Editor deste blogue e do ATOS FATOS recebe homenagem da UFMA e relata toda sua trajetória profissional

(Por Aline Drummond, do ATOS E FATOS)

 

Ele é o editor-chefe de ATOS E FATOS desde a fundação do matutino, em dezembro de 1997, após aceitar o desafio do seu irmão por afinidade e proprietário do periódico, o jornalista Udes Cruz, de saudosa memória. No dia 21 de dezembro do ano passado, foi uma das 50 personalidades contempladas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), com a comenda alusiva aos 200 anos de instalação da Imprensa no Estado. A referência é ao jornal o Conciliador do Maranhão, fundado em São Luís em 15 de dezembro de 1821. O Reitor da instituição de ensino superior, Natalino Salgado, ressaltou em seu discurso, que o evento se revertia da mais alta importância para a Imprensa maranhense, afirmando que a diversidade de ideias estava muito bem ali representada quando se homenageavam diferentes categorias no que ele considerou as intempéries dos 200 anos da Imprensa. Destacou que estavam jornalistas de atuação, perfis de atuação e vieses ideológicos distintos, mas que cada escolhido foi reconhecido como digno de representar o bicentenário.

Djalma Rodrigues era um dos mais emocionados. Revelou que jamais imaginaria figurar ao lado de vultos da estatura de José Sarney, Bandeira Tribuzzi, Bernardo Coelho de Almeida, José Louzeiro, Benedito Buzar, Othelino Filho e tantos outros monstros sagrados que escreveram uma bela página do jornalismo do nosso Estado ao longo desses dois séculos. Nessa entrevista, ele conta sua trajetória na profissão que adotou e que se diz apaixonado. Eis a íntegra da entrevista:

ATOS E FATOS –Como se sentiu ao ser notificado da homenagem?

DJALMA RODRIGUES  – Inicialmente, pensei que fosse um trote. Já havia lido através do portal da UFMA, que ela estava organizando uma série de eventos comemorativos aos 200 anos da Imprensa no Maranhão, incluindo esta homenagem. Mas não podia acreditar que estaria inserido nesse seleto grupo. Quem me passou a mensagem, via rede social foi uma componente do cerimonial da Universidade. Retornei para conferir e ficou confirmado. Perdi a respiração por um momento e corri para contar para minha esposa, a também jornalista Elineusa Rodrigues. Somente após ser condecorado, é que soube que uma comissão composta por 10 pessoas, incluindo representantes da própria UFMA, das Academias Maranhense de Letras, e Ateniense, Instituto Histórico e Geográfico e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais, passou seis meses apresentando, debatendo e votando os nomes dos eleitos. Tudo no mais absoluto sigilo. Como numa grande operação de guerra. Me emocionei muito também na hora da solenidade, salvaguardada as devidas proporções, foi como uma premiação do Oscar de Hollywood. Me sinto lisonjeado e agradecido pelo reconhecimento do trabalho.

 

ATOS E FATOS- E como tudo começou, o início dessa trajetória?

DJALMA RODRIGUES- Começou de forma casual e não no jornalismo de texto, mas no radialismo. Tinha 16 anos e fui passar férias em Cururupu. Lá o funcionário público federal Flávio Picanço, o Neto, dirigia o Serviço de Divulgação Voz Alvorada (SEDAVA) e o cinema da cidade. Era sistema de voz com alto-falantes instalados na parte mais alta da cidade. A SEDAVA ficava defronte do Fórum e à noite, nós, adolescentes em férias ali nos reuníamos para bater papo. Lembro que numa segunda-feira, o Homero chega esbaforido:

Carteira de apresentador, em Cururupu, aos 16 anos

-Djalma! Djalma! A SEDAVA está escolhendo locutor através de teste, para anunciar os filmes e para o programa de notícias! Vamos lá, tu falas bem, essa vaga é tua. Vamos lá, cara!

