Há 20 anos, operação encontrou 33 kg de cocaína em avião da FAB e revelou esquema de tráfico internacional

RIO – O caso do sargento brasileiro preso na Espanha por levar 39kg de cocaína num avião da comitiva do presidente Jair Bolsonaro não é o primeiro episódio de tráfico internacional envolvendo aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB). No dia 19 de abril de 1999, agentes da Aeronáutica e da Polícia Federal apreenderam 33kg de cocaína refinada em duas malas, dentro de um modelo Hércules C-130 da FAB na Base Aérea do Recife. A aeronave saiu do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio, e fazia sua última escala, na capital pernambucana, antes de partir para a Europa.

Resultado de uma operação batizada de Mar Aberto, cujos trabalhos haviam começado no ano anterior, a apreensão levou ao desmantelamento de um esquema de tráfico com uso de aviões da FAB. Sete pessoas foram processadas e condenadas, entre eles, três militares da Aeronáutica e um traficante americano.

Agente da Polícia Federal com as malas e a droga achadas em avião da FAB, em 1999 | Foto de arquivo

Segundo a investigação, o avião tinha como destino a cidade de Clermont Ferrand, na França, mas ainda faria uma escala em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, arquipélago espanhol no Oceano Atlântico. Durante a operação, foi preso o tenente-coronel Paulo Sérgio Pereira de Oliveira, acusado de levar as malas para dentro do avião. Em Las Palmas, a droga seria recebida pelo seu irmão, Luiz César Pereira de Oliveira, oficial reformado da Marinha Mercante. Denunciados e condenados a prisão e multa, os dois foram expulsos das Forças Armadas. Após a operação, foram condenados ainda o tenente-coronel Washington Vieira da Silva e o major Luiz Antônio da Silva Greff, ambos também da Aeronáutica, além do traficante americano John Michael White, da boliviana Lila Ibañez e do civil Luís Fernando dos Santos.

De acordo com os autos do processo, a cocaína estava embalada em 30 pacotes, distribuídos em duas malas. Todos os pacotes estavam cobertos por uma camada de algodão e enrolados em borracha e papel celofane, com vários desenhos de Mickey Mouse. A cocaína encontrada tinha, segundo peritos da PF, 98,96% de pureza. Dependendo das substâncias misturadas para o consumo, poderia render entre 80 a cem quilos, o equivalente a US$ 3 milhões, na época. Apontado como um dos líderes do esquema, o traficante John White foi preso em sua casa, na Avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca. Ele já havia sido preso em 1995, no Rio Grande do Sul, quando chegou a ser expulso do país, mas retornou. Na época, as autoridades chegaram a investigar uma ligação do esquema que fazia uso de aeronaves da FAB com o grupo do traficante Fernandinho Beira-Mar.

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