Brandão prestigia festa da Juçara

 

A tradicional Festa da Juçara no bairro Maracanã, nesta capital, será aberta às 10h desta manhã de domingo com a presença do governador Carlos Brandão, que irá ao local acompanhado de seu secretário de Estado da Cultura e Turismo, Yuri Arruda Milhomem. Esta festa é organizada anualmente pelos moradores do bairro todos os domingos de outubro e atrai centenas de visitantes que se deslocam ao local
para degustar vinho de juçara com farinha d’água e camarão seco. A comunidade é composta em sua maioria por negros ou descendentes de negros que, além da festa da juçara, fruto colhido no local, também possui o famoso grupo folclórico Boi de Maracanã, sotaque de matraca, cujo cantador de maior expressão foi o falecido Humberto de Maracanã – o Guriatã. A festa já dura mais de 50 anos.


O mesmo prestígio que está dando o governador aos afrodescendentes, ao ir àquela festa, ele também pode dar se tombar por decreto para fins culturais, de preservação, visitação e pesquisa por estudantes, historiadores e pesquisadores a área que foi entre 1810 e 1888 o Quilombo de Criz Santo, em  Turilândia. O secretário de Cultura está com o pedido de tombamento em mãos e deve encaminhá-lo à consideração do governante.
A solicitação, baseada no artigo 216, parágrafo 5 0 da Constituição Federal, está acompanhada de farta documentação remota, fotos, demarcação topográfica, projeto de tótem para marco indicativo do lugar e foi apresentada em julho do ano passado pelo jornalista e pesquisador Cícero da Hora. Contudo, até gora o pleito está parado na Secretaria. Quando o espaço do antigo quilombo for tombado pelo governante, ele será o primeiro do Maranhão e o quarto do Brasil. Os outros dois são o de Palmares, em
Alagoas; o de Ambrósio, em Ibá (MG), ambos tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; e o de Kalunga, em Goiás, este por lei estadual.


Cícero da Hora disse que descobriu o quilombo devido aos toponímicos conhecidos do local pelos  moradores, como seja Criz Santo, uma colina; Feliciano, uma ilhota; Mané, um poção d’água perene na interseção da mata com o campo inundável; e Baiano, outra ilhota. “Eu nasci no lugar e este nome a mim é familiar. Quando li no Dicionário Histórico-Geográfico da Provincia do Maranhão, de Cezar Augusto Marques, o verbete Turiaçu, deparei com a citação da existência de Criz Santo como sendo um dos grandes quilombos do Maranhão, junto com o de Maracassumé, ‘reputados os principais e mais terríveis’.

enxerguei conexão da citação de Cezar Marques com o toponímico de onde morava. Mas quando li interrogatórios de escravos fugidos em que citavam haverem ido a Poço d’Anta, outro toponímico do lugar, ao lado de Criz Santo, e o presidente da Província Eduardo Olímpio Machado, em 1853, relatando à
Assembleia Provincial que havia destruído os grandes quilombos do Maranhão no Tury-assú e dando conta que ‘o de que era rei Criz Santo, que morreu não se sabe como, vai para mais de dois anos’… …O rei do quilombo das minas, de nome Epiphânio, é também falecido’, não tive dúvidas de que o toponímico do
lugar tinha relação com o citado líder”.

O jornalista acrescenta que pesquisou no Arquivo Público do Maranhão e encontrou documentos do ataque àqueles quilombos, em 1848, pela Guarda Nacional, a mando do presidente da Província do Pará, Jerônimo Francisco Coelho. “Certamente, há mais documentos relativos ao ataque no Arquivo Público do Pará”, lembra Cícero, que resolveu escrever um texto Maranhão – ocupação, escravos, fugas e quilombos, no qual junta documentos sobre a donataria, a invasão francesa, a expulsão e fundação da povoação; a introdução dos cativos africanos para uso em trabalho escravo na lavoura e nos engenhos e a legislação que deu suporte a isto; as fugas do trabalho vil para os quilombos, a formação dos três grandes do Maranhão e o possível tombamento do de Criz Santo pelo governador Carlos Brandão.

MAL ATENDIMENTO

Cícero contou que foi nesta sexta-feira, às 16h, à Secretaria de Cultura, para um encontro agendado com o secretário Yuri Arruda para tratar do andamento do processo de tombamento, que deve passar pela apreciação e aprovação do Conselho de Cultura, e o livro que escreveu com 300 páginas, sobre o assunto, inclusive com dois parágrafos citando o tombamento da área pelo governador Brandão. “Esperei até as
19h. O secretário Yuri ficou sabendo que eu estava aguardando, ele reuniu-se com seus assessores, saiu pela porta dos fundos e não me recebeu, nem deu qualquer desculpa ou mandou remarcar novo dia e horário. Fui informado que não havia mais ninguém na Secretaria pelo guarda vigilante de plantão, às 19h.
Assim funciona a administração do Estado ali”, reclamou o jornalista, assinalando que o governador precisa ensinar seus imediatos sobre como devem tratar as pessoas.

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