Um ano sem o amigo Edu

 “Djalma, perdemos nosso amigo  Edu para o Covid”! Foi dessa forma, direta e com certeza muito dolorida, que recebi, no dia 20 de abril do ano passado, uma mensagem do vereador Francisco Carvalho, me informando da morte do nosso amigo comum Edwrges Costa, o Edu, que à época era o secretário geral do PSL Estadual, partido dirigido pelo parlamentar.

Nunca procurei saber  entre nós três, sobre qual a  amizade mais antiga do Edu. Se comigo ou com o Chico  Carvalho. Minhas lembranças dele remontam ao ano de 1977, quando ingressamos juntos no então 24° Batalhão de Caçadores, atualmente 24° Batalhão de Infantaria Leve, na 2ª Companhia de Fuzileiros. Era considerada a mais implacável unidade da corporação para os recrutas,  por conta da rigidez dos treinamentos e da dura disciplina. Por isso, formava os melhores soldados e se destacava em todas as áreas, tanto nas artes militares como nos esportes.

A aproximação foi imediata, entre os soldados Costa e Djalma. Nossas beliches eram próximas e tínhamos uma parecida linha de raciocínio sobre a vida. Objetivos muito identificados.  Frequentávamos, nas folgas, uns barzinhos das redondezas, onde tomávamos cervejas e o papo rolava noite adentro nas vésperas das nossas folgas.

Certa vez me confessou sua vontade de seguir carreira no Exército. Era  um  “Caxias”, denominação dada aos militares que seguem ao pé da letra os preceitos de sua Força. Andava sempre alinhado. Coturnos e fivelas brilhantes, fardamento bem engomado. Muito aplicado nas aulas teóricas e corajoso nas práticas militares.

O horizonte para a carreira se abriu para o soldado Costa logo na primeira seleção para o curso de sargento temporário. Foi um dos escolhidos. A leitura no boletim da Companhia o fez ficar muito entusiasmado. Me deu um abraço sufocante.

-Baixinho! Porra, cara, vou ser sargento temporário e depois farei o curso para efetivo na Escola de Guaranhuns, lá em Pernambuco. Vamos comemorar na sexta. Estamos de folga esse final de semana!

Na sexta-feira fomos ao Luso Brasileiro, um conhecido bar do bairro do João Paulo. Um grande grupo. Incluindo mais cinco que haviam sido escolhidos para o mesmo curso. Sonhos que começavam a se materializar.

A euforia daria vez a uma grande frustração menos de um mês depois Ele saiu com um soldado antigo, de nome José Maria. Este se envolveu numa confusão e o amigo, só porque estava junto, foi desligado da turma. Isso no sábado. Quando chego na Companhia na segunda ele estava desolado. Me abraçou chorando muito pesaroso e relatou a situação. Estava fora do curso. Eu e outros colegas o consolamos e a vida continuou. Mesmo assim, foi escolhido o Soldado Distinção do Batalhão naquele ano.

Ao final do ano, deixamos a caserna e cada um seguiu seu rumo. Volto a encontra-lo exatamente ao lado de Chico Carvalho, de quem fui diretor de Comunicação na Câmara Municipal, no período de 1994 a 2000, nas três vezes em que ele presidiu a casa de Simão Estácio da Silveira.

Ele já vinha acompanhando Chico Carvalho desde o PRONA. Inteligente, de posições firmes, muito leal e carismático. Era uma referência no escritório partidário. Sempre que dispunha de um tempinho ia lá bater um papinho e tomar um café. Na nossa última conversa, se mostrava extremamente feliz, por conta da finalização de sua casa na zona rural de São Luís. Afirmava que estava nos últimos retoques, para me lavar num domingo para um mocotó regado a cerveja e rememorar os velhos tempos de juventude.

O SARS-CoV-2,  Coronavírus ou Covid-19, foi identificado pela primeira vez em seres humanos em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China. Pensa-se que seja de origem animal.  São diversas e as mais absurdas teorias.  O surto inicial deu origem a uma pandemia global que até esta sexta-feira (20), no Maranhão, tinha 258.651 registros da doença  com 6.951  mortes. São mais de 3 milhões de óbitos em todo o mundo, número que   em termos proporcionais, supera o  de judeus massacrados no Holocausto nazista de Hitler, em torno de 6 milhões, entre os anos de 1939 a 1945.

Perdi muitos amigos aqui no Maranhão, principalmente na área de Comunicação. Todos merecem uma homenagem, mas não poderia deixar de lembrar esse bravo companheiro de lutas, com quem dividi sonhos e preocupações na transição da adolescência para a fase adulta, cuja amizade perdurou até o último dia de sua vida entre nós. Foi levado por uma doença que continua a desafiar a ciência e que não escolhe raça, credo cor ou estratificação social, deixando um rastro de lamento, de dor e de saudades. Em mensagem me encaminhada nesta sexta-feira, Chico Carvalho dá o título desse artigo e acrescenta: “Faz muita falta”!

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