Morre Stephen Hawking, o gênio do universo “em uma casca de noz”, aos 76 anos

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

Físico britânico Stephen Hawking morre aos 76 anos13 fotos

Em agosto de 2012, o físico britânico Stephen Hawking narrou um dos trechos da cerimônia de abertura da ParaolimpíadaImagem: REUTERS/Toby Melville

“Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito”. A frase de Hamlet, de William Shakespeare, citada por Stephen Hawking em seu best-seller “O Universo Numa Casca de Noz (2001)”, talvez seja uma das melhores metáforas para a vida do físico inglês, morto nesta quarta-feira (14) aos 76 anos por complicações da esclerose lateral amiotrófica, doença degenerativa com a qual conviveu desde a juventude. Segundo informe da família do cientista, ele faleceu em sua casa em Cambridge, no Reino Unido.

O jornal britânico “The Guardian” publicou trechos do comunicado dos filhos de Hawking, Lucy, Robert e Tim, em que afirmaram: “Ele foi um grande cientista e um homem extraordinário. Seu legado irá viver por muitos anos. Sua coragem e persistência, além de seu brilhantismo e bom humor, inspiraram pessoas em todo o mundo. (…) Nós vamos sentir sua falta para sempre”.

Legado

Ele ficou mundialmente conhecido como o cientista que vivia recluso em uma cadeira de rodas computadorizada sem poder mexer o corpo franzino e atrofiado. E como o pensador que conquistou reinados da física ao ajudar a entender a origem do Universo e o papel dos buracos negros. “Se vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”, diz Hawking, citando Isaac Newton (1643-1727), na obra “Os Gênios da Ciência” (2002), na qual revisita pensadores revolucionários.

Divulgação

O cientista britânico em sua cadeira de rodas. Ao fundo, um retrato de Isaac Newton

Sua genialidade, que contribuiu para o avanço da física, e sua irreverência, que permitiu dar asas a um fenômeno pop, fizeram com que ele se assemelhasse muito com Albert Einstein (1879-1955), outro gênio pop. Hawking ocupou a cadeira de Isaac Newton como professor de matemática na Universidade de Cambridge até 2009, quando se comunicava apenas com um botão, utilizando um sintetizador de voz. Mas foi sua capacidade de contar ao público leigo, em linguagem fácil e cativante, as complexas teorias do mundo moderno, que fizeram dele um astro mundial.

Seu primeiro best-seller, “Uma Breve História do Tempo” (1988), traduzido em 35 línguas, teve mais de 10 milhões de cópias vendidas em 20 anos. Na obra em que trata de teorias como a do princípio quântico da incerteza, supercordas e buracos negros, inclui apenas uma única equação matemática: a elegante E = mc², famosa fórmula da equivalência entre matéria e energia de Einstein. Escreveu outros três best-sellers, além de uma série de livros infantis, produzidos com sua filha Lucy Hawking.

  • A vida de Hawking, marcada pela superação de limites e pelos romances atribulados de seus dois casamentos, se tornaram alvo do interesse e da curiosidade do público ao ponto de chegar à tela dos cinemas, em “A Teoria de Tudo” (2014). Nos últimos anos de vida, Hawking manteve-se presente no noticiário, participando ativamente dos debates mais contemporâneos, como sobre o advento da inteligência artificial e o aquecimento global.

Entendia a saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Donald Trump nos EUA como um “grito de raiva dos eleitores que se sentiam abandonadas por seus líderes”, mas considerava os dois fatos como anúncios do “tempo mais perigoso para nosso planeta”.

REUTERS/Toby Melville

Hawking narra trecho da abertura da Paraolimpíada de Londres, em 2012

Por considerar a Terra frágil para suportar as mais recentes transformações, causava polêmica ao dizer que o fim da era humana no planeta está próximo. Em constatações desconcertantes na área em que era especialista, como a de que viajar no tempo é impossível, frustrava aficionados em física teórica que ele mesmo ajudou a cativar. Hawking cunhou diversas frases de efeito, como a de que “não importa o quão ruim a vida possa ser, há sempre algo que se possa fazer e ter sucesso”. Em ações práticas, incentivava projetos milionários de busca por novas moradas e vida inteligenteUniverso afora.

O físico defendia que as novas tecnologias não fossem utilizadas para fins violentos e via nos robôs inteligentes o potencial de ser “o maior evento na história de nossa civilização” ou a “arquitetura de nossa própria destruição”.

Ao ser questionado sobre seus propósitos, dizia ter na vida um objetivo simples: “a compreensão completa do Universo”. Por sua história de superação, por conseguir chegar às pessoas com seu talento comunicativo e pelo seu interesse em áreas que extrapolavam seu campo de estudo, perseguiu esse fim para além da física. “Olhe para as estrelas, não para os seus pés”, explicou Hawking em 2012, ao completar 70 anos.

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