EM BRASÍLIA, 17h…

 

*Osmar Gomes dos Santos 

Neste 7 de outubro o brasileiro vai às urnas para escolher seus representantes. A partir das 17h, horário de Brasília e da maior parte do país, o Brasil vai, literalmente, parar para acompanhar a apuração do resultado das eleições mais aguardadas dos últimos anos. Ao final do processo, alguns candidatos estarão festejando, outros não terão motivo para tanto, e, ainda, haverá aqueles para os quais a segunda-feira será o primeiro dia de uma acirrada disputa de segundo turno.

São dois processos eleitorais que correm em paralelo: o proporcional e o majoritário. No primeiro, dezenas de deputados – federais e estaduais, receberão as credenciais para representar o povo nas assembleias e na Câmara Federal. Já as eleições majoritárias, possibilitam ao eleitor escolher

presidente e governadores, que terão mandato de quatro anos, assim como a eleição de até dois senadores, estes últimos para os próximos oito anos.

Embora teçam críticas sobre a obrigatoriedade do voto, não resta qualquer dúvida que o dia das eleições se consolida como uma manifestação democrática, na qual os cidadãos têm o poder de escolher seus candidatos conforme suas convicções, livres de quaisquer amarras e limitações, como ocorria na primeira metade do século passado. Nossa democracia evoluiu e hoje possibilita um debate eleitoral amplo, inclusive no que tange à dita obrigatoriedade do voto.

Posições firmes fomentam debates país afora, alguns mais radicais, outros moderados, mas todos carregando o desejo e a esperança em um país melhor. Todos carregam o sentimento e soltam a voz em defesa de suas aspirações em ver um país que progrida e que leve o seu povo a reboque desse desenvolvimento. Faz uma semana, teci neste espaço alguns rabiscos sobre o “país do futuro” que não veio, mas que ainda há tempo para se colocar o primeiro tijolo dessa edificação. Não seria agora a oportunidade?

Neste domingo vamos às urnas confiantes. Para muitos, um ritual pragmático reproduzido há anos; para outros, será uma experiência nova. No clima de “Vasco x Flamengo”, tamanha a seriedade e rivalidade com que muitos encaram esse momento, entra em jogo um ritual único, como vestir roupas novas e ter um horário específico para votar. Alguns vão bem cedinho, enquanto outros chegam no “apagar das luzes”, mas cada um, a sua maneira, comparece para computar a esperança que carrega.

Embora existam algumas correntes que podem ser classificadas de radicais – o que na Europa se convencionou chamar de extrema direita – por aqui vemos que as forças ainda coexistem dentro de um salutar equilíbrio, visto que não há espaço para a manutenção de atitudes extremistas que transbordem do discurso para a prática, dada a capacidade de organização e mobilização social assegurados pela nossa democracia, com todas as suas particularidades e vicissitudes.

Os debates, mesmo os mais acalorados, são oportunos para consolidação do nosso processo democrático. A tendência é que após as eleições os ânimos voltem a se acalmar, na medida em que os embates políticos se arrefeçam. Isso é necessário, pois o Brasil precisa de unidade, os estados e municípios precisam de unidade. Sejam quais forem os eleitos, o sistema político deve  permanecer o mesmo, e deverá ser conduzido dentro de um pacto republicano.

Quanto aos mais exaltados, conclamo a fazer um exame de consciência e tomar, também, a via do equilíbrio. Dentro do dito Vasco x Flamengo democrático, ganhar e perder faz parte. Naturalmente seria bom que tivéssemos uma campanha limpa, sem mentiras e ofensas a adversários, como em grande parte do continente europeu, onde a campanha difamatória aos demais candidatos é vedada. Essa linha justifica meu pensamento de que em alguns pontos nossa democracia ainda precisa avançar.

Se haverá demasiada reeleição dos representantes ou renovação da maior parte das casas legislativas ou de governos estaduais é difícil prever. Mas a verdade é que qualquer que seja o resultado, ele precisa ser aceito por todos, principalmente pelos derrotados. Isso porque o resultado não reflete somente uma disputa de posições pessoais ou político-ideológicas, mas a vontade soberana da população, fator preponderante em um país que se queira democrático.

Intolerância não leva a nada, a não ser mais intolerância. Radicalismo não se combate com a mesma postura, que se utiliza das armas do próprio radicalismo como premissa para combater posições mais extremadas. Vide a África do Sul, onde o saudoso Mandela, meu ídolo incontestável, combateu as desigualdades de sua sociedade com ideias e atitudes equilibradas no sentido de se construir um país melhor para todos, sem distinção.

 

Convém reforçar, nunca é demais, que esta vontade soberana encontra respaldo em um sistema com altíssimo índice de confiabilidade, considerado por especialistas de vários países um dos mais seguros de todo o mundo: a nossa urna eletrônica. Como juiz eleitoral e membro substituto do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão que fui por vinte anos, ouso a dizer a prova de fraude e outras tentativas que possam burlar a livre escolha do eleitor. É um mecanismo seguro e confiável!

 

Domingo, 07 de outubro, quando o ponteiro bater cinco da tarde, inicia-se a fase de apuração dos sufrágios. Mas o cidadão deve se lembrar, porém, que seu compromisso com a democracia não se encerra com o fim das eleições, mas apenas se inicia um novo ciclo no qual o interesse público deve ser colocado em primeiro plano. É preciso exercer, de imediato, a cidadania participativa, acompanhando e fiscalizando os eleitos e deles reivindicar as melhorias necessárias. O país do futuro continua ali, a um passo do presente que hoje nos propomos a edificar.

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

 

 

 

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