Cinco políticos do Maranhão receberam dinheiro de escravagistas para campanha

camilofigueiredo Repórter Brasil -Jornal Pequeno

 

DOAÇÕES SUJAS

Levantamento do portal Repórter Brasil aponta como beneficiários de fazendeiros que estão na ‘lista suja’ do trabalho escravo um deputado estadual, uma prefeita, uma ex-prefeita, uma vereadora e um vereador

Oswaldo Viviani

Levantamento inédito realizado pelo portal Repórter Brasil, publicado no dia 14, revela que cinco políticos maranhenses receberam, entre 2002 e 2012, doações de pessoas ou empresas que constam na “lista suja” do trabalho escravo, mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pela Secretaria Nacional Especial de Direitos Humanos. De acordo com a publicação, os políticos são o deputado estadual Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo (PSD); a prefeita de Açailândia Gleide Lima Santos (PMDB); a ex-prefeita de Tufilândia Marinalva Madeiro Neponuceno Sobrinho (PSB); a vereadora de Açailândia Maria de Fátima Silva Camelo (PSDB); e o vereador de Santa Luzia do Tide Gilson Fernandes Moreira da Rocha (PT).

O deputado Camilo Figueiredo recebeu, segundo o Repórter Brasil, R$ 11.651 na campanha para deputado estadual de 2002, e R$ 11.890 na campanha para o mesmo cargo em 2010. Ele foi eleito nos dois pleitos.

O dinheiro veio da Líder Agropecuária Ltda – empresa familiar da qual Camilo é sócio e que tem como uma de suas propriedades a Fazenda Bonfim, em Codó (a 291 quilômetros de São Luís).

Da Fazenda Bonfim foram resgatadas sete pessoas em condições análogas à de escravos, em março de 2012. Na fiscalização, uma ação conjunta – integrada por Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/MA), Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal (PF) – constatou-se, entre outras irregularidades, que a água consumida pelos trabalhadores era a mesma utilizada pelos animais da propriedade. Retirada de uma lagoa imunda, repleta de girinos, ela era acondicionada em pequenos potes de barro e consumida sem qualquer tratamento ou filtragem.

Os empregados tomavam banho nessa lagoa, e, como não havia instalações sanitárias, utilizavam o mato como banheiro. De acordo com o auditor fiscal Carlos Henrique da Silveira Oliveira, que coordenou a ação, todos estavam submetidos às mesmas condições degradantes, incluindo as crianças pequenas. Os trabalhadores resgatados cuidavam da limpeza do pasto e ficavam alojados em barracos feitos com palha. Não tinham carteira de trabalho assinada e não contavam com nenhum equipamento de proteção individual.

Na época, o deputado afirmou desconhecer as denúncias e disse que a fazenda era administrada por seu pai, Benedito Francisco da Silveira Figueiredo, o “Biné Figueiredo”, ex-prefeito de Codó. Biné, por sua vez, negou que fosse o administrador e alegou que não havia trabalhadores na propriedade, “apenas moradores”.

Em 2009, Camilo Figueiredo teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MA), por causa de irregularidades na arrecadação e gastos de recursos públicos. Assim mesmo, foi reeleito no ano seguinte.

A prefeita de Açailândia Gleide Lima Santos (PMDB) recebeu, na campanha para a Prefeitura do município em 2004, uma doação de R$ 7.903 do pecuarista José Egídio Quintal, que aparece na “lista suja” trabalho escravo com autuações reincidentes, em 2004 e 2008, por trabalho degradante em sua Fazenda Redenção. Gleide Santos não foi eleita em 2004, quando concorreu pelo DEM, mas voltou a disputar a Prefeitura em 2012, pelo PMDB, e elegeu-se.

Em 2008, na Fazenda Redenção, que engloba áreas conjugadas de José Egídio e de sua mulher Maria Cleuza Teixeira Lima, os trabalhadores resgatados em 2008 exerciam várias funções, desde o “roço de juquira” (que é a preparação do pasto para a pecuária extensiva) até a quebra de milho.

Eles dormiam numa casa de madeira sem instalações sanitárias. Também não tinham água potável. A água para beber, tomar banho e preparar as refeições vinha de um tanque enferrujado, segundo Paula Nunes, da Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) da 16ª Região, integrante do grupo móvel do MTE que fez a autuação.

A ex-prefeita de Tufilândia Marinalva Madeiro Neponuceno Sobrinho (PSB) recebeu, em 2012, segundo o Repórter Brasil, R$ 2.105 do pecuarista Roberto Barbosa de Souza, que consta na “lista suja” do MT por trabalho análogo à escravidão em sua Fazenda Barbosa (BR-222, Km 413, Santa Luzia do Tide). Marinalva – que em dezembro de 2007 foi presa pela Polícia Federal, na “Operação Rapina 1” – não se elegeu em 2012.

A vereadora de Açailândia Maria de Fátima Silva Camelo (PSDB) também recebeu doação do pecuarista José Egídio Quintal – R$ 1.581 na campanha de 2004, quando concorreu pelo DEM, ficando como suplente. Em 2012, Fátima Camelo foi eleita vereadora pelo PSDB.

Já o vereador de Santa Luzia do Tide Gilson Fernandes Moreira da Rocha (PT) recebeu, na campanha de 2004, R$ 1.581 do pecuarista Antônio Aprígio da Rocha, dono da Fazenda Barro Branco, em Santa Luzia, cujo nome vem sendo sistematicamente incluído na “lista suja” do trabalho escravo.

De acordo com o levantamento do Repórter Brasil, PTB, PMDB e PSD, vessa ordem, foram os três partidos que mais receberam dinheiro de escravagistas, entre 2002 e 2012.

Os dados referentes a todos os partidos e políticos do país podem ser acessados por meio do portal http://reporterbrasil.org.br

 

 

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