Mulher que ganhou sozinha na loteria agora é gari

Mulher da loteria

‘Minha mãe sempre dizia que quem nasce para ser tatu tem que morrer cavocando’, brinca a auxiliar de serviços gerais Izabel Aparecida Teodoro ao se lembrar de quando acertou sozinha na loteria, em 1994. Há um ano e meio trabalhando na Prefeitura deBrotas (SP), a paranaense de 48 anos disse que não sente frustração por ter perdido tão rápido os cerca de 30 milhões de cruzeiros reais (moeda vigente na época, equivalente a R$ 364 mil hoje) que ganhou. Ela se considera uma pessoa de sorte, feliz e com muita inspiração para o trabalho. “Já realizei diversas tarefas em vários tipos de serviços, mas o que mais gosto é de varrer rua. Eu me sinto mais à vontade, gosto de ver o movimento de conversar com as pessoas”, disse.

Natural de Goioerê (PR), Izabel trabalha das 5h às 16h e ganha cerca de R$ 750 por mês. Mora no Jardim Taquaral com dois filhos e uma neta na casa que conseguiu comprar com o dinheiro que ganhou na loteria. Na época, ela trabalhava como empregada doméstica e acertou sozinha os seis números do jogo, que só conferiu cerca de 30 dias após o sorteio.

 

“Um amigo disse que eu nunca mais precisaria trabalhar, mas eu não tinha noção de quanto o valor do prêmio representava. Depois soube que dava para comprar uma grande fazenda, uma casa, um bom carro, viajar e fazer outras coisas. A princípio, comprei uma casa, porque eu morava no trabalho, e um carro. Gastei cerca de CR$ 10 milhões e pensei em guardar o restante”, contou.

A paranaense disse que não sabia como investir o dinheiro, por isso foi orientada pelo gerente do banco a aplicá-lo na poupança visando um melhor rendimento. Mas, com a mudança da moeda para Unidade Real de Valor (URV), que precedeu o real entre janeiro e junho de 1994, Izabel disse que perdeu dinheiro e decidiu investir o que sobrou em uma loja de roupas.

 

Ela alugou um ponto no bairro Bela Vista, mas o negócio não vingou. “Com os altos e baixos da economia e os valores de tudo oscilando, levei muito calote. Fui obrigada a baixar as portas. Um amigo ficou de vender o estoque para mim, mas ele sumiu e não vi mais a mercadoria nem o dinheiro”, relatou.

Adversidade
Apesar da intensidade da experiência, Izabel não se deixou abater e se concentrou no trabalho para garantir o sustento dos filhos. Fez de tudo um pouco: faxina, cuidou de idosos, cozinhou, foi cabeleireira e chegou até a trabalhar como cortadora de cana. Cerca de um ano e meio atrás, prestou concurso e passou a atuar na Secretaria de Serviços Gerais da Prefeitura.

Izabel contou que adora varrer as ruas da cidade, diferentemente de algumas amigas, que ficam intimidadas. A paranaense disse que nunca sofreu discriminação e que desempenha a sua tarefa com muito orgulho. Segundo ela, o maior trabalho é remover o lixo doméstico deixado nas lixeiras destinadas aos pedestres para ajudar a manter a cidade limpa. “A coleta passa a semana inteira, mas tem gente que perde o horário que o caminhão passa e faz isso. Dá uma certa revolta, acho que é uma falta de valorização com o trabalho da gente”, defendeu.

Ela disse também que não sente frustração por nada do que aconteceu e que encara a situação sem culpa. Para ela, a vida é assim: um dia se ganha e outro se perde. “Eu acho que sou uma pessoa de sorte, eu acreditei e ganhei. A minha mãe falava: ‘o que te condena é um pedaço de carne que você tem dentro da boca que chama língua’. Em alguns momentos de revolta, eu dizia: ‘um dia eu vou ficar rica, nem que eu tenha que ficar pobre de novo’. E não é que isso aconteceu. Eu poderia ter dito: ‘um dia eu vou ficar rica e continuar rica’”.

 

 

 

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