Cordeiro Filho, um revolucionário na imprensa maranhense

Quando lançou, em abril de 1821 O CONCILIADOR DO MARANHÃO, primeiro jornal no estado, carimbando o nascimento de nossa mídia impressa, o governador Pinto da Fonseca estava longe de imaginar que mais de 150 anos depois a imprensa maranhense passaria por uma grande revolução, em todos os sentidos sob o comando do empresário e jornalista Raimundo Nonato Cordeiro Filho. Ele criou um novo modelo gráfico e  editorial no jornalismo local, abriu polêmicas e conquistou a sociedade com uma nova  dinâmica midiática. Consolidou uma comunicação ágil, com um visual singular e extremamente atrativo.

Conhecedor profundo de todos os setores jornalísticos, já havia atuado na Tribuna do Ceará (CE) e Diário do Oeste (GO), quando desembarcou em São Luís, no início da década de 1970, para assumir a direção comercial do O IMPARCIAL. Inquieto e movido por planos e sonhos, logo em seguida participou da fundação do O JORNAL, onde o conheci. Esse projeto foi executado em parceria com Ruy Ilaíno Coelho de Abreu, Mauro Bezerra e Djard Ramos Martins.

Responsável pela direção dos setores gráficos e editorial, introduziu no matutino a policromia (4 cores) e estabeleceu sua marca que ficaria inconfundível dali pra frente, com manchetes em letras garrafais e as chamadas fotos rasgadas, com ampliação, de acordo com o assunto, que chegavam a tomar conta de quase toda a primeira página.

Isso abriu um leque de discussões na sociedade. Enquanto vários segmentos aderiram à novidade, alguns acadêmicos partiram para veladas críticas, sob o argumento de que nascera ali, um jornal voltado para o sensacionalismo. O JORNAL virou coqueluche na cidade, chegando a ter uma vendagem de 15 mil exemplares diários. Um assombro para a época, levando-se em consideração que São Luís contava, na época com uma população de pouco mais de 400 mil habitantes.

Em 1980, Cordeiro Filho deixou O JORNAL, e a convite do então senador José Sarney assume o comando do O ESTAD|O DO MARANHÃO, onde executou mudanças com vistas a concorrer com o matutino que havia criado. Estava  começando a se tornar uma lenda no jornalismo do Maranhão.

Sua inquietude e levou, no ano seguinte, a deixar O ESTADO DO MARANHÃO e fundar um dos maiores matutinos que já circulou no Maranhão, o JORNAL DE HOJE, que inicialmente funcionou nas imediações da Fonte do Ribeirão, transferindo-se posteriormente para a Rua Cândido Ribeiro.

Esse jornal marcou época. Serviu de laboratório para estagiários oriundos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e aglutinou, em sua redação, monstros sagrados da imprensa maranhense e nacional, a exemplo de Bernardo Coelho de Almeida, Othelino Filho, Udes Cruz,  Jersan Araújo Herberth de Jesus Santos, Cunha Santos, Raymundo Pereira De Souza (Souzinha), José de  Ribamar Cordeiro Filho (o chargista),  Adênis Matias, Nonato Reis, Gil Maranhão, Régis Vera Cruz Marques, Arimathéia Athayde, Zé Cirilo, Raimundo França, J. Nepó, Manoel dos Santos Neto (Manoelzinho), Antônio Carlos Lima (Pipoca), Walter Rodrigues, Sérgio Brito, Américo Azevedo,  Chico Viana, Gilson Domont e Alcione Araújo, dentre outros.

Seu primeiro editor-geral foi o consagrado Nonato Masson, jornalista e escritor que havia trabalhado no JORNAL DO BRASIL e era membro da Academia Maranhense de Letras. Também estiveram no JH, os jornalistas paraenses Adalberto Câmara Areias, um brilhante redator e D. Campos. Foram editores e eram oriundos do JORNAL DO BRASIL e CORREIO BRAZILIENS, Foi exatamente nesse jornal que Cordeiro Filho, sem participação societária, mostrou toda sua garra, talento, criatividade e ousadia.

