Recados para ela

Olá, fofura, meu muito bom dia! Na certeza de que está muito bem por aí, por aqui, vou te informando que há tempos não se tinha uma boa notícia, como a que aconteceu nesta sexta-feira. A Petrobras anunciou a redução de 5% no preço da gasolina. Isso nas refinarias, que deverá ter um pequeno impacto nos postos. Até que enfim! Aleluia, Senhor, Aleluia. Depois da tempestade sempre vem a bonança.

Agora, cidadã, falando em tempestade, chuvas torrenciais continuam fustigando o Maranhão, principalmente São Luís. Na semana passada, chuvas com raios e trovões fizeram menino mijar na cama. A cidade ficou completamente alagada. A Ilha toda sofreu com uma noite de muita água, trovoadas e relâmpagos.

Pelo menos 650 raios caíram por toda a Grande Ilha. É nessa hora que aqueles que desrespeitam os pais se tremem de medo, como dizia minha saudosa avó Chiquita, lá em Cururupu. Hoje me deu uma saudade da terra dos meus ancestrais.

Olha, Bibi, o que mais vem preocupando agora os brasileiros é a pandemia do covid-19. Cientistas asseguram que a partir de abril, poderemos ter algo em torno de 4 mil mortes por dia, já que a nova cepa do vírus é mais letal do que a primeira.

No Maranhão, o covid tem avançado em ritmo acelerado. Na última sexta-feira, por exemplo, foram contabilizadas 35 mortes. A rede hospitalar não tem mais condições de internar os doentes atingidos pela pandemia e o secretário estadual de Saúde, o Carlos Lula, mete ainda mais medo, ao afirmar que os insumos para as máquinas de oxigênios devem durar apenas 20 dias. Vivemos uma fase de horror. Que Deus nos guarde, nos ilumine e nos tire desse momento de desespero.

Bem, Bibi, vamos agora a algumas coisas mais amenas. Chega de tanta notícia ruim.

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Uma cigana  conhecida como Irmã Geovana está deitando e rolando pelo interior do Estado, na enganação de incautos. Em Formosa da Serra Negra, terra do Domingos Ribeiro, ela conseguiu enganar uma senhora, arrancando-lhe R$ 35 mil, no manjado conto do vigário.

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Negócio foi o seguinte: A vítima estava com uma filha adoentada e foi procurar os “serviços” da estelionatária, que logo se prontificou a curar garota, mediante a  entrega de R$ 8 mil, que disse que iria benzer.

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O dinheiro lhe foi entregue e no dia seguinte ela devolveu a grana. Mas disse que a menina morreria, se ela não conseguisse R$ 35 mil, para um benzimento mais forte.

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Desesperada com a iminente morte da filha, conforme lhe falou a cigana. Ela moveu mundos e fundos e conseguiu o valor solicitado. Irmã Geovana então levou o dinheiro, e no dia seguinte voltou com um pacote, dizendo que ali estava a grana e determinando que fosse colocado embaixo do travesseiro da doente, para abrir somente no dia seguinte.

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A vítima dormiu com os anjos e acordou com o demônio. Ao abrir o pacote, deparou com um monte de papel. Foi à casa onde a dita cigana estava hospedada e nem sombra desta.

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Tão dizendo que golpes parecidos foram aplicados nas cidades de Barra do Corda e São Bento. Quando fui repórter policial em São Luís, acompanhei muitos casos parecidos. São situações manjadas, mas que sempre acontecem, pela ingenuidade das pessoas.

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Mas Cururupu gerou um golpista que ficou na história da crônica policial do Maranhão. Trata-se de Claudemir Coimbra, um homossexual conhecido por  Michele, que usou nomes de muitos políticos para aplicar seus golpes. Vou relatar alguns deles aqui.

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Gardênia Ribeiro Gonçalves havia sido eleita prefeita de São Luís, em 1982, e   em dezembro do ano seguinte, Michele apanhou um táxi na Deodoro e se mandou para a Estiva, se apresentando a um comerciante  local como assessor da prefeita.

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Afirmou que ela estaria presente no final da tarde do dia 24, véspera de Natal, para uma confraternização com um grupo de senhoras. Para tanto, pediu que ele separasse uma grande quantia de refrigerantes e pediu uma certa quantia em dinheiro para compra de salgados, afirmando que a prefeita pagaria quando chegasse.

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Foi atendido prontamente e voltou para o centro da cidade. Chegando no Monte Castelo, disse para o taxista parar na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, porque o pároco de lá era quem iria rezar a missa, a pedido da prefeita.

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Ele desceu do carro, entrou na igreja, saiu pela porta que dá para outra rua e deu no pé. O taxista quanto e o comerciante da Estiva jamais voltariam a ver Michele de corpo presente. Somente pelas crônicas policiais dos jornais locais é que ele foi reconhecido pelas vítimas, tempos depois.

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O nome do saudoso Jackson Lago, quando prefeito, também foi usado para uma das peripécias do golpista. Ele sabia que haveria uma convenção do PDT na Câmara Municipal e tinha conhecimento sobre a amizade do ex-governador com a dona de um restaurante na Ponta D, Areia.

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No dia da convenção foi bater no restaurante:

-O Doutor Jackson Lago pediu que viesse aqui. Está havendo uma convenção do partido lá na Câmara e ele quer que a senhora mande fazer 150 quentinhas e mande um dinheiro aí para ele resolver alguns problemas com lideranças de bairros.

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Muito ligada ao então prefeito, a cidadã prontamente atendeu à solicitação. As quentinhas ficaram lá e no dia seguinte a comerciante falou com um assessor do alto escalão da Prefeitura e relatou o ocorrido. Preso dias depois, Michele confessou o golpe.

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Ricardo Murad era presidente da Assembleia Legislativa. Chega véspera de Natal e Michele vai bater num grande restaurante de São Luís, se apresentando como assessor do Ricardão:

-Doutor Ricardo mandou que viesse aqui lhe dizer que é para reservar um jantar para 42 deputados, com suas esposas. Para bebida ele quer uísque, vinho, cerveja, refrigerantes e água mineral, com e sem gás.

Ah! pro senhor mandar um dinheiro aí (disse a quantia), para ele resolver negócios urgentes e resolve tudo quando chegar.

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Prontamente atendido, Michele viajou para Cururupu. A polícia quando foi avisada da história, já sabia quem era o autor. Foi preso dias depois. Ele sempre confessava suas artimanhas no mundo criminal.

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Já conhecido da polícia, virava preso de confiança no Primeiro Distrito, ali na Rua da Palma e às vezes fazia serviços de limpeza na delegacia. Certo dia, viu que prenderam um desordeiro, e o deixaram na cela com relógio, anel e aliança.

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Numa distração dos policiais, foi lá na cela e pediu os objetos do detido, dizendo  que era ordem do delegado. Escapuliu, foi embora e só foi preso uma semana depois.

São inúmeras as histórias desse conterrâneo, que morreu ainda jovem, vítima de um choque elétrico no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Uma lenda do crime, que jamais usou da violência. Tudo na base do papo.

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Bem, Bibi, com essa, teu pretinho vai ficando por aqui, garantindo retorno no próximo domingo, se Deus quiser.

E ele quer, porque sempre foi bacana com esse teu pimpolho.

Beijão desse filhote que jamais deixará de te amar.

Djalma

NE-  Bibi é Benedita Rodrigues, mãe do editor. Ela faleceu em São Luís, aos 28 anos de idade, na Santa Casa de Misericórdia, no dia 8 de dezembro de 1965.

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