Morte de Décio Sá provoca crise entre Governo e Assembléia Legislativa

A rota de colisão entre Governo e Legislativo começou a ser traçada desde o vazamento do depoimento do pistoleiro Jhonatan Silva Sousa, executor do jornalista Décio Sá, na noite de 23 de abril deste ano, no restaurante Estrela do Mar, na Avenida Litorânea. No depoimento, o matador de aluguel citou o deputado Raimundo Cutrim (PSD),  como um dos mandantes do crime.

A estrada para o choque entre os dois poderes estava pavimentada a partir daí. Na sessão desta terça-feira (26), Cutrim foi o centro das atenções na Assembléia Legislativa, ao proferir um bombástico discurso, onde chamou o secretário de Segurança,  Aluísio Mendes de  “moleque travestido de secretário” e “papagaio ensaiado”.

“Não sou homem de mandar recado, de mandar fazer. Agora, vem um moleque travestido de secretário querer me desmoralizar? Ele não tem condições de ser nem faxineiro, quanto mais secretário”, disparou.

Ele questionou a forma como o pistoleiro se refere ao seu nome. “É muito estranho que no depoimento esse pistoleiro se refira a mim como Raimundo Cutrim, porque eu nunca ouvi ninguém me chamando de Raimundo Cutrim, é sempre doutor Cutrim, ou secretário”, afirmou, insinuando que houve manipulação no interrogatório.

Para completar, o presidente da Assembleia Legislativa, Arnaldo Melo, informou que determinou à Procuradoria Jurídica da Casa que faça um documento para mostrar a posição do Poder em relação as acusações que estão sendo lançadas contra o deputado Raimundo Cutrim.

“Queremos que a investigação se aprofunde, mas temos a plena convicção da inocência de Vossa excelência”, disse o deputado Arnaldo Melo, após deixar claro que não aceita que um membro do Legislativo seja execrado publicamente como vem sendo feito com Cutrim.

Manoel Ribeiro, que também já foi presidente da assembleia, lembrou que desde quinta-feira que o colega Arnaldo Melo havia lhe informado sobre as providências que estava tomando em defesa de Cutrim. Ele também foi solidário com o ex-secretário de Segurança Pública.

Tatá Milhomem, que já dirigiu a Casa, saiu também em defesa do colega parlamentar e lembrou que a folha dele como policial mostra sua seriedade.

A reação da Assembleia Legislativa pode gerar uma crise com o Executivo, pois ficou bem claro que o parlamento não aceitará que um membro seu seja atingido ou colocado sob suspeição.

O problema é que Aluísio Mendes é, hoje, o que Raimundo Cutrim foi durante quase 10 anos para os governos estaduais,  alinhados ao grupo Sarney. Era um homem de extrema confiança, que conduziu as investigações durante a  eletrizante CPI do Crime Organizado em 1999, em que os então deputados estaduais Zé Gerardo e Chico Caíca e os delegados Luis Moura, Almir Macedo e Paulo Roberto Carvalho acabaram saindo algemados da AL para a cadeia.

Aluísio Mendes, como é público e notório, chegou ao Maranhão graças à sua ligação com o senador Sarney. Foi o responsável pela montagem do Grupo Tático Aéreo – força de elite  do sistema de segurança – e foi secretário adjunto de Cutrim.

Quando Raimundo Cutrim se reelegeu deputado estadual para o segundo mandato, almejava reornar à Secretaria de Segurança, mas foi substituído por Aluísio e mostrou seu descontentamento em sucessivos pronunciamentos da tribuna da AL, chamando o antigo auxiliar de inoperante e incompetente.

No pronunciamento desta terça-feira, foi mais incisivo, menos elegante e mostrou que lhe faltou controle emocional para administrar essa crise em sua vida. Resta agora saber os desdobramentos dessa cisão entre integrantes de um mesmo grupo político.

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