Fiquei reticente, mas o resto da rapaziada deu o empurrão derradeiro. O Neto então me entregou dois textos. Fui aprovado. Tinha apenas três concorrentes. No dia seguinte estava fazendo a leitura de chamada dos filmes e apresentando o noticiário de meio dia, e produziram um programa “Recanto Musical da Saudade”, no final das tardes de terça-feira. Também fazia entrevistas. Virei celebridade. Mas todos usavam nomes artísticos. O meu era Richard Cooper. Às vezes era apresentado fora do local de trabalho e, pelo meu perfil de garoto, ninguém acreditava. Passei a receber visitas no estúdio, muita gente querendo conhecer o Richard Cooper. O Francisco Pestana, ex-prefeito de Cururupu, fazia parte da equipe. Além de locutor, era também operador de som. O ex-deputado estadual Alberto Franco foi bilheteiro no cinema e o ex-prefeito de Apicum –Açu, o Cláudio Cunha, também esteve lá.

Numa entrevista com Martinho da Vila, em 1987, para o Jornal de Hoje

ATOS E FATOS– E depois da SEDAVA?

DJALMA RODRIGUES – O período na SEDAVA foi curto, mas deixou muitas saudades. Retomei os estudos em São Luís e a vida fluiu normalmente. No final de 1977, deixei o Exército e voltei para Cururupu, onde passei algumas semana e depois, em São Luís, fui trabalhar na Casa Califórnia, no Canto da Fabril. Lembro de um episódio interessante. Um dos chefes cismou comigo, porque nas horas de folga eu gastava o tempo em leitura. Me reclamou uma vez e eu retruquei:

-Seu  Zé Irias, minha leitura não faz nenhum barulho, mas o baralho aí da turma, da qual o senhor faz parte, é uma conversa alta…

Entrei na linda tiro dele, mas o que me fez sair de lá e mergulhar de cabeça no jornalismo foi o Udes Cruz.

ATOS E FATOS – Como assim?

DJALMA RODRIGUES –Era final de 1979. Sempre que estava sem dinheiro para o almoço, recorria a uma cantina do O JORNAL, fundado pelos jornalistas Cordeiro Filho, Mauro Bezerra e pelo empresário Ruy Ilaino Coelho de Abreu. O superintendente era o Djard Ramos Martins. No início de uma tarde de quinta-feira, chego lá para lanchar. O Udes era um dos jornalistas bem destacados, assim como o Jersan Araújo, José Salim, Othelino Filho, Benedito Buzar, Eloy Cutrim, Aldir Dantas, Douglas Cunha, Samuel Filho, Batista do Lago e outros. Assim que me vê, ele vai logo dizendo

-O que tu andas lendo? Tenho trabalho pra ti e é agora, tem começar logo! Esse era o jeitão do Udes.

Disse que estava mergulhado em “Moleque Ricardo” de José Lins do Rego. Fiz apenas um lanche e ele me levou à sala do Mauro Bezerra.

-Doutor Mauro, esse é o Djalma, meu irmão! É quem pode ficar no lugar do revisor que está saindo. Esqueci o nome do revisor que saiu, mas nunca mais saí do jornalismo.

Entre a esposa,  a jornalista Elineusa e a filha, a acadêmica de Direito, Lívia

ATOS E FATOS- E como foi no O Jornal?

DJALMA RODRIGUES- Maravilhoso. Estava realizando um sonho, Fiquei na revisão na parte da tarde e depois me passaram para o turno noturno, o de maior responsabilidade, porque tinha que revisar a primeira página. Problemas como falta de energia elétrica ou pane no maquinário, faziam com que às vezes, fôssemos fechar o matutino somente pela manhã. Nada disso me afligia. Estava no lugar que escolhi. Foi meu colégio. Passei para a redação por uma questão de determinação. Numa noite, ligaram do Instituto Médico Legal, dizendo que bem defronte da UFMA jaziam dois cadáveres, resultado de um acidente com um Fusca. Não titubeei. Vi que a manchete que estava prevista era muito fraca. O Silvan Alves era fotógrafo e morava no Bairro de Fátima. Chamei o motorista e mandei apanhá-lo. Fui com ele ao local do acidente. O diretor do Colégio Santos, localizado no Anjo da Guarda e a secretária dele morreram após o veículo capotar.

Dei a manchete: “Professor e secretária morrem

                            em acidente defronte  à UFMA”.

O Jornal Pequeno, que se destacava em manchetes policiais, deu apenas uma notinha “De última hora”. Surpresa na redação no dia seguinte. Todos querendo saber quem foi o autor da matéria. Alguém disse que foi o irmão do Udes.

