Presidente da LIESMA acredita que sem vacina contra o Covid-19 Carnaval de Passarela pode não acontecer em 2021

(Por Djalma Rodrigues)

Misto de matemático e carnavalesco, Itamar Correa Lima é dos maiores incentivadores e promotores da cultura popular do Maranhão, com ênfase para o Carnaval. Ele é o presidente da Liga das Escolas de Samba do Maranhão (LIESMA) , da tradicional escola de samba Turma de Mangueira, agremiação da qual já foi carnavalesco. Já comandou carnavais também em outras escolas do Grupo Especial, como a Unidos de Fátima e a Túnel do Sacavém. A convite do editor do blogue, decidiu conceder essa entrevista, sobre a perspectiva dos desfiles do próximo ano, por conta da pandemia do Covid-19.

Eis a íntegra da entrevista:

Ligas de Escolas de Samba de Rio e São Paulo, já iniciaram discussões com suas associadas a respeito de um provável adiamento dos desfiles e até mesmo o cancelamento do Carnaval de 2021, em decorrência do Coronavírus. E a LIESMA, já está tomando algum posicionamento a respeito do assunto?

Itamilson: Embora já haja algumas posições individuais dispostas nesse debate, institucionalmente ainda não há uma diretriz definida. Importante ressaltar que independente da pandemia o próximo carnaval é uma incógnita, visto que será gerenciado já pela nova equipe da SECULT que assumirá em 01 de janeiro próximo. Assim sendo acredito que ainda é cedo para apresentarmos uma posição definida. Muitas variáveis envolvem o Carnaval de 2021 e por isso é um evento que precisa ser tratado pelos envolvidos, com  paciência e cautela. Uma coisa eu creio ser certa. Sem vacina eu não acredito que o evento aconteça nos moldes anteriores.

Já houve algum contato entre a LIESMA, Prefeitura e Governo do Estado para a discussão da questão?

Itamilson: Não, todo mundo ainda se sente travado para abrir o debate, uma vez que a ciência ainda não teve tempo para responder efetivamente a essa pandemia e isso deixa todo mundo um pouco perdido em suas posições e decisões. Acredito que ainda se esteja aguardando mais um pouco pra se discutir a festa.

Há quem diga que os primeiros sinais do vírus foram observados pouco antes do Carnaval. Você acredita que se não houvesse o Carnaval, nós estaríamos numa posição menos perigosa perante o Covid-19?

Itamilson: Essa é uma resposta que se dá no campo do achismo. Por isso prefiro não me posicionar. Embora saibamos que o Carnaval é uma das maiores festas do Brasil, não podemos afirmar que a pandemia teria sido menos danosa se não houvesse tido o evento no país. Digo isso, porque em outros países mesmo sem um evento tão populoso quanto o nosso a doença fez grande estrago.

Há dados sobre o montante de recursos financeiros movimentados em São Luís no período do Carnaval, por conta dos desfiles das escolas de samba, blocos e outros grupos?

Itamilson: Na verdade, se há, nunca chegou a nós. Acredito que o poder público deva ter dados acerca da festa num todo, mas um recorte do espetáculo em si, penso que não. Até porque o desfile é tratado como um “apêndice” da festa. Não olham os desfiles como um produto capaz de atrair turistas e gerar riqueza. Falo isso pela propaganda nacional do evento que supervaloriza o modelo baiano de festa agora realizado no circuito Beira – Mar

Com base em sua experiência como profissional da área, o que o Coronavírus pode provocar em termos de mudança no Carnaval daqui pra frente?

Itamilson: mesmo com toda experiência que tenho no Carnaval sinto-me inseguro para apontar essas possíveis mudanças. Falar desse “novo normal” é algo complexo e perigoso, já que tudo ainda é incerteza. A ciência precisa de tempo pra responder à sociedade com eficiência. Enquanto isso ficamos conjecturando em busca da menor dose de erro.

O São João teve uma movimentação através de lives no Maranhão e em outros estados do Nordeste, onde a festa é uma grande tradição.  O mesmo modelo pode acontecer com o Carnaval?

Itamilson: Sim, acredito que essa é uma real possibilidade se não houver resposta científica para uma imunização coletiva. Penso que pode ser que no Carnaval essas lives possam ser um pouco mais volumosas de pessoas, em razão da diminuição da curva do vírus no país.

Anos atrás, um grupo tentou extinguir o Carnaval de Passarela  de São Luís, com o claro objetivo de estabelecer um carnaval baiano na orla marítima. Era o tempo das micaretas, mas um grupo resistiu e você integrava esse movimento, que acabou saindo vitorioso. Achas que com a pandemia, o Carnaval de Passarela dará seus suspiros finais?

Itamilson: Acredito que não. A festa tem uma força popular muito grande, apesar de toda interferência negativa sofrida até então. É um movimento bem fundamentado, tradicional, que já resistiu por quase um século, bastante introjetado no povo brasileiro, portanto o máximo que vislumbro é uma possível  repaginação dependendo dos eventuais efeitos da pandemia. O fim dos desfiles eu não vejo como consequência provável nesse “novo normal”.

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