SINAL AMARELO PELA VIDA

*Osmar Gomes dos Santos

Trato, nesta oportunidade, daquilo que de mais sublime temos, do que de mais nobre nos foi dado: a vida. Independentemente das influências culturais, das crenças religiosas, dos valores que cada um aprende a cultivar de forma peculiar, a vida certamente deve ser o bem maior a se valorizar. Somente em razão dela buscamos outros tantos direitos que garantem uma existência, minimamente digna, em meio a um turbilhão de desatinos. Todos querem e precisam viver e conviver bem!

Por isso que dedico algumas linhas para convidar o amigo leitor a refletir sobre essa fagulha que acende a chama que cabe a cada um manter acesa. Desde o respeito que devemos ter ao próximo frente a casos banais de homicídios, como nos casos em que a própria pessoa é levada a apertar o botão “off” de sua vida. Reporto-me ao tema que, infelizmente, ainda é visto como um tabu em nossa sociedade: suicídio. Da classe A a Z este é um assunto no qual muitos sequer ousam tocar. Mas é preciso!

“Incabulado”, como bem se dizia na minha amada Enseada Grande, quando nos perdíamos nos devaneios de nossas conversas ou simplesmente algo nos deixava com vergonha e sem assunto, e sem pretender fazer o papel de especialista, posso afirmar que precisamos sair das quatro paredes para falar do tema, cujos números só crescem a cada ano, no Brasil e no mundo.

Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados ano passado, somente em 2015 foram mais de 11 mil casos de autoextermínio no Brasil. São pelo menos 30 novos casos todos os dias no país, totalizando pelo menos 800 mil vidas ceifadas por esta epidemia anualmente no mundo inteiro. Outra triste constatação, de acordo com a Organização Mundial da Saúde é o aumento do percentual de jovens que recorrem a este fim.

Ainda que frente aos números de homicídios esse quantitativo pareça “pequeno” – apenas em 2017 foram mais de 63 mil vítimas de assassinato no Brasil – estamos falando de uma situação na qual a pessoa atenta contra sua própria vida. Naturalmente o combate a essa prática é difícil e se apresenta como um desafio não apenas para as autoridades, mas para a sociedade em geral – das famílias mais abastadas às mais desprovidas de bens materiais.

O “X” da questão, no meu peculiar entendimento, transborda a matemática fria dos números e remete a um contexto de imenso sofrimento vivido por pessoas que recorrem a essa prática, sobre a qual mantemos um questionável silêncio. O suicídio, infelizmente. Há, inclusive, aquele que eu diria ser uma espécie de suicídio disfarçado, no qual a pessoa encontra a morte pela via indireta, quando faz uso de altas doses de remédios e outras drogas para fugir de uma cruel realidade que a assola e não necessariamente tentar a morte.

O assunto é por demais pertinente, haja vista estarmos à beira da Campanha Setembro Amarelo, mês em que se busca chamar atenção para a prevenção do suicídio. Esse é um assunto para toda sociedade, da empresa privada aos órgãos públicos, da escola à família.

E não é apenas a família e escola que precisam dar o pontapé inicial nesse debate. Cada um de nós precisa fazer a parte que lhe cabe ao primeiro sinal de “perigo”. A busca pelo isolamento, irritabilidade, manifestação de intenções suicidas, mudanças repentinas de comportamento, ausências injustificadas no trabalho, desleixo ao se vestir, uso frequente e/ou sem moderação de drogas – ainda que lícitas, são alguns sintomas de que algo não vai bem.

Promover um convívio saudável, preocupando-se com o próximo e estando disposto a conversar e ajudar é uma condição ímpar nas relações. Essa postura deve prevalecer sobre a competição e o individualismo que nos acostumamos enquanto conduta. Ademais, os simples fato de estarmos “conectados” via redes sociais no mundo virtual termina por nos afastar no plano concreto. Nada substitui o afeto, o afago, a atenção, o olho no olho.

O suicídio não está somente no outro. Quando alguém próximo de nós se vai, leva também um pouquinho da gente, morremos junto com esse alguém. É tempo, portanto, de valorizar a vida, de abraçarmos as pessoas a nossa volta, de dizer-lhes o quão importante são para nós e para o mundo. Cuidar da vida é papel de todos.

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

 

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