Um São João com cheiro de saudades

Os festejos em homenagem a São João deste ano estão sendo diferentes por conta do Covid-19. Nada de arraiais, das barracas com suas comidas e bebidas típicas, de odores característicos como o da tangerina e dos amores que costumam nascer nesse clima. Os grupos de bumba-meu-boi em seus mais variados sotaques, quadrilhas e  outras danças estão sendo acompanhados apenas via lives.

Uma brusca mudança provocada pelo temido vírus. Sou um apaixonado pelo São João. Parece que no mês de junho o sol brilha com uma intensidade diferente. Durante 12 anos, integrei o grupo organizador do famoso Arraial do Ferrugem, localizado ali na confluência das ruas Raimundo Correia, Carlos Vasconcelos e Travessa da Fortuna, no Monte Castelo. Foi no início da década de 1980 e começo dos anos 1990. Período em que os grupos juninos não cobravam cachês. Se apresentavam mediante o transporte, a bebida e a comida.

Bons e inesquecíveis tempos, em que levamos os lendários Coxinho, João Chiador e Humberto de Maracanã, com seus respectivos batalhões em memoráveis exibições que o videoteipe da memória não deixa esquecer. Ali, vi nascerem a morrerem amores, paixões movidas pelo ambiente frenético da bela festa junina.

Acompanhei várias transformações nos grupos  do bumba-meu-boi. Uma delas diz respeito à indumentária das índias, belas mulheres atualmente escolhidas via seleção, que hoje se exibem tal qual as destaques das escolas de samba do Rio de Janeiro, com seus coloridos penachos e roupas minúsculas. Um colírio!

Batalhões tradicionalistas como Maioba, Maracanã, Santa Fé,  Pindoba e etc.  ainda resistem a essa mudança e exibem suas índias em trajes originais.

Mas o que quero abordar aqui mesmo é a falta da festa do São João tradicional, uma festa extremamente familiar, com grupos de amigos reunidos para uma cerveja e uma comida típica, como a torta de camarão, o arroz de cuxá, o peixe frito e outras iguarias da nossa culinária, temperadas com a beleza da apresentação dos grupos folclóricos. Falta a criançada consumindo milho cozido, pamonha, canjica e estourando suas bombinhas. Até a fogueira foi proibida pela Organização Mundial de Saúde.

Ano passado, exatamente no dia 24, eu e dona Elineusa, com um casal de amigos fomos bater na Praia Grande. Um clima de alegria, tranquilidade e de festa. As ruas coloridas pelas bandeirolas, muitos turistas. Encontramos o Jusuí, que também integrava a organização do Ferrugem. Outros amigos se somaram a uma mesa.

Chegamos por volta das 10 da manhã. Saímos às 20h. Um bom papo, muita cerveja, regada a peixe frito. Um pequeno grupo de tambor de crioula dava o tom no ambiente, que nos abrigou durante esse bom tempo. Um momento mágico, que nós deixamos com um cheiro de saudades. Que o próximo São João seja como o de antigamente.

 

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