Como trabalhava à noite, só chegava no serviço à tarde. Fui recebido com tapete vermelho pela direção do jornal no dia seguinte. Minha situação mudou radicalmente. Lembro que o Aldir Dantas, o Eloy e o Salim foram logo dizendo que deveria ser transferido para a redação.  Mas não tinha revisor à noite. Passei então, por escolha própria, a fazer as rondas policiais aos domingos.

Com o juiz de Direito Sebastião Bonfim e o colega Nonato Reis

ATOS E FATOS –E para chegar ao setor político?

DJALMA RODRIGUES – Foi tudo muito rápido. Em 1980, O Jornal foi negociado com a família Bacelar, para integrar o Sistema Difusora de Comunicação. O Mauro Bezerra, que também era da Difusora, me delegou a função de editor de Economia.  Logo em seguida, decidiram montar um jornal em Imperatriz, o Jornal do Tocantins, para impulsionar a campanha de Luiz Rocha ao governo do Estado. Eu tinha apenas 22 anos de idade. O Mauro me escalou como editor, o Hildo Rocha, hoje deputado federal como diretor administrativo e o Silvan Alves como fotógrafo. Lá, foi contratado o Marcelo Rodrigues para a editoria de Esportes. O Iran de Jesus dos Passos Rodrigues, atualmente coordenador do curso de Letras da UEMA, chegou depois para reforçar a equipe, como repórter. Foi um grande sucesso, mas demorou pouco. Terminada a eleição o matutino foi vendido para o então prefeito, Ribamar Fiquene. Aí voltei para São Luís.

ATOS E FATOS- E como foi a volta para São Luís?

DJALMA RODRIGUES- Tenebrosa! Fiquei desempregado durante algum tempo, sobrevivendo de trabalhos sem vínculo com o Jornal Pequeno, porque o saudoso Ribamar Bogéa se sensibilizou com meu problema. Tinha um vale todo sábado. Eis que numa manhã de sábado, isso em meados de 1980, encontro com o Djard Martins, no Mercado Central. Ele gostava muito de mim, por conta da minha desenvoltura no O Jornal. Era Assessor Chefe do extinto Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE). Contei minha difícil situação. Ele determinou que estivesse na segunda-feira no órgão, levando minha Carteira Profissional.

Acho que na segunda-feira fui o primeiro quase funcionário a chegar, de tão aperreado e esperançoso que estava. Quando chegou, mandou chamar o Edilson Lins, Diretor Industrial, determinando que encaminhasse minha Carteira ao Departamento de Recursos Humanos, e que começaria a trabalhar imediatamente no Departamento de Revisão. (Ufa! Um alívio e tanto).

As portas continuaram a se abrir. No mesmo período fui chamado para trabalhar no período noturno na revisão do jornal O Estado do Maranhão. Interessante, que no Estado, certa vez, o Renato Sousa, repórter policial, havia viajado. Alguém disse que o revisor da noite era também repórter policial. O Osmar chefe da Revisão do matutino, foi bater no SIOGE, me pedindo para esquecer a revisão naquele dia, mas que fizesse a ronda policial.

Só pedi que o carro fosse me apanhar no SIOGE. Assim foi feito. O fotógrafo era o Diniz, hoje residente em Cururupu. Havia um conflito de terras na área do bairro João de Deus. Chegamos na hora de um tiroteio. O Diniz, perfeito tecnicamente e muito corajoso, subiu na carroçaria de uma caminhonete e fez fotos incríveis, inclusive uma em que um ancião está como um facão em riste contra um cidadão que empunha uma escopeta. Quem reivindicava a posse da área e tentava desalojar os moradores era um senhor de nome Benedito Reis Pinheiro (já falecido). Pelo que sei essa questão nunca chegou ao final na esfera jurídica.

Chegamos no começo da noite e fui redigir a matéria. Seis laudas. Com fotos, é suficiente para uma página inteira. O editor-chefe do O Estado era o Adalberto Areias, com quem iria trabalhar posteriormente no Jornal de Hoje, perguntou ao Martins, secretário de redação, qual seria a manchete. O Jornal era mais político do que policial. Estava tudo fraco, conforme escutava enquanto dava os toques finais da minha matéria.

Martins chega na minha escrivaninha, começa a ler o material e olhar as fotos e sai gritando feito um louco na redação:

 

-Areias! Areias! Chefe Areias! Aqui está a salvação da lavoura. É manchete pra ser até internacional! Muito boa! Muito boa! Olha aqui.

