposta, não traz reflexos para a economia maranhense.

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