NO HORIZONTE DA PONTA D’ AREIA

*Osmar Gomes dos Santos

Ah, quanto magnetismo impões tu aos olhares dos teus admiradores! Quanta beleza transportas nos mais belos cartões postais que retratam teus pouco mais de dois quilômetros de uma orla encantadora. Ah, Ponta D’areia, tão inexata quanto à Ilha de Upaon-Açu, banhada pelas turvas águas dos resistentes rios Bacanga e Anil, eternizada em cantos que transcendem a barreira do tempo.

Daquela ponta outrora vila, que abrigava poucas dezenas de moradores que viviam do extrativismo de mariscos e da fartura oferecida pelo mar. O ponto turístico descoberto ainda no início do século passado e que servia como opção de lazer para as famílias que se arriscavam nas travessias em pequenas embarcações que partiam do Bairro São Francisco ou da Avenida Beira Mar.

Recordo- me das histórias de amigos que diziam se aventurar a nado, partindo do São Francisco braçada a braçada para alcançar. A finalidade era aquela de praticamente todo jovem: poder desfrutar alguns instantes correndo atrás de uma bola de futebol.

Sua localização estratégica e privilegiada, que por sinal deu nome ao bairro, contribuiu para o rápido processo de urbanização, mais notadamente a partir da década de 1980, após a construção da Ponte José Sarney e das avenidas que passaram a interligar a parte nova à parte antiga da cidade.

O bairro passou a ganhar não apenas moradores, mas também frequentadores assíduos, que buscavam lugares como o saudoso restaurante Tia Maria, bem ao lado do imponente Iate Clube. A região também foi “point” da massa regueira, principalmente nos anos 90, que curtiam clubes históricos, como Toca da Praia, Natty Praia, Arena Show, Cajueiro e Creole Bar, alguns destes já após a virada do milênio.

Amantes da seresta e do bolero tinham assento cativo no Castelinho Leblon e algumas festas programadas no próprio Iate Clube, assim como os apreciadores da culinária maranhense que escolhiam a ‪Praça do Sol para encontrar os amigos, tomar uma cerveja gelada e saborear as delícias de nossa terra.

Hoje a região enfrenta um misto de saudosismo e modernidade frente às mudanças trazidas pelo “boom” imobiliário. Novos pontos turísticos, como o Calçadão da Península e o Espigão Costeiro, dividem as atenções com o Forte de Santo Antonio da Barra, monumento de grande importância na defesa do Maranhão Colonial e que merecidamente foi restaurado.

A parte rebatizada de Península, localizada no ponto mais extremo da região, literalmente na “pontinha” da Ponta D’areia, hoje ostenta o metro quadrado mais valorizado da cidade, onde construções modernas e suntuosas abrigam pessoas de maior poder aquisitivo. Ainda assim, a região interage em total sintonia com área ditas menos abastadas, como Ilhinha, Conjunto Jansen e uma parte da Lagoa, cujos moradores são frequentadores contumazes daquela praia.

Espaço que ainda é possível ver golfinhos (botos), além de uma grande variedade de peixes. Essa riqueza do mar é característica marcante nos estuários dos rios Anil e Bacanga no ponto que desaguam para ajudar a formar a Baía de São Marcos. De lá, da baía, a vista parece ficar ainda mais bela.

Amor a primeira vista, com uma beleza que encantou e foi retratada nas obras de diversos artistas no passado, dentre eles Frans Post, Johannes Vingboonse e Georg Marcgraf, que integravam as esquadras holandesas vindas ao Brasil. Eles pintaram as primeiras imagens panorâmicas do Brasil e nelas se destacava a majestosa Ponta D’areia.

Oh, minha Ponta D’areia, lembro-me quando ainda pequenino pude tocar meus pés em seu alvo chão pela primeira vez. Aquele garoto que apenas conhecera o chão da lavoura, por meses submerso no período chuvoso, da nossa imponente Baixada Maranhense. Aquele horizonte belo de se refletir, quando o sol se põe a beijar suas areias ainda molhadas.

 

Do dia que dá lugar à noite, onde a lua cheia predomina e a minha sereia canta feliz. Sim, pode acreditar, lá, na Ponta D’areia tem sereia, com olhos de cristal e boca de água e sal, já dizia o artista. Praia de sonhos e fantasias, do banho, do esporte, dos encontros e desencontros mundanos. Vivo a te namorar, com meu jeito ainda de guri, porque um dia me disseram que o amor nasceu aqui.

*Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

 

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