Depois dessa fiz outras rondas e o Areias elaborou um projeto para “O Estado na versão vespertina”, focando exclusivamente na área policial, para que eu fosse o editor. Vibrei com a história, porque daria tempo. Trabalhava no SIOGE pela manhã e poderia cuidar do novo projeto à tarde.

Entrevistando o jornalista e escritor Benedito Buzar, na Rádio Capital

ATOS e FATOS-E o que aconteceu para não dar certo?

DJALMA RODRIGUES- Não deu certo porque tive uma nova e bela surpresa. O Djard Ramos Martins mandou me chamar para dizer que eu iria substituir o grande jornalista poeta e escritor Herbeth de Jesus Santos na chefia do Departamento de Revisão. Já trabalhávamos juntos. Ele havia concluído o curso de Comunicação Social na UFMA e foi transferido para a Secretaria de Administração. Chefia significa dedicação exclusiva e assim decidi. Quando termina o governo de João Castelo e assume Luiz Rocha, poderia ter continuado, porque o presidente que assumiu, o Francisco Camelo, pediu que ficasse. Mas o Carlos Braide, pai do prefeito Eduardo, meu amigo, havia assumido a Secretaria de Trabalho e Ação Social e me convidou para assessorá-lo. Fiquei lá até o início do governo de Lobão. A convite do saudoso Raimundo Assub, ingressei na Câmara Municipal, em 1986, e fui diretor de Comunicação durante 21 anos consecutivos. Era uma loucura! Saí de um lugar para outro, almoçava e jantava fora de hora. Mas sempre gostei dessa vida agitada. Feriado pra mim, até hoje, é uma tortura, por conta do tédio.

ATOS e FATOS –E quanto à história do JORNAL DE HOJE, que tem até grupo na rede social e onde seu nome é bastante mencionado?

DJALMA RODRIGUES- Uma das páginas mais importantes da minha vida profissional. Se O JORNAL foi o colégio, JORNAL DE HOJE foi a faculdade. Veja que já havia dirigido até matutino, ingressei no JORNAL DE HOJE como repórter policial. Isso porque o responsável pela área, em 1982, era o Ruy Barbosa Moreira Neto (já falecido). O editor era o Walter Rodrigues, de saudosa memória. Uma noite, havia ocorrido um crime bárbaro no Diamante e o Ruy se desentendeu com o Walter. Nesse período eu residia num pensionato na Magalhaes de Almeida e o jornal funcionava na Rua do Ribeirão. O Udes Cruz mais uma vez entra de forma decisiva na minha vida. Foi lá, me contou a história e pediu que fizesse a cobertura. Fiz a matéria. Estava sem trabalho e um mês depois assumi o lugar do Ruy.

Bate papo com o saudoso Sálvio Dino, que foi jornalista, escritor, deputado estadual e membro da Academia Maranhense de Letras

ATOS e FATOS- E Como foi depois?..

DJALMA RODRIGUES- No JORNAL DE HOJE, projeto do Cordeiro Filho, exerci todas as funções dentro de uma redação. Se contar aqui os pormenores, vai ser o jornal inteiro. Ali era um celeiro de bambas. Vou citar alguns nomes e me constranger depois por alguns esquecimentos: Teve um diretor de Redação de nome D. Campos, um cobra no jornalismo, depois, veio o Adalberto Areias, que já me conhecia do O Estado. O D. Campos passou a ler meus textos policiais e disse para o Cordeiro Filho que me queria como seu adjunto, destacando que escrevia com elegância, mesmo matéria de violência. Achou meu estilo diferenciado. A Francisca já exercia a função de secretária.

Mas vou citar aqui alguns nomes dos componentes daquela poderosa equipe: Bernardo Almeida, Jersan Araújo, Udes Cruz tinha uma das mais badaladas colunas políticas, (Informes UC), Samuel Filho, Régis Marques, Adenis Matias, Gil Maranhão, Manoel dos Santos Neto, Sidney Pereira, Nonato Reis, Zé Cirilo, Américo Azevedo, Othelino Filho, Eloy Cutrim, Cardosinho, Marinaldo Gonçalves, Silvia Moscoso e Valderina Silveira na redação. Na equipe de fotografia, lembro de Cavalcante, Biaman Prado, Biné Moraes, Almir Pinheiro e Serra. A equipe de esportes era outro grupo de feras: Geraldo Castro, José de Oliveira Ramos, Albino Soeiro e Anacleto Araújo. Time de peso, que marcou época no jornalismo maranhense. Depois, passaram por lá, a Waldirene Oliveira, o Décio Sá, a Walkiria Santana e o Waldemar Ter e o irmão dele, o Antonio José.

