E-mail pra Dona Bibi

 Olá, minha fofa, muito bom dia! Depois de um longo e tenebroso
inverno, eis-me aqui novamente, minha morena. Estava enfrentando
alguns perrengues e por isso fiquei esse tempão sem  te dar notícias,
mas troncho de saudades. Por estas bandas, Bibi, muitas novidades.
Principalmente na seara política/policial.Espero que esteja muito bem aí, ao lado do Criador. Olha, cidadã, no
momento em que te escrevo, já nem sei mais o que será o dia de amanhã,
com relação à política nacional. A crise por aqui tá é grande. Vamos
primeiro às locais.*

Começo a te escrever, Bibi, cinco minutos depois de uma prosa via
telefone com tua neta, a Anaya, minha terceira filha. Está internada
no São Domingos e me relata que teve seu visto para visitar os Estados
Unidos negada pela embaixada daquele país em Brasília.

*

Queria fazer um tour turístico. Seu perfil não ajudou. Solteira,
fisioterapeuta e autônoma. Pronto: Os gringos entram em pânico. Pensam
que pode ter ligações com células terroristas ou que está indo
pensando em não voltar. É a paranoia disseminada pelo governo do
brutamontes Donald Trump.

*

Aconselhei para que fosse fazer turismo na Europa ou mesmo na América
Latina. O Nonato Reis me disse que conseguiu furar a barreira
diplomática e visitar os EUA. Para nunca mais. Contou que foi apalpado
mais do que rapariga em cabaré por um brutamontes da Imigração. Deixou
a Terra de Tio Sam sem saudades.

*

Bem, morena, ontem, teu segundo bisneto, o Noah, filho da Tâmara,
completou o primeiro aninho. Não pude ir por questões profissionais.
Uma  fofura esse cidadãozinho. Ao contrário do irmão Filipe, que é
sereno, esse é mais agitado e adora uma aventura. Só tu vendo.

*

Vamos deixar esse negócio de família de lado e passemos às mais
importantes da semana.

*

Por aqui, Bibi, no Maranhão, esqueceram as escaramuças a respeito da
convocação do secretário de Segurança, Jeferson Portela, do
ex-delegado Tiago Bardal e do delegado  Ney Anderson, na Câmara
Federal, por conta das denúncias de espionagem das autoridades, por um
motivo mais polêmico. A visita do governador Flávio Dino ao
ex-presidente Sarney, em Brasília.

*

A informação caiu como um raio, fulminando aliados e adversários do
governador. Conversa de pé de ouvido. Mais de uma hora. Só entre os
dois, na casa de Sarney, que fica na beira do Lago Paranoá, na Capital
Federal.

*

Fizeram aqui até bolsa de apostas, para saber sobre os assuntos
tratados no convescote. As informações oficiosas afirmam que o
governador, que já conversou com Lula e com  FHC, visitou Sarney em
busca de um diálogo de líderes a respeito  da crise institucional que
está abalando o Brasil e colocando em risco a democracia.

*

O Maranhão é  um Estado diferente Bibi . Nas outras unidades da
Federação, todo mundo tem um pouco de treinador de futebol. Aqui, além
de técnico, o maranhense também é chegado a uma análise política. Aí
já viu, né? Esse encontro está sendo um  prato cheio.

*

A gente chega numa roda pelos corredores da Assembleia e lá está um
dizendo que isso é um acordo que envolveria apoio de Dino a Roseana
para o Senado ou governo, em troca do auxílio de Sarney numa futura
candidatura  de Dino a presidente da República.

*

Aí, quando se conversa debaixo das frondosas mangueiras da Câmara
Municipal, reduto dos mais argutos analistas, tem quem aposte as
fichas até mesmo num suposto apoio de Dino ao deputado Adriano (ele
não quer mais o Sarney no nome) para a Prefeitura, também em troca da
recíproca presidencial.

*

Mas Bibi, após essa visita, a memória me faz voltar a 2015, quando o
ex-governador  Zé Reinaldo, num artigo intitulado Pacto pelo Maranhão,
no Jornal Pequeno, falava exatamente numa aproximação entre Dino,
Sarney e as demais lideranças políticas maranhenses, pelo bem do
Estado.

*

Quase era esfolado vivo em praça pública e foi escorraçado do grupo,
perdendo inclusive a oportunidade de ser senador. Agora, o que ele
preconizou está acontecendo. Na Assembleia, por exemplo, todos os
deputados entrevistados pelo grupo Mirante apoiaram a iniciativa do
governador.

*

Com cara de Nhô Zé estão aqueles comunicadores que de um  lado e de
outro ficaram a esculhambar o Sarney e o Flávio. Nunca aprenderam que
em política, não se tem inimigo, mas adversários, que, em determinados
momentos se tornam aliados.

*

Aprendi isso na prática. Depois de muitos anos trabalhando com João
Castelo e sentando a pua no grupo Sarney  pelo Jornal de Hoje (fui até
processado), acompanhei o Castelo no palanque da Roseana Sarney numa
das campanhas dela para o governo do Estado.

*

Quando criança, Bibi, e tu bem sabes disso, aqui em São Luis, Sarney e
Cafeteira eram como Vasco e Flamengo. Não se uniam de jeito nenhum.
Quem votava num não podia sequer carregar a bandeirola do outro.

*

Os tempos mudaram e Cafeteira foi eleito governador com apoio de
Sarney. Brigou no final. Cafeteira se aliou a  Jackson Lago, com quem
também brigou e  voltou para o grupo Sarney. Morreu como aliado deste.

*

Li muita baboseira após esse encontro. Nada me surpreende em política.
Acho isso muito natural. O discurso de hoje pode facilmente ser
rasgado amanhã. Outra lembrança: O Collor quando estava em campanha,
chamava Sarney de ladrão e ameaçava prendê-lo quando eleito.

*

Logo após ser empossado, foi  procurar o velho ex-presidente.  O
encontro foi no Sítio São José do Pericumã, nas cercanias de Brasília.
Tomaram vinho chileno e Collor orientou Sarney a retirar o dinheiro
que tinha em poupança, porque iria fazer o confisco do dinheiro de
milhares de brasileiros, o que realmente aconteceu.

*

Então, Bibi de Deus, por essas e por outras, que não se pode
estabelecer uma meta em política, se adotando uma linha reta. Os fatos
é que vão direcionando por onde qualquer político deve circular.

*

Que fique a lição para os babões  que se esganiçavam contra Sarney, o
‘câncer’ do Maranhão. Política é uma arte para quem sabe. E o
governador Flávio Dino não chegou ao comando do Maranhão à toa,
mostrou que já é tarimbado e está conseguindo se sobressair no cenário
nacional.

*

Bem minha gata, com essa, teu pretinho vai ficando por aqui,
garantindo retorno na próxima semana, se Deus quiser. E ele quer,
porque sempre foi bacana com o teu pimpolho.

*

Beijão desse filhote que jamais deixará de te amar

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