E-mail pra Dona Bibi

Ei, fofura, muito bom dia! Espero que estas poucas e mal traçadas venham a encontra-la na santa paz do senhor por aí. Por estas bandas, Bibi, a temperatura é de alta ebulição, principalmente no que diz respeito ao assassinato do jornalista Décio Sá.

O pistoleiro Jhonatan Silva Sousa disse em depoimento que o “serviço” teria sido feito a pedido do deputado Raimundo Cutrim, ex-secretário de Segurança. Dá para imaginar daí, minha fofa o resultado dessa declaração. São Luís está em clima de alta tensão.

Para piorar a coisa, dois policiais da Superintendência de Investigações Criminais, bastante ligados ao agiota Júnior Bolinha, principal arquiteto do assassinato do jornalista, foram afastados. Um deles é irmão do delegado Sebastião Justino, que foi homem de  confiança de Cutrim quando este foi secretário.

Como disse o superintendente de Polícia da Capital, delegado Sebastião Uchôa, a sociedade ainda terá muitas surpresas pela frente no que se relaciona à morte de Décio Sá. Nos bastidores, Bibi, as surpresas começam a se dissipar.

Nos corredores da própria Secretaria de Segurança, neguinha cita um delegado da Polícia Federal, como nome de santo homenageado nesse período, outro da Polícia Civil e até um juiz de direito de comarca do interior, como envolvidos na história macabra.

Olha, cidadã, tua netinha foi lá no grupo de tambor de crioula, no Colégio São Vicente de Paulo. Matou a pau.  Ela e toda a turma. Foi o grupo mais aplaudido. Interessante é que havia pais e mães, no afã de filmar e fotografar os filhotes, quase atrapalhando a evolução da garotada. A Elineusa estava nessa situação. Deixemos essa pimpolha de lado e vamos às mais interessantes da semana.

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O assunto predominante ainda é a prisão dos envolvidos na morte de Décio Sá e suas consequências. Existe a ramificação com a agiotagem no interior, envolvendo prefeitos.

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Até agora, se sabe que a Polícia está de posse de 37 talonários de cheques de prefeitos de várias regiões. Não deu nome de nenyum deles, o que só fará quando terminarem as investigações.

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O problema é que no interior, adversários dos prefeitos se aproveitam e espalham que os ocupantes do cargo estão na relação. Um alvoroço daqueles. Só tu vendo.

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O prefeito da cidade de Arari, Leão Santos, irmão do Aziz enviou nota de esclarecimento sobre informações que estão sendo veiculadas na imprensa sobre alguns cheques encontrados na residência de pessoas ligadas ao assassinato do jornalista Décio Sá.

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Leão Santos esclareceu na nota que a Prefeitura nunca emitiu cheques sem fundos para nenhuma pessoa em seis anos de administração e que não esteve envolvido em crimes de agiotagem.

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Estranhei essa história o Leão, que quando o conheci, lá pelo final da década de 1970, era proprietário de uma agência de caderneta de poupança, a Credimus, que fez muito sucesso em São Luís.

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Ainda sobre essa história do Raimundo Cutrim envolvido na morte do Décio Sá, isso causa estranheza em todo mundo por aqui, morena, porque o homem se projetou no Estado exatamente dando combate ao crime organizado.

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Lembro como se fosse hoje, Era  maio de 1997, numa ensolarada manhã de domingo, quando o delegado Stênio Mendonça foi executado a tiros na Litorânea, não muito distante de onde Décio Sá também foi morto.

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A viúva, Marília Mendonça, começou uma verdadeira peregrinação por órgãos de imprensa, denunciando o deputado Zé Gerardo, o delegado Luis Moura e o empresário Joaquim Lauristo como articuladores da morte do marido.

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Dois anos depois, o crime foi descoberto e apareceu o misto de empresário, agiota e marginal conhecido por Bel, como o principal articulador do assassinato do delegado.

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Bel e mais quatro comparsas foram presos dias depois, e levados  de maneira estranha para Santa Inês, numa madrugada. No povoado Barro Duro, o comboio da Polícia foi interceptado e Bel e seu bando foram executados. Nenhum policial saiu ferido.

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O secretário de Segurança era o coronel reformado do Exército Jair Xexéu, um bom vivant que passava mais tempo tomando sol na praia do que na Secretaria de Segurança. Ele caiu logo após o extermínio do bando Bel e a governadora Roseana Sarney chamou Raimundo Cutrim, delegado federal que fazia um bom trabalho em Imperatriz;

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O clima esquentou e o então deputado estadual Jomar Fernandes propôs e conseguiu a criação da CPI do Crime Organizado. Estava em andamento, no Congresso Nacional a CPI do Narcotráfico, que tinha à frente os senadores Magno Malta, Moroni Torgan e a deputada Laura Carneiro, dentre outros congressistas.

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As sessões das duas CPIs, na Assembléia Legislativa, na Rua do Egito, eram eletrizantes. O povo mia para a porta, assistia num telão. Todas as emissoras de rádio AM, faziam transmissões ao vivo.

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O sujeito que tinha o nome envolvido já chegava quase condenado. A maioria saía algemada direto para o xadrez. Isso aconteceu com os delegados Luís Moura, Almir Macedo e Paulo Roberto Carvalho, além Xe vários policiais, incluindo a mulher de Luís Moura, Ilce Gabina.

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O deputado Hemetério Weba passou um mês preso na Polícia Federal, acusado de tráfico internacional de drogas. Juscelino Resende, ex-deputado, estava na AL e descobriu que seria preso, Fugiu e só reapareceu quando conseguiu um habeas corpus.

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O agito era grande e o então secretário de Segurança com sua equipe cuidavam das investigações. Quem era convocado, ao chegar na CPI se deparava com toda a vida esmiuçada, lembravam-lhe até dos amigos do primário. Um grande show midiático.

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O então deputado Zé Gerardo teve a prisão preventiva decretada. Fugiu. Foi para Brasília, onde foram apanhá-lo, chegou em São Luís parecendo um pop star. Na descida do avião, Cutrim logo à frente e  os outros policiais atrás, como se ele representasse grande perigo estando algemado.

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Chico Caíca, braço direito de Zé Gerardo, havia rompido e conseguiu se eleger deputado. Enganaram-no, garantindo-lhe ajuda caso denunciasseo antigo patrão. Topou a parada. Acabou na cadeia e sem mandato.

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Esse foi o clima no final de 1999 no Maranhão. Isso sem se falar em figuras de menor importância que acabaram na cadeia, tendo como principal protagonista um  salteador de nome Jorge Meres, que denunciou todo mundo e que posteriormente morreu à míngua em São Luís.

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Luis Moura e a mulher, que haviam sido expulsos da Polícia, retornaram com direito a salários retroativos, a exemplo de Almir Macedo. Zé Gerardo, que era empresário de transporte coletivo, foi indenizado e hoje vive como um burguês, enquanto Raimundo Cutrim, atravessa um grande inferno astral.

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Bem, morena, com essa, teu pretinho  fica por aqui, garantindo que retorna na próxima semana, se Deus quiser. E ele quer, porque ele é bom.

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Beijão do filhote amado!
Djalma

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