Pois bem, fiquei algum tempo como adjunto do editor, até que um dia, o Cordeiro Filho me diz assim de bate pronto:

-Falei com o D. Campos, tu vais agora fazer política. A partir de amanhã. Recusei na hora, sob o argumento de que não entendia patavina de política. Ele replicou, afirmando que quando havia começado na polícia, também havia partido do zero. Ficou aquele impasse. O Bernardo ouviu tudo calado e depois me chamou no canto da redação me aconselhando a aceitar a empreitada. Disse que aquilo era uma prova de confiabilidade no meu trabalho e que me ajudaria logo no início.

A Assembleia Legislativa funcionava na Rua do Egito e a Câmara Municipal na Praça João Lisboa. As sessões eram vespertinas. Saía da Assembleia e acompanhava o final da sessão da Câmara. Deu tudo certo. Até que um dia acabei indo substituir o Areias como editor. Quem assumiu a função de editor de política foi o Othelino Filho. Certa noite, estava fechando o jornal com o Bernardo Almeida, que era o editorialista. Disse que estava me sentindo realizado, por dividir local de trabalho de quem era fã. Ele disse que aquele tipo de conversa deveria ser em outro ambiente. Foi a senha para uma noitada regada a muita cerveja e um bate papo daqueles que a gente nunca esquece.

O JORNAL DE HOJE foi i fundado em julho de 1981 e suas máquinas e a redação silenciaram completamente em 1994. Fazemos encontro do grupo anualmente, o último foi no condomínio onde resido, no Turu. Mandei confeccionar um painel com as principais edições. O Cordeiro Filho, quando viu, foi às lágrimas. Uma fase interessante, muito emocionante e que deixou saudades.

Com o grupo de jornalistas que integraram o lendário Jornal de Hoje

ATOS E FATOS- Mas teve passagens pelo Rádio aqui em São Luís?

DJALMA RODRIGUES- Sim! Interessantes, por sinal. Quando dirigia o Departamento de Comunicação da Câmara Municipal, o meu compadre Herbert de Jesus Pereira, o Betinho, que enfrenta problemas de saúde, me convidou para que apresentássemos, na Educadora, onde era uma espécie de faz tudo, um programa denominado “Resenha 560”. Das 22h à meia noite.

Topei na hora, mesmo tendo que levantar às 7h para levar a filha para o colégio e iniciar a longa jornada de trabalho. Logo logo se transformou num grande sucesso. Certa noite, estava entrevistando o então deputado federal Domingos Dutra, quando um ouvinte liga se identifica e diz que era do Amapá. Perguntei como estava s situação do prefeito, à época envolvido numa história de pedofilia, que deu até CPI e o ouvinte respondeu que era Amapá, capital do Amapá e não a cidade de Amapá do Maranhão e sentou a pua no grupo Sarney. O Márcio Jardim, que acompanhava o Dutra, levantou e começou a dar pulinhos e socos no ar. Por conta do tamanho da projeção da entrevista e o grande alcance.

Outra vez, o deputado Edivaldo Holanda (pai), se viu crivado de indagações de ouvintes. Ao final da entrevista, disse que custava a acreditar em tamanha audiência, por conta do horário. E me perguntou como aguantava aquele rojão, porque sabia que estava cedo no batente. Lhe respondi que era muito salutar, porque anteriormente, nós jornalistas, saíamos da redação e íamos direto para o bar.

ATOS E FATOS-E depois da Educadora?

DJALMA RODRIGUES-Olha, fiquei injuriado com o final do programa. Pouca gente sabe, mas não tínhamos salário. Era uma questão de amor. Mudou a direção e eu e o Betinho fomos descartados sem sequer um agradecimento. Muita gente ficou intrigada. Dias depois, recebi dois telefonemas. Do Gilson Araújo, que era o nosso operador de áudio na Educadora e tinha a mesma função na Rádio Capital e do Frank Matos, apresentador da Capital.

