UFMA afasta professor tarado por abuso sexual contra alunas

 

Jadir foi afastado

(Universa)

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) informou  que afastou um professor do curso de Psicologia, após a denúncia de abuso sexual que teria sido cometido contra estudantes. Há, inclusive, relatos de violência física.

Jadir Machado Lessa ensina na graduação e na pós-graduação. Três alunas relataram episódios durante as aulas do professor. Por medo, elas preferiram não se identificar. Uma das denunciantes diz que foi aluna do docente durante um projeto de monitoria relacionada à disciplina psicologia fenomenológica existencial — voltada à compreensão da existência humana. A ideia é ajudar as pessoas que buscam dar sentido para a vida. No primeiro mês, conta ela, Jadir parecia ser um professor muito cuidadoso e preocupado com o aprendizado. Ele a estimulava a compreender melhor a si mesma e a superar tabus, com o intuito de fazê-la crescer enquanto profissional.

Segundo a estudante, o professor citou o Existencialismo, e depois, citou mulheres empoderadas, donas de si, que mostravam seus seios por vontade própria e que se libertavam dos julgamentos alheios — a jovem disse admirar aqueles nomes, mas não estar preparada para fazer o mesmo.

Jadir passou a deixar ostrabalhos da monitoria de lado e começou apenas a conversar comigo. (…) Até que ele começou a falar de minha vida sexual, dos meus relacionamentos íntimos. Durante uma dessas conversas, ele disse que queria ver o quanto eu já tinha me libertado de amarras e julgamentos, e me desafiou a mostrar meus seios.

“No final desta reunião, quando estávamos indo embora, eu perguntei a ele como eu estava me saindo na monitoria, se precisava melhorar. Ele me respondeu dizendo que estava muito contente comigo, extremamente impressionado com minha dedicação e trabalho, mas que, no teste final, eu reprovei”, lembra. Ainda segundo a vítima, por trás dos abusos, Jadir justificava que as ações faziam parte do trabalho na sala de aula como parte do ‘existencialismo e a psicologia na prática’, e que ela precisava se libertar de costumes e tradições sociais cristãos para ter sucesso.

A estudante conta ainda que o professor teria chegado a tocar seu seio e teria dado dois tapas em seu rosto, alegando que ela “gostava daquilo”. Outra das denunciantes foi aluna de Jadir em 2019, na graduação. Ela conta que já tinha ouvido falar, por outras estudantes, que o professor assediava alunas.   Para ela, o professor primeiro busca descobrir um ponto fraco como forma de se aproximar.

“Ele sempre jogava perguntas em sala de aula e ia pegando as respostas. Eu falava que tinha medo da solidão e era uma pauta que ele sempre trazia para falar comigo com o intuito de me ‘ajudar’. Hoje eu consigo perceber que isso é uma estratégia dele”, opina. Uma terceira vítima disse ter estudado com Jadir por mais de um ano. Ela cita um momento em que o professor passou a mão na perna dela, alegando que se tratava de técnicas ‘ayurveda’, que originalmente fazem parte de uma terapia bioenergética voltada para o autoconhecimento.

Na cultura indiana, ela é vista como uma forma medicinal de ‘renovar a energia vital’. A mulher finaliza dizendo que agora deseja que ele perca o cargo de professor, e que a UFMA trate da situação com a seriedade que ela pede.

“Essa violência me afeta psicologicamente até hoje e me sinto prejudicada; toda essa situação se amplia em várias áreas da minha vida pessoal e acadêmica. Desde a época, estou em acompanhamento psicoterapêutico”, conta a jovem. Em uma ocasião, ele pediu que eu me ajoelhasse na sua frente. Quando me ajoelhei, ele pediu que eu fizesse o que quisesse com ele, que eu assumisse os meus desejos que ele sabia que eu tinha. Eu não entendi o que ele tava querendo dizer com aquilo, então apenas dei tapinhas na barriga dele. Quando terminei, seu membro estava ereto e sua calça suja. Houve episódio em que ele tentou me beijar e insistia em acariciar minha perna, alegando que eram técnicas da psicologia. (…) Eu não sabia como agir, só me defendia como podia em cada situação. Cheguei a pensar em conversar com alguém, mas depois de ameaças, fiquei com medo me de prejudicar no meu mestrado. (…) Em um determinado momento, ele chegou a comentar outro caso de assédio, e disse que não aconteceu nada com o professor em questão, a única prejudicada foi a aluna.

Jadir acabou denunciado pelas alunas, inicialmente na Polícia Civil, e depois, por se tratar de uma universidade federal, o caso foi encaminhado à Polícia Federal. O inquérito que apura os possíveis abusos cometidos pelo professor corre em segredo de justiça. Investigação Universa entrou em contato com o professor. Jadir Machado Lessa se disse surpreendido pela denúncia e pelo afastamento de sua função docente “a qual sempre exerci com esmero, dedicação e especial respeito a todos”.

Ele ainda ressalta: “nunca extrapolei os limites da cordialidade das relações interpessoais e, principalmente, nunca me vali de minha função para obter qualquer proveito, sobretudo, de cunho sexual”. Sobre as denúncias, o profissional diz que é defensor da liberdade de expressão e que pede que o caso seja tratado “com responsabilidade plena, sem prejulgamentos que possam resultar em minha condenação prévia ou execração pública, descontextualizados da verdade a qual, certamente, não é aquela constante da denúncia responsável por induzir a erro o magistrado que determinou meu afastamento do cargo que ocupo”.

Em nota, a UFMA declarou estar tomando as providências legais quanto ao caso.

“A Universidade Federal do Maranhão, em respeito à opinião pública, comunica que, ao tomar conhecimento das denúncias de assédio contra o professor Jadir Machado Lessa, cumpriu a determinação judicial que ordenou o seu afastamento por 180 dias, assim como tomou todas as providências legais que o caso requer. Ressalta que a Universidade é um espaço onde devem prevalecer o respeito, a tolerância e a defesa dos direitos individuais e cos individuais e coletivos, indispensáveis em um ambiente em que a produção do conhecimento é a grande missão”.

 

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