Olá, minha gata, muito boa tarde! Desculpa pela falha da semana passada. Também pelo atraso é que, como sabes, teu pretinho completou 58 anos neste sábado e teve que receber dos compromissos da Páscoa, com visitas a familiares, grogue com
os vários Amigos para bebemorar a data. Aí já viu, né, o que rolou. No próximo domingo te darei detalhes. Semana Santa por aqui, cidadã, mudou
muito desde os tempos em que estavas em corpo e alma conosco. Pra
começar, não existe mais aquela história de se guardar a Sexta-Feira
da Paixão.
Lembro que me levava para assistir ao filme Paixão de Cristo, lá no
Cine Rex, no João Paulo, próximo ao quartel do Exército. Todo ano, a
mesma fita, já gasta pelo tempo, que sempre rompia no meio do filme.
Muitas mulheres se esbaldavam no choro, nos momentos do açoite e da
crucificação de Jesus.
Também não esqueço, Bibi, que desde a quinta-feira, não se podia fazer
barulho em casa, porque Jesus estava com dor de cabeça. Música no
rádio, nem pensar! Até as mulheres dos prostíbulos evitavam parceiros
na quinta e na sexta-feira.
Ninguém discutia, ninguém brigava, ninguém xingava. Era um silêncio
sepulcral na Sexta-Feira Santa. Nunca esqueci o saudoso Nhô, ralhando
com o Luisão e depois sapecou-lhe umas chibatadas nas costas, porque
ele ousou dedilhar a máquina datilográfica em plena Sexta-Feira da
Paixão. Ainda retrucou:
-Estou pecando te batendo, mas tu não pode fazer barulho num dia como este!
Agora, morena, Sexta-Feira Santa por aqui até parece domingo de
Carnaval. Bares e puteiros ficam tudo aberto, com música em som
elevado, mulheres se despindo e o grogue e drogas dando no meio da
canela. A polícia sempre registra elevado número de homicídios,
assaltos e todo tipo de crime em dia santificado como esse. Essa é a
nossa realidade agora aqui na Terra, minha morena.
Tive com teu bisneto, o Filipe. Nesse dia almocei com ele e com a
Tâmara. Ele não queria ir para escola, porque preferiu “passear com
meu vô”. A muito custo levamos o paquerrucho para a escola. É louco
por música. Foi só eu chegar e ele me levou para o quarto, me entregou
uma guitarra e ficou com o tambor. Tiramos um som daqueles. Só tu
vendo.
Bem gatinha, vamos agora às mais importantes da semana.
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Olha, cidadã, o clima político por aqui está em alta temperatura. Em
curso o processo de impeachment da presidente de Dilma. Para que saiba
como se faz política por aqui, te digo que uma das maiores virtudes
da rapaziada é á traição.
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Digo isso porque o PMDB, depois de 13 anos incrustado nos governos do
PT, decidiu romper num encontro em que os peemedebistas ainda gritavam
“Fora PT! Fora PT”. Uma verdadeira aula de oportunismo, cinismo e de
trairagem.
*
Isso é porque o vice-presidente almeja assumir o lugar da Dilma, caso
consigam cassar-lhe o mandato. Aí já viu, NE, o PMDB finalmente estará
no comando do País.
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Quem lê o que escrevo, pensa que sou petista. Nada disso! Sempre digo
que, saindo o PT e entrando o PMDB, estará sendo desalojada uma
quadrilha e assumindo uma gangue.
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O PT, na realidade, quase que institucionaliza a ladroagem, o assalto
aos cofres públicos. Basta ver o Petrolão, o Mensalão e agora a Lava
Jato. O presídio da Papuda, em Brasília, chegou a ser transformado
quase que num comitê de petistas ilustres, como o Zé Dirceu, Zé
Genoíno, João Paulo Cunha, Delúbio Soares e outros. Merece ser
defenestrado, porque arrasou o Brasil.
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Agora, Bibi, o PMDB assumir o poder é como deixar que macacos sejam
transformados em vigilantes do bananal. Só pra te lembrar, estariam
entregando o comando a figuras como o Renan Calheiros, o Eduardo Cunha
e o próprio Temer, todos envolvidos em maracutaias e às voltas com
processos no STF.
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Estamos fritos, minha gata. Naquela situação de que “se ficar o bicho
come, se correr o bicho pega. Ô sina a nossa! E não se vê solução a
curto prazo. Para que tenhas uma idéia, 30 por cento dos congressistas
brasileiros respondem a processo no STF. Cruz credo!
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Finalmente, tive acesso aos gastos dos deputados federais. Eles custam
aos nossos bolsos, R$ 1 bilhão ao ano, distribuídos da seguinte forma:
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Salário de R$ 33.763, auxílio-moradia de R$ 4.253 ou apartamento de
graça para morar, verba de R$ 92 mil para contratar até 25
funcionários, de R$ 30.416,80 a R$ 45.240,67 por mês para gastar com
alimentação, aluguel de veículo e escritório, divulgação do mandato,
entre outras despesas.
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Dois salários no primeiro e no último mês da legislatura como ajuda
de custo, ressarcimento de gastos com médicos. Esses são os principais
benefícios de um deputado federal brasileiro, que somam R$ 168,6 mil
por mês. Juntos, os 513 custam, em média, R$ 86 milhões ao
contribuinte todo mês. Ou R$ 1 bilhão por ano.
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Deu pra entender, fofura, como são bem tratados os nossos deputados. E
eles aumentam os próprios vencimentos e vantagens todos os anos. Isso
é sagrado para os nossos representantes. Mas quando se fala em
reajuste de salário do trabalhador, ah, o bicho pega.
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Eles argumentam que não pode ultrapassar determinada faixa, porque
pode quebrar a Previdência e provocar quebradeira nos cofres da
União. Interessante, né não? Uma equação meio doida, para quem gosta
de mordomia. Temos o Congresso mais caro, mais corrupto e mais
inoperante do Planeta.
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Vi aqui, no PH, que brasileiros que comprarem imóveis em Miami, nos
tempos da vaca gorda, estão loucos para se livrarem desses bens, por
conta da crise e da alta do dólar, que provoca reajuste quase que
diário de taxas de condomínios e de outros serviços.
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Os antigos novos ricos, que estão voltando para a pobreza, se deram
conta de que não podem mais ostentar o que não possuem. Falando na
relação Brasil Estados Unidos, costumo dizer que Miami é para
deslumbrados enquanto Nova Iorque é para a camada mais elitizada, mais
aculturada.
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Bem, minha fofa, com essa, teu pretinho vai ficando por aqui,
garantindo que estarei de volta no próximo domingo, se Deus quiser. E
ele quer, porque sempre foi bacana com esse teu pimpolho.
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Beijão do filhote que jamais deixará de te amar