Ambos me disseram que o Luiz Rocha Filho, o Rochinha, um dos proprietário da emissora, queria conversar comigo. Afirmei que não tinha qualquer interesse em retornar à radiofonia. Insistiram tanto nos dias posteriores, que acabei indo.

Na conversa contei o episódio da Educadora e ele ressaltou que trabalharíamos em regime de parceria. Conseguiria os patrocinadores e o que conseguisse seria compartilhado. Confesso que sou péssimo em questões comerciais. Mesmo assim, fui apoiado por três patrocinadores. O programa “Notícias da Capital” explodiu em audiência. Teve dias, em que abordava um assunto e os telefones não paravam. Pressenti que tinha autoridades que ligava para debater o assunto e sugeria sutilmente para ser chamado. Fazia o convite no ar.

A coisa foi tão forte, que realizei uma coletiva, com colegas da Mirante AM, Educadora e Rádio São Luís, com o José Serra, quando este foi candidato a presidente da República. Entrevistei, também, o Eduardo Campos, então presidente nacional do PSB e que morreu tragicamente num acidente aéreo em Recife, o José Louzeiro, consagrado escritor maranhense, O Jackson Lago, João Castelo, presidentes do TJMA, TRE, TCE e muitas outras autoridades.

Entrevistei o Milton Cunha, esse grande carnavalesco nascido no Pará, mas que faz sucesso agora como comentarista de desfiles de escolas de samba no Rio de Janeiro na TV Globo e ele saiu dizendo que estava impressionado. Isso porque, ao longo da entrevista, muitos telefonemas. Dois deles lhe chamaram a atenção, uma aqui de Axixá e ele logo se lembrou da toada Bela Mocidade, que Alcione e Maria Bethânia gravaram. A outra ligação foi do município de Rio das Ostras.

Ao final, ele falou que somente o Maranhão pratica esse tipo de rádio, abrindo espaços para ouvintes. Sobre o programa em si, ele pediu uma cópia da gravação, destacando ser de alto nível e de muito bom gosto. A emissora entrou em crise financeira e fechou as portas. Radiofonia no Maranhão mudou radicalmente. Hoje se aluga um horário e se fala a baboseira que se quer, perdeu muito em termos de qualificação. Uma nova era, o que passou, passou, o que está chegando é completamente diferente.

ATOS E FATOS- Certo, vamos antão agora sobre o seu vínculo com o jornal ATOS E FATOS…

DJALMA RODRIGUES- O Jornal ATOS E FATOS        é como se fosse um sobrinho querido, um sobrinho amado. Eu e seu criador, o saudoso Udes Cruz, nos tratávamos como verdadeiros irmãos. ATOS E FATOS, surgiu em formato de revista com edição mensal, em 1984. Lembro até da capa. Uma charge em que Sarney e Cafeteira aparecem noivando. Sarney colocando a aliança em Cafeteira, caracterizado de noiva grávida. Por conta disso, Cafeteira rompeu uma amizade de longas datas com Udes. Interessante é que ele morreu como aliado de Sarney, depois de muitas décadas como adversário.

De revista, passou a formato de jornal, em meados dos anos 1990, com periodicidade semanal. No dia 17 de dezembro de 1997, Udes me lança o desafio: “Djalma, vamos botar o jornal diário?”.

-Vamos lá, Negão, por mim a gente dá o pontapé é agora. É dia de sexta-feira a gente pode começar-, respondi.

A redação era ali na Rua Henrique Leal, próximo ao Jornal Pequeno. Rumamos pra lá, no final da tarde e começamos a montar o matutino, em sistema quase artesanal. Tínhamos computadores, mas não havia Internet.

O jornal terminou a impressão exatamente às 4h da manhã. Eu, ele e o Jacaúna fomos comemorar no quiosque do  Nhozinho, no extinto abrigo da João Lisboa. Por lá amanhecemos e às 6h fomos para o Mercado Central. Alegres como criança que ganha presente em dia de Natal. Mandamos descer cervejas, comprei um uritinga e a proprietária do ambiente, Dona Maria prontamente preparou. Ficamos lá até às 11h, quando cada um foi para sua residência.

O jornal cresceu e me lembro de um episódio interessante. Certa dia uma amiga me conta uma história horripilante. Sobre o casal que havia assassinado brutalmente uma adolescente de 16 anos, após uma noite de orgias, na cidade de Cantanhede. Isso no dia anterior. Ligo pra delegacia da cidade e o plantonista me confirma.

