Entrevista/ Vereador Chaguinhas –   “A corrupção no Brasil leva ao risco de retrocesso democrático”

Irrequieto e com uma forte atuação oposicionista na Câmara Municipal de São Luis, o vereador Francisco Chaguinhas (PP), está no exercício do terceiro mandato. No primeiro, em 2008, chegou  ao Legislativo Municipal a bordo de 3.974 votos, que foram multiplicados para 6.532 na reeleição, em 2012. Na eleição do ano passado houve um recuo. Ele obteve apenas  4.916 sufrágios e atribui essa redução a um conjunto de fatores, principalmente a falta de recursos na campanha e a tentativa de adversários em sepultá-lo politicamente.

Extremamente desenvolto, é o vereador que mais utiliza a tribuna. Contabiliza mais de 600 pronunciamentos em todo esse período. Nessa entrevista, deixa evidenciada  certa amargura com os rumos da política nacional, por conta da Lava Jato, do desinteresse de parlamentares de todas as esferas em trabalhar pelo povo e a falta de uma visão ampliada da classe para o equacionamento dos problemas.

Diz que a política é  um jogo do toma-lá-dá-cá, o que inviabiliza o desenvolvimento do País. Reclama a falta de um engajamento partidário sério que possa estabelecer uma forte discussão nacional. Destaca que os políticos usam partidos apenas como passaportes para a eleição, já que sequer conhecem os programas partidários.

Seu foco no parlamento é o idoso e fala as razões de sua preocupação para com a terceira idade. Veja abaixo a íntegra da entrevista:

Como é ser vereador em  São Luis?

Chaguinhas – A exemplo das demais câmara municipais do País, a de São Luis, por força da maioria de seus integrantes está muito mais  preocupada é em atender e seguir o Executivo. Isso leva a uma grande dificuldade, porque suga o oxigênio de alguns vereadores que seguem um alinhamento contrário.

Quando se leva um problema ao Executivo, o desdobramento é que muitas das vezes a gente nem se transforma em protagonista, porque o caso é levado para o futuro, pela falta de interesse e a sociedade é quem fica no prejuízo, porque acaba não sendo beneficiada com as nossas reivindicações. Mas a Câmara é e sempre será a caixa de ressonância da sociedade.

O parlamento é o duto, é o canal, por onde a democracia pulsa em sua plenitude, os debates têm que ser feitos e a oposição é o contraponto dessa democracia.

Nesse caso, o senhor se define como oposição?

 

Chaguinhas- Claro, todos  sabem que o vereador Chaguinhas é oposição ao prefeito Edivaldo Holanda Júnior. O secretário de Governo, o Lula Fylho, diz que a Oposição na Câmara cabe numa Kombi. Digo que ele está errado, porque, na realidade, ela cabe é num banquinho de teleférico.

A questão é que, pela avaliação  que se tem da atual administração municipal, ficar na oposição acaba sendo um alento, acaba sendo um atestado de competência e de independência.

Mas digo que não existe oposição no Brasil. Porque, quando se acaba uma eleição, aqueles que se elegeram com um discurso contrário ao chefe do Executivo acabam convergindo para a ante-sala do poder. Isso prejudica o próprio parlamento, que fica desfigurado, fica sem proposta, fica sem brilho, fica sem força.

Como o senhor se auto-avalia como componente da Câmara, em termos de produção legislativa?

 

Chaguinhas – Não faço avaliação de mim mesmo, mas a população tem acompanhado atentamente meu trabalho e tem dito que é positivo.  Apresentei, por exemplo, uma propositura, solicitando ao secretário de Planejamento, que juntamente com outros companheiros de equipe da administração municipal, fizesse uma força-tarefa, consistindo em aglutinar todos os requerimentos oriundos da Câmara, no que concerne a pedidos principalmente de infraestrutura, no sentido de  alocar recursos no PPA para  o atendimento dos pedidos.

É uma ação que exige a sensibilidade do poder público municipal. Estamos na Câmara como legítimos representantes da sociedade. Não é porque estamos rotulados como oposição, que devemos ter nossas propostas esquecidas, nossos requerimentos jogados na cesta de lixo. Mesmo  não tendo sido atendidos nas propostas, o povo está observando a nossa atuação, o nosso trabalhos, as nossas reivindicações.

 Há reflexoa da Lava Jato no Parlamento Municipal?

 

Chaguinhas – Diretamente, não, mas não deixa de ter.  Quando você vê um País em que 30 por cento de seus congressistas estão arrolados em processos no Supremo Tribunal Federal, em que o presidente da República, ministros, empresários, e parlamentares sendo denunciados na Lava Jato, com repercussão internacional, isso provoca sequelas em toda a classe política.

Basta  observar que numa jovem democracia, de menos de 30 anos, tivemos dois presidentes cassados. O Collor de Mello e a Dilma.  Estamos ainda numa democracia em solavancos. Isso requer um Parlamento forte e respeitado e isso nós ainda não temos.

Corremos o risco de um retrocesso democrático?

 

 Chaguinhas –Com toda certeza. Em termos de política, passamos por uma fase de muita contradição. Veja você, que aqueles que enfrentaram a Ditadura, que foram para as ruas bradar por eleições diretas e que depois foram os protagonistas do poder, e foram defenestrados por corrupção, estão agora desestabilizar o País, exigindo eleições diretas num momento de delicada transição.

Isso é um verdadeiro desserviço para o País. Ele estiveram lá, provocaram um rombo monumental nos cofres da Nação, pilharam as nossas reservas, institucionalizaram a roubalheira e a corrupção e agora estão querendo impedir o presidente Temer de governar e de levar a frente as reformas que podem dar um alento ao País.

Digo que há um claro risco de retrocesso democrático e isso preocupa muito. É preciso ter responsabilidade para se fazer política no Brasil, num momento extremamente delicado como o atual.

O senhor está angustiado com os rumos do País?

Chaguinhas – Não digo angustiado, mas muito preocupado. O País não avançou durante todo esse período após a redemocratização.  De lá pra cá, o que se tem de positivo foram o Plano Real, instituído por Fernando Henrique Cardoso, que estancou uma inflação galopante, uma inflação que superava os 50%.

E os governos do PT?

 Chaguinhas – Os números falam por si. Estamos com uma horda de 14 milhões de desempregados, uma grande  legião de esfomeados, com os índices mostrando altas taxas de analfabetos, de prostituição, de drogados, de violência e, enfim, estamos mergulhados num mar de problemas. Esse foi o legado dos governos de um partido que prometeu o paraíso na terra e deixou o Brasil num verdadeiro inferno. E é esse mesmo grupo que tenta inviabilizar o país com movimentos pelas diretas e pelo afastamento do presidente.

 

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