Recados para ela

Olá, minha fofa, muito bom dia! Espero que estas poucas e mal traçadas venham a encontrá-la na santa paz do Criador aí em cima. Neste domingo, Dia dos Pais, estou mais feliz do que pinto no lixo, como diria o nosso saudoso sambista Jamelão, da poderosa Turma de Mangueira. Não poderia ter recebido presente melhor do que este que a tua netinha, a Lívia me ofertou.

Ela simplesmente foi aprovada no PAES da UEMA, para o curso de Direito. E, como tu sabes, mulher, ela só tem 17 anos e ainda não concluiu o ensino médio. Está finalizando o terceiro ano. Confesso que estava tenso, na quinta-feira, antes do resultado final.

Mas, por outro lado, lembrei que ela já havia preparado uma grande surpresa em 2019, quando, aos 15 anos, foi aprovada no ENEM para o curso de Psicologia. Deveria estar aqui entre nós, Bibi, para se emocionar como eu e a Elineusa. Estava no trabalho e não tinha tempo para aguardar o resultado.

Passava das 18 horas e eu estava num engarrafamento danado, ali pra as bandas da Cohama, quando a Elineusa me liga:

-Foi aprovada!!! Foi aprovada!!! Nossa filha foi aprovada Djalma!!!

Percebi que estava chorando de alegria. Me emocionei e por pouco não provoco um acidente. Logo a seguir, a avó dela, dona Elineide, que tem muito a ver com essa vitória, se encarregou de passar a notícia para os parentes e aderentes. Vou escrever aqui um pouquinho sobre essa trajetória de tua neta.

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O pontapé inicial, Bibi, foi dado quando ela tinha apenas 1 ano e 8 meses, e foi matriculada no Colégio São Vicente, uma tradicional escola dirigida por religiosas, no bairro do João Paulo. Sempre gostou do ambiente escolar e isso todos puderam notar logo no começo.

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Não me sai da mente, um cena que até hoje me emociona. Ela estudava no turno vespertino e eu geralmente saía da Câmara Municipal por volta do meio-dia, para enfrentar o nosso interminável engarrafamento, chegar na Rua da Cerâmica faltando 15 minutos para as 13h, para levá-la à escola e me virar para que não chegasse atrasada.

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O problema é que engarrafamento em São Luís costuma nos pregar muitas peças. E teve um dia que não houve jeito. Estava fora do horário, e, ao chegar na porta de casa, me deparo com a Lívia puxando a avó dela pelo braço, para que chegassem logo no colégio.

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Em diversas ocasiões, Lívia e dona Elineide voltavam andando pra casa. Mesmo assim, ela nunca reclamou. Pelo que se observa, escola sempre foi o seu habitat. Vi que ficou muito orgulhosa, quando mudou de uniforme. Deixou a bermuda por uma calça comprida.

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Fui com ela comprar a calça. Estava saltitante de alegria. Ao chegar em casa, foi experimentar a nova vestimenta e ficava metendo as mãos nos bolsos e se virando de um lado para outro na frente do espelho.

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Outro momento marcante para ela, foi quando mudou de ambiente lá no São Vicente. Foi para o segundo pavimento. Era o próprio orgulho em pessoa. O sorriso dizia tudo.

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Até que, quando estava no 5º ano, cismou que queria mudar de escola. Disse para a mãe dela, a Elineusa, que a metodologia do colégio não estava a lhe agradar. A mãe a levou ao Dom Bosco. Fez uma prova.  Passou e está aí o resultado. Aprovação para dois cursos superiores, um no ENEM e outra no PAES antes de completar 18 anos.

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No Dom Bosco, seu gosto por leitura me pregou uma peça. Antes, estacionava o carro num sufoco danado lá pela frente, e ia buscá-la no amplo salão de entrada. Depois, pedi que descesse para apanhá-la na porta. Tudo foi combinado assim.

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Logo no primeiro dia, após o combinado. Parei o carro e fiquei a esperá-la. O tempo foi passando, foi passando… e nada de Lívia. Os alunos do vespertino começaram a chegar e nada da Lívia.

Fiquei aperreado e fui na secretaria da escola. Quase provoco um escândalo e ia telefonar para a polícia, quando o Ribão, que havia ficado perto do carro me chamou a atenção com gestos, dizendo que a Lívia estava lá embaixo. E estava. Sentada quase na entrada, tranquila, lendo um livro.

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É assim a tua neta. Com um livro na mão, esquece o resto. Ela vara as noites numa leitura. Sei disso porque invariavelmente fico na sala, nos finais de semana, assistindo TV, e observo que ela está mergulhada em leitura, pela réstia de luz que se propaga pela fresta debaixo da porta do quarto dela. E ai de quem ouse perturbá-la!

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Um ano após ingressar no Dom Bosco, disse à mãe dela que passou um bom tempo sendo alvo de bullyng, por parte da maioria da turma. Era rejeitada pelo grupo. Suas boas notas fizeram com que os outros alunos a procurassem posteriormente.

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Ah, Bibi, podem até achar chatice ocupar todo esse espaço hoje para falar da Lívia, mas não poderia agir de outra forma. Ainda estou comemorando essa brilhante vitória e aproveito e agradecer à mãe dela, extremamente cuidadosa, à avó Elineide e às tias Rafaela e Elisene, que sempre a estimularam  e lhe deram total apoio.

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Avessa a festas, pregou certa vez uma peça na Elisene. Era um domingo de junho, a tia lhe enfeitou toda e as duas foram para a praça Maria Aragão, para os festejos juninos. Nem bem chegaram e Lívia pediu para retornar para casa, porque queria mesmo era assistir o Fantástico. Eis um pouco do retrato dessa tua adorada neta, cidadã.

Bem, Bibi, com essa, teu pretinho vai ficando por aqui, garantindo retorno para a próxima semana, se Deus quiser. E ele quer, porque sempre foi bacana com esse teu pimpolho.

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Beijão desse teu filhote que jamais deixará de te amar

Djalma

N.E- Bibi é Benedita Rodrigues, mãe do editor. Ela faleceu aos 28 anos de idade, em São Luís, no dia 8 de dezembro de 1965.

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