Em Pedrinhas, apenas um preso votou e em Dilma

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DIÓGENES CAMPANHA, DE SÃO PAULO

A 176ª seção da 90ª Zona Eleitoral do Maranhão, em São Luís, teve, provavelmente, o maior índice de abstenção do país: 97,9%.

Instalada no temido complexo penitenciário de Pedrinhas, a seção deveria ter recebido 48 detentos, mas só um apareceu para votar no último domingo (26).

O motivo foi a concorrência com o dia de visitas no presídio: presos consideraram a operação para levá-los das celas até a sala de votação “muito demorada” e preferiram continuar com as visitas.

“Eles não quiseram sair [das celas]. Disseram que passariam muito tempo longe e preferiram ficar com as famílias”, conta Ariston Apoliano, coordenador-executivo da Unidade de Monitoramento Carcerário do Tribunal de Justiça maranhense, que participou da organização do pleito.

Palco de rebeliões, fugas, guerra entre facções criminosas e 78 mortes desde o início de 2013, Pedrinhas exigiu uma logística complexa para a votação.

Por questão de segurança, presos do PCM (Primeiro Comando do Maranhão) e do Bonde dos 40, grupos rivais que atuam no presídio, não puderam votar juntos.

O plano era levar separadamente os integrantes de cada facção até a única urna, montada na CCPJ (Central de Custódia de Presos de Justiça), uma das oito unidades do complexo penitenciário.

O processo de triagem ainda iria dividi-los de acordo com o grau de periculosidade. O transporte de ida e volta entre a CCPJ e as outras prisões de Pedrinhas seria feito em carros com escolta. A rodovia BR-135 passa entre as unidades do complexo.

Segundo Apoliano, os detentos já haviam reclamado do processo no primeiro turno, quando também era dia de visita e apenas 12 dos 48 presos provisórios –como são chamados os que aguardam julgamento– foram votar.

Na segunda etapa, o boicote foi quase unânime. “A gente fez nossa parte e botou uma seção lá para garantir o direto deles. É uma pena que não teve o número que esperávamos”, diz o coordenador.

A urna eletrônica, no entanto, não ficou totalmente ociosa. Policiais da Força Nacional de Segurança que atuam em Pedrinhas e estavam fora de seus domicílios aproveitaram para fazer a justificativa eleitoral na seção da CCPJ.

No Brasil, apenas os presos provisórios, que ainda não foram julgados, têm direito a voto. Detentos condenados não podem votar no país.

VOTO ISOLADO

O único detento que aceitou sair da cela para votar no domingo escolheu Dilma Rousseff (PT) para presidente.

A petista já havia vencido o primeiro turno em Pedrinhas, com seis votos no dia 5 de outubro. Na ocasião, três detentos escolheram Marina Silva (PSB) e nenhum votou em Aécio Neves (PSDB), que perdeu até para os brancos (dois) e nulos (um)

 

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