Marina Silva, a Rainha da Selva, quer criar uma política sem políticos. Não há nada de novo nisso: fascistas de esquerda e direita também pensam assim

(Roberto Kenard)

Ano passado incluíram-me no facebook no grupo Nova Política.Quando a chamada de um dos textos do blog foi postada no grupo, um rapaz muito educadinho escreveu-me: elogiou meu texto e disse que havia orientação da nacional do movimento para que textos como o meu não fossem publicados. Perguntei-lhe a razão. Recebi como resposta: no grupo não eram aceitas críticas aos políticos porque isso era coisa da velha política.
O grupo, como sabem os informados, foi criado por Marina Silva, aquela senhora que chamo há 200 anos, portanto, antes de qualquer outro jornalista, de Rainha da Selva.
Mas, quem é essa senhora mesmo?
Peguemos apenas a biografia recente e mais a mão. Petista, chegou ao Ministério do Meio Ambiente. Sempre posou de imaculada, embora não tenha deixado o PT por condenar pelo menos um dos tantos escândalos de seus colegas de partido. Ao contrário, seguiu ministra mesmo após as incontestáveis denúncias do mensalão.
Deixou o PT por uma razão absolutamente pessoal: queria ser candidata a presidente da República. No PT jamais teria essa oportunidade. Os petistas não dão oportunidades a gente mais malandra do que eles, não é verdade?
Então ela se filiou ao PV para ser candidata a presidente. Teve como vice um milionário da área de perfumes e cosméticos e não um seringueiro. Não que eu seja contra milionários, seja de que área for. Ela que se passa por adversária de milionários e defensora dos pobres e oprimidos.
Fez uma campanha abstrata. Não era governo nem oposição, era candidata. Bom, quem procura anular a política e os políticos são os fascistas, de direita ou de esquerda. Marina era só a candidata defensora da sustentabilidade.
Ela não tem nada de tola, acreditem. Sabe que a classe média brasileira adora discursos vazios e quem faz política negando a política. Não custa lembrar de Fernando Collor. Esse senhor inventou que era caçador de marajás. Os informados sabíamos que ele não era caçador e conhecia somente marajás de filme. O resultado é conhecido: fundou uma República de marajás sem turbantes e elefantes, mas todos corruptos, a começar por ele.
Marina, a etérea, quer uma política sem políticos. Estamos aí a um passo do mais deslavado autoritarismo, anotem.
Ela quer um partido político que não seja partido político. Quer uma rede, ou como disse em discurso ontem em Brasília: que não seja arco, mas arco e flecha. E fez uma gracinha que vale por um ato falho: espera que a flecha não a atinga.
A rede de Marina não aceitará dinheiro de empresas sujas. Puxa, que bacana!, dirá um parvo. Eu não, eu pergunto: então, por que Marina, em 2010.aceitou a doação de mais de um milhão de reais da construtora Andrade Gutierrez? Ou o milhão de reais da Camargo Corrêa? E os 532 mil reais da Suzano Papel e Celulose?
Das duas, uma: ou Marina ficou pura desde hoje ou essas empresas são puras desde sempre.
Mas quando se trata de pureza, Marina Silva é um tanto desmemoriada. Na votação do Código Florestal, ela postou no twitter coisas, digamos, impensadas sobre o relator, deputado Aldo Rebelo. Ele foi informado e deu a resposta: fora procurado, quando presidente da Câmara dos Deputados. pela então ministra do Meio Ambiente. Quem era? Sim, Marina Silva. Pediu-lhe para abafar o escândalo de uns mognos apreendidos pelo Ibama que acabaram nas mãos de uma pessoa. Quem era a pessoa? Marido da Rainha da Selva e ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Ontem, em Brasília, proclamou, sobre o futuro partido:
“Nem oposição nem situação, nós precisamos de pessoas que tenham posição”.
Bonito, não? Para ser marineiro o sujeito só precisa de uma coisa simples: não ser contra nem a favor, muito pelo contrário. Isso é que é ter posição!
Ela tratou de explicar esse ter posição:
– Se Dilma fizer algo bom para o país, nossa posição será favorável. Se estiver contra o Código Florestal, nossa posição é contrária.
Ou seja, Dilma pode permitir todo o tipo de patifaria, desde que não fique contra o Código Florestal sonhado por Marina. Reparem bem, o Código Florestal de Marina Silva é aquele, como bem caracterizou Aldo Rebelo, respondendo a uma estudante, que protege cobras e pererecas sem levar em conta que na beira do rio há também o homem.
Para terminar, não posso deixar de comentar que Marina Silva jura de pés juntos que não quer fundar um partido para ser candidata a presidente da República. Isso é o de menos. É mesmo!
Bom, sem chance de ser candidata pelo PT, ela tratou de ir para o PV, com a única e exclusiva intenção de se candidatara presidente da República. Perdeu a eleição e procurou dar um golpe na direção do partido para ser a mandachuva. Deu com os burros n’água. Agora quer ser presidente, mas não está a criar um partido com essa intenção. Eu fico comovido, sério.
Acontece que essa senhora que se quer portadora da mudança, da pureza e da política sem política pratica o que há de mais velho e atrasado: fundar um partido para chamar de seu. Lembram do velhos coronéis? Pois é. Não é à toa que a sua maior amiguinha na empreitada seja a vereadora Heloísa Helena. Justamente. Como Marina, pulou fora do PT e fundou o PSOL para disputar… Isso mesmo, a Presidência da República.
Logo, logo – se o projeto não falhar – teremos a República Nova das Coronelas. Parece que nossa sorte é que pobres, cobras e pererecas não caem nesse conto de freira da selva.

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