() João Melo e Sousa Bentivi (*)
Essa matéria estou escrevendo somente para mim e espero que ninguém leia, inclusive porque ninguém pediu a minha opinião e, melhor ainda, nunca vendi a minha opinião. Simples: ninguém pediu e eu não quero dar.
Tentarei ser o mais imparcial que eu puder e do mesmo modo que ninguém solicitou a minha opinião, não tenho nenhuma informação privilegiada de nenhuma dessas novas lideranças políticas do Maranhão. A minha desimportância me envolve em uma sacrossanta paz.
O Dino tem formação jurídica, política, acadêmica e muita esperteza. Quando deixou a toga o fez dentro da absoluta segurança de que seria eleito, independente do caráter ético de sua campanha, inclusive alguém pode apontar suspeitas de incorreções, mas um detalhe é o fundamental: a campanha foi aprovada pela Justiça Eleitoral. Correta, lídima e honesta. Pronto.
Na reeleição da senhora Roseana, em 2010, o pole-position da oposição era o Jackson e Dino tinha certeza de que o adversário real era o Jackson: não teve nem pena, nem ética e nem dó do velho líder. Muitos acham que essa traição antecipou a sua viagem para eternidade.
Em 2014, tudo conspirava para a felicidade do Dino e, nesse particular, o seu melhor aliado foi a Roseana: governo pífio, aliados descontentes e, numa crueldade, Roseana deixou o Lobinho em uma solidão tamanha, que até hoje o Lobinho não encontrou o caminho de casa. A traição ao Lobinho e a vitória de Dino são vasos comunicantes que dependeram da senhora Roseana.
Pelo sim, ou pelo não, o governo Dino deu um presentaço para a agora ex-governadora: disse para o mundo que o governo da senhora Roseana foi bom, correto e honesto. Roseana tem nota dez, no parâmetro ficha limpa. Dou um doce para quem encontrar uma só vírgula que demonstre uma só inconformidade ou reclamação do Dino, quer com a senhora Roseana, quer com o seu pai, o senador Sarney.
O único que recebeu perseguição foi o Ricardo Murad. Estranho, não é? Como o Ricardo era só um secretário, por que somente ele foi perseguido? Dá até a impressão de que Dino e Roseana nunca foram adversários, mas aliados, desde a primeira infância. Impressão boba, decerto.
Chega-se a 2018 e a oposição ao Dino se prepara para o pleito. Dino, então, exercita toda esperteza política. O seu exército amestrado colocou todas as armadilhas no meio das oposições e ocorreu o que Dino sonhou e programou: ele apontou e determinou o adversário dos seus sonhos. Roseana.
Sabia Dino que, se não tivesse um terceiro nome viável, ele estaria concorrendo, não contra Roseana, porém contra um adversário fictício: o sarneisismo. Informo aos descuidados e inocentes que o sarneisismo, como força hegemônica, morreu com a senhora Roseana, em 2014, e, a propósito, quero informar que um maranhense, em 2006, em uma conversa com o senador Sarney, em Brasilia, vaticinou essa realidade: João Melo e Sousa Bentivi. O senador está vivo para confirmar.
Estamos em 2022, os personagens estão postos e os principais nominarei, outros não. São eles: Dino, a oposição e Bolsonaro. Bolsonaro estuda o Maranhão com microscópio e o Maranhão é um dos seus maiores objetivos.
Dino, agora o mais importante aluno do senador Sarney, está cumprindo a lição: dividir a oposição para reinar e, caso consiga, terá, pelo menos, mais 20 anos de domínio absoluto. Esperteza não lhe falta.
A oposição tem todas as potencialidades, mas tem excesso de vaidade e pouca inteligência. Peço desculpas a mim mesmo, e para a minha seriedade, por não ter coragem de dizer tudo o que penso da oposição e não é pela oposição que faço isso, mas simplesmente pela minha coerência: não posso fazer o jogo do inimigo.
E o Bolsonaro? Fará o quê? São milhões de eleitores bolsonaristas, esperando quem lhes aponte o caminho. São dezenas de possíveis lideranças, mas não há nenhum comando aglutinador (espero, do fundo do meu coração, estar enganado e falando bobagem). A história da humanidade mostra que nunca um exército, sem comando, ganhou uma guerra. Pode até ganhar uma ou outra batalha.
O exército dinista (há, há, há: esquerdista tem raiva da palavra exército) tem comando e obediência, assim, ou a oposição tem juízo, ou o Dino será o novo imperador gonçalvino.
Na política, como dizia mamãe, estou por fora, como bolso de blusa, tanto que nem sei se ainda darei minha opinião, sobre a política maranhense e, como disse, no início, espero que ninguém leia este arrazoado.
Tenho dito.
(*) Médico otorrinolaringologista, legista, jornalista, advogado, professor universitário, músico, poeta, escritor e doutor em Administração, pela Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal.
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