Recados para ela

 

Ei, Bibi, muito bom dia! Agora acertei o passo. Não quero mais passar muito tempo sem nossas conversas. Tava doido pra te contar uma série de histórias daqui debaixo. Estamos ainda no período da pandemia do coronavírus,  como tu bens sabes. Já perdi um bocado de amigos para esse pavoroso vírus que teima em não nos deixar em paz.

Gosto de ver aqui é o comportamento de tua neta, a Lívia. Tem aulas por videoconferência e sequer coloca o pé na porta do apartamento. Começa a aula às 8 da matina em ponto, termina faltando 10 minutos para as 13h, vai à cozinha, almoça e depois retorna para seu quarto, onde passa a tarde entregue à leitura e aos deveres. Só volto a vê-la no início da noite.

Enquanto isso, tem neguinho doido pela fuzarca. Nesta sexta-feira, por exemplo, tive que sair. Fui ao João Paulo. A fila do Banco Itaú estava serpenteando rumo à porte do quartel do Exército. Do outro lado, mais filas. Uma quilométrica, na Loteria e outra na porta de uma loja de departamentos, onde a rapaziada estava comprando presentes por conta do Dia dos Namorados.

Falando nisso, a tua nora, a Elineusa, continua sendo a minha namoradinha, mesmo depois de 20 anos. A data nós passamos aqui agarradinhos, traçando planos e conversando sobre o passado. Ela também liberou umas gelatinosas. Numa boa.

Já na Rua Grande, vi imagens pelas redes sociais. Estava mãos movimentada do que alguns dias de véspera de Natal. Muita gente ainda não acredita na letalidade do Covi-19, só porque alguns anúncios oficiais falam em queda de ocupação de leitos. A história não é bem assim.

Fiz aqui um paralelo entre Portugal e o Maranhão, número de habitantes, infectados e mortos. Portugal tem 10,3 milhões de habitantes e registrou, até sexta-feira, 1.505 mortos, com 36 mil e 180 infectados, enquanto o Maranhão, com 7 milhões de almas, já perdeu 1.360 para o Covi-19 e tem mais de 55 mil infectados.

Olha, Bibi, vou passar para outras histórias, embora saiba que o Covid-19 continua na pauta.

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Aqueles três empresários larápios que venderam máscaras contra o coronavírus a R$ 10 a unidade para a prefeitura de São Luís, já foram liberados pela Justiça Federal. Um deles sequer chegou a sentir o clima do xadrez, mesmo tendo a prisão temporária decretada.

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Por aqui é assim, morena. O cidadão tem muita mufunfa, pode ser assaltante, mas é chamado de doutor e dificilmente vai para a cadeia. O desvio foi de mais de R$ 2 milhões. É mole?

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Agora tem  uma. Acho que secretário municipal de Saúde, o Lula Fylho, deveria ter a hombridade de pedir afastamento até a apuração da falcatrua.

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Lembro de dois episódios, em que ocupantes de cargos públicos pediram afastamento ao serem acusados de maracutaia e voltaram com a moral elevada, após a apuração de que não tivera, culpa de nada.

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Um deles foi o Augusto Teles, durante a primeira administração municipal do saudoso Jackson Lago. Foi acusado de desvio quando dirigia o extinto Departamento Municipal de Trânsito (DMT), embrião da SMTT.

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Dois meses depois, uma sindicância apurou que ele era absolutamente inocente. Reassumiu o cargo cheio de moral e criticando pesadamente os opositores.

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O outro foi o Henrique Hagreaves, Chefe da Casa Civil no governo de Itamar Franco. Denunciado por desvio der conduta, pediu pub licamente para se afastar e ser investigado. Foi inocentado um mês depois. Esse é o conselho que dou para o turismólogo Lula Fylho. Não basta ser sério, tem que provar que é sério.

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Tão logo começaram a  ser aprovados projetos estabelecendo estado de calamidade pública em estados e municípios pelo Brasil afora, por conta da pandemia, vaticinei junto a um grupo de amigos que viria muita rebordosa depois, em decorrência de desvio de recursos.

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Não deu outra, Bibi. Os governos do Rio de Janeiro e do Pará já foram contaminados pelo vírus da corrupção, com vários de seus integrantes recebendo aquela incômoda visita da PF no cagar dos pintos.

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Municípios, são centenas. A PF fez baculejo na Secretaria de Saúde de São Luís e já anunciou que outras cidades maranhenses podem se preparar, porque muita gente vai acordar com o pontapé na porta dos homens da Federal.

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Não tem jeito. De vez em quando o Brasil é sacudido por escândalos como os do Mensalão, Petrolão, Lava-Jato e outras anteriores, que levaram muita   gente para a cadeia, mas a rapaziada não toma jeito.

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Falando nisso, do Maranhão, apenas o deputado Wellinto do Curso assinou documento elaborado por parlamentares do Nordeste para apurar suposta fraude na aquisição de respiradouros por um tal Consórcio do Nordeste, por uma empresa que deu calote no Estado do Maranhão e ainda não devolveu mais de R$ 4 milhões.

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Isso tá com cheiro de que vem parangolé por aí. O presidente do referido Consórcio é o governador da Bahia, o petista Rui Costa.

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Acompanho por aqui que em alguns locais do Brasil e do exterior estão acontecendo lutas marciais e luta livre. Esse agarra-agarra também não causa risco de contaminação?

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Durante todo o período de pandemia, coisas estranhas acontecem por aqui. No bairro da Ilhinha, por exemplo, quase que semanalmente acontece um torneio de futebol de salão. Cadê a punição para esse pessoal?

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Olha, cidadã, o deputado Zé Gentil, até o momento em que escrevia estas poucas e mal traçadas, continuava internado em estado bastante grave num hospital particular de Teresina, vítima do coronavírus.

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Falando nisso, o Piauí vem registrando números baixíssimos de infectados e de mortos por essa praga do Covid-19. Ponto para uma população que sabe respeitar as normas.

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B em, Bibi, com essa, teu pretinho vai ficando por aqui neste domingo, prometendo retornar na próxima semana, se Deus quiser. E ele quer, porque sempre foi bacana com esse teu pimpolho.

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Beijão desse cidadão que jamais deixará de te amar.

Djalma

 

N.E- Bibi é Benedita Rodrigues, mãe do editor. Ela faleceu em São Luís aos 28 anos de idade, na Santa Casa de Misericórdia, no dia 8 de dezembro de 1965.

 

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