Filha de pescador de Cururupu vira reitora da UEMASUL

 A posse da professora Luciléa Gonçalves como reitora  na UMASUL (Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão), na quarta-feira (16), coroa a trajetória de uma mulher que dedica há 32 anos sua vida ao ensino de geografia nos níveis médio e superior.

Filha de um pescador que estudou até a 3ª série do ensino fundamental, Luciléa é professora da instituição desde 1990 —a universidade foi fundada em 2016 após ser desmembrada da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão).

“A família do meu pai era de irmãos pescadores. Meu avô também era, mas depois que os seis filhos começaram a pescar, ele virou comerciante. Meu pai vendia esse camarão no Pará”, conta Luciléa.

Foi com as viagens que o pai, Antônio Clemente, percebeu que um mundo novo poderia se abrir aos sete filhos. “Ele só estudou até a 3ª série do ensino fundamental, mas nessas viagens teve contato com o mundo da cidade”, conta.

Ao ver esse mundo ele decidiu se esforçar para colocar todos os sete filhos pra estudar. Hoje, somos todos formados em universidades federais [com exceção de um irmão, que formou-se em uma estadual]. Ele formou todos sustentados pela pesca e venda do camarão lá da Ilha de Peru.Luciléa Gonçalves, reitora da UEMASUL

Comunidade da Ilha de Peru, em Cururupu (MA): camarão pescado gera renda - Associação dos Nativos da Praia de Peru - Associação dos Nativos da Praia de Peru
Comunidade da Ilha de Peru, em Cururupu (MA): camarão pescado gera renda
O pai de Luciléa faleceu em agosto de 2014. Sua mãe, Laura Ferreira Lopes, de 86 anos, foi morar em São Luís após ficar viúva. “Mas sempre a visitamos”, diz.

Peleja para estudar

Estudar na ilha, à época, não era simples. Na comunidade onde morava existia apenas uma escola, que ensinava até a 4ª série do ensino fundamental (hoje 5º ano).

Para dar continuidade aos estudos, era preciso viajar até a sede da cidade, fora da ilha. Foi então que, aos 10 anos, Luciléa e a irmã deixaram a comunidade e mudaram-se para Cururupu.

“Fomos morar na casa de Joana Batista Dias, que era diretora da escola. Meu pai queria uma pessoa responsável. Já para o ensino médio foi preciso ir para São Luís, onde estudei em uma escola no centro histórico. Logo depois passei no vestibular da UFMA e fui cursar geografia”, lembra.

Reitora fez seu discurso de posse na quarta-feira - UEMASUL/Divulgação - UEMASUL/Divulgação
Reitora fez seu discurso de posse na quarta-feira

Imagem: UEMASUL/Divulgação

Em 1989 ela se formou na UFMA. No ano seguinte, passou na seleção da UEMA para trabalhar como professora substituta. Desde então, mora em Imperatriz (a 631 km de São Luís).

Além de ensinar nos cursos superiores, também era professora do ensino médio. “Trabalhava 40 horas na universidade e 20 horas na escola. Era manhã, tarde e noite, até que me aposentei do ensino médio em 2020. Fiquei só na universidade, mas já ia me aposentar quando me chamaram para disputar o cargo”, conta.

A hoje reitora conta que a escolha de seu nome foi algo que não esperava. “Eu já tinha uma trajetória com administração de cursos, de centros acadêmicos e coordenação de polo. Sempre apostava na universidade pública, mas não esperava ser chamada. Foi uma surpresa”, explica.

O convite foi feito pela então vice-reitora Lilian Castelo Branco, que representava um grupo de professores da universidade que queria a candidatura de Lucélia.

“Falaram que, pela trajetória que eu tinha, por ser mulher, seria importante me candidatar. Acho que isso veio a coroar toda uma trajetória na academia. Nunca tive o objetivo de ser reitora, mas fomos e ganhamos a eleição”, relata.

Na chapa, além dela, também foi eleita a vice que a chamou para concorrer: Lilian Castelo Branco de Lima.

Para mim, foi uma conquista de extrema importância que veio a coroar minha trajetória de trabalho, mostrar a força da mulher dentro da UEMASUL. Desde a fundação, foram duas mulheres reitoras; e eu fui a primeira eleita. Vi como era querida aqui dentro.Luciléa Gonçalves, reitora da UEMASUL

Por fim, a reitora afirma que tudo que enfrentou valeu a pena. “Hoje é muito mais fácil estudar, houve uma interiorização do ensino superior. A nossa universidade já tem três campi. Em Cururupu já teve curso de formação de professor. Antes as coisas eram muito mais difíceis, a comunicação e o transporte eram precários”, finaliza.

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