A saudosa Racielle Olivas, esposa do Biaman Prado, era nossa fotógrafa. Pergunto a ela, se toparia ir comigo em Cantanhede e falo sobre o assunto. Ela vibrou. Liguei pro Udes e fiz a exposição, pedindo dinheiro pra gasolina e pro lanche. Ele nem conversou.

Rumamos para Cantanhede, no início da tarde. Fomos à delegacia, o casal tinha sido transferido para Itapecuru, porque corria risco de linchamento popular. Estivemos na casa da mãe da vítima, Ela estava quase não podendo falar, mas mesmo assim nos entregou uma foto da filha. Rumamos para a casa do pai da mulher acusada de participação do crime (o homem era forasteiro). Ele também nos deu foto da filha, além de haver mostrado a vestimenta suja de sangue.

Íamos para Itapecuru, mas um temporal nos impediu. Chegamos já noite em São Luís e abrimos a manchete sensacionalista: “Adolescente assassinada

                                                                               por casal após noite de orgia”.

ATOS E FATOS, virou coqueluche naquela região.

Udes Cruz faleceu. Pela força da Internet, o sistema em impressão gráfica perdeu força. Veja que   o Estado do Maranhão, com toda estrutura política e financeira do grupo Sarney, preferiu fechar. O ATOS E FATOS e outros matutinos, como Jornal Pequeno, Extra e O Imparcial, ainda prosseguem pela abnegação de seus proprietários, como é o caso da Nonata Marques, que come o pão que o diabo amassou, para não deixar que esse matutino deixe seus leitores na mão.

ATOS E FATOS- E sua Passagem pela FAMEM?

DJALMA RODRIGUES-Muito enriquecedora do ponto de vista do conhecimento sobre o municipalismo. Em 2005, o Hildo Rocha, com quem trabalhei lá em Imperatriz em 1980, no Jornal do Tocantins, era prefeito de Cantanhede, no segundo mandato. Me pede um encontro e relata que pretendia disputar a presidência da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (FAMEM). Disse-lhe que a melhor estratégia era tornar essa manifestação pública e articular uma estratégia na mídia. Ele topou.

Kim Lopes era diretor de jornalismo da TV Difusora. Liguei pra ele pedindo espaço no Bom Dia Maranhão, por ele apresentado. Sugeri que a entrevista deveria ter um cunho afetivo, porque o Hildo Rocha havia sido diretor da emissora, antes de ir para Imperatriz. A entrevista teve muita repercussão. Nos dias seguintes, elaborei uma grande marcha midiática, consegui espaço na TV e na Rádio Mirante, Rádios Educadora, Capital, São Luís e espaços nos jornais.

Minha vantagem é que sempre cultivei amigos em todos os outros órgãos de comunicação. Ele venceu e fez um belo trabalho. A FAMEM não era conhecida. Como consultor de Comunicação, conseguir com que ela ganhasse projeção. No final de sua gestão, me apresentou o Cleomar Tema como o candidato de sua predileção e do grupo. Fui conversar com o Tema e ele me transmitiu muita simpatia, muito carisma. Fiz o mesmo périplo. TV Difusora, TV Mirante, rádios e jornais.

O Tema, com seu trabalho e seu carisma, ajudou muito no fortalecimento da imagem da FAMEM. Marcha a Brasília, é um movimento anual dos prefeitos na Capital Federal, onde vão fazer reivindicações. A cada Marcha, elaborávamos um jornal. Criei o JORNAL DA FAMEM, com edição mensal, com espaço para todos os gestores municipais, sugeri ao Tema a criação da Medalha do Mérito Municipalista, Ribamar Fiquene, para homenagear aqueles que se destacam pelo fortalecimento do municipalismo. Ribamar Fiquene leva o nome da comenda porque foi ele o criador da entidade, em dezembro de 1985, quando era prefeito de Imperatriz. O Cleomar Tema realizou a solenidade, mas depois nunca mais ela foi realizada. Após a era Tema, com dois mandatos consecutivos, estive ainda com os ex-presidentes Raimundo Lisboa e Júnior Marreca. Tema voltou, completou três mandatos, não conseguiu a reeleição e fiquei lá até o início da atual gestão do Erlânio Xavier, com quem não tenho qualquer afinidade.

 

 

 

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