Era como um general comandando seus soldados em campo de batalha. Irrequieto, acompanhava a elaboração de matérias na redação, a diagramação e até a impressão. Também atuava na área comercial, um de seus fortes. Muitas das vezes, chegava na gráfica pela madrugada, para verificar o andamento da impressão e da distribuição.

Sabia diagramar, editar, fotografar e dominava todos os demais setores. Cheguei ao JH em 1982, eu já conhecia o Cordeiro do O JORNAL e do ESTADO DO MARANHÃO. Substituí ao saudoso Ruy Barbosa Moreira, na editoria de Polícia. Acabei me tornando um faz-tudo, porque, além do setor policial, vez por outra Cordeiro Filho me delegava matérias de outras áreas. Me incentivou muito e fez com que desenvolvesse outras aptidões no jornalismo, incluindo aí aprendizado até no setor gráfico.

Acabei indo parar como editor de Política e depois, como editor de Política, como secretário de redação até a chefia de redação. Minha ligação com Cordeiro Filho se estreitou. Lembro de um domingo em que ele foi meu motorista na reportagem policial e terminamos a jornada por volta das 21h, porque tivemos de ir até o município de Raposa para cobrir um assassinato acontecido no início da noite. Ele estimulava a todos com seu e entusiasmo. Nada é impossível para Cordeiro Filho. Tinha amigos em todos os segmentos da sociedade.

O regime militar dava seus últimos suspiros naquele 28 de fevereiro de 1985. 16 dias depois, José Sarney iria substituir ao general João Batista Figueiredo na presidência da República e uma de suas últimas ações foi a inauguração da ponte   rodoferroviária de Marabá, no estado do Pará.

É uma ponte mista que cruza o Rio Tocantins pouco antes da formação do lago artificial da hidrelétrica de Tucuruí dentro da área urbana de Marabá. Sua função inicial era fazer o cruzamento ferroviário, na seção em que está o Rio Tocantins, das cargas de minério ferro de Carajás que vão pela E.F. Carajás até o porto de Itaqui.

Cordeiro Filho me escalou para a cobertura da inauguração, determinando que fizesse uma página inteira e que entrevistasse o então ministro das Minas e Energia, o coronel do Exército César Cals, que, além de ser seu amigo particular, havia sido diretor da extinta Cemar.

Quem me acompanhou foi o fotógrafo Jorge Ribeiro. De outros órgãos do Maranhão, estiveram na cobertura desse evento, o saudoso Fernando Júnior, à época repórter da TV Difusora, Raimundo Borges, do O IMPARCIAL,  e o sergipano Marco Aurélio, que era da equipe do O ESTADO DO MARANHÃO. Viajamos num avião Bandeirantes da Vale, que no período era Vale do Rio Doce e fomos esnobados pelos engenheiros da então estatal durante todo o trajeto. Nos olhavam de soslaio, como se fôssemos serem inferiores não trocaram uma palavra conosco.

Foi um evento gigantesco. Estavam presentes além de César Cals, o ministro da Previdência Social, Jarbas Passarinho, o presidente da Vale, Eliezer Batista, pai do polêmico Eike Batista, além de outras autoridades federais de segundo escalão. O governador paraense à época, Jader Barbalho, não compareceu e os comentários eram de que sua ausência seria em decorrência de rusgas políticas com Jarbas Passarinho. Os dois eram adversários.

Na hora do almoço, após a solenidade, o César Cals estava conversando com  um grupo dos engenheiros  que haviam nos esnobados. Me aproximei e disse em voz baixa:

-Ministro, o Cordeiro me determinou uma conversa com o senhor.

Ele estava com um copo quase cheio de uísque numa mão e um cigarro na outra. Baixou o copo da bebida, levantou, me abraçou, pediu licença aos interlocutores e me levou para uma outra mesa, sempre sorridente e me chamando de meu filho, sob os olhares surpreso do grupo.

Fiz a entrevista com ele e posteriormente, um dos engenheiros me perguntou sob a intimidade do ministro para comigo. Menti, afirmando que era assessor do Ministério para a região Nordeste. Na volta, no avião, todos queriam conversar comigo.

 

Além do  César Cals como foi determinado,  entrevistei o Eliezer Batista, o Jarbas Passarinho e acabei produzindo duas páginas. O diagramador José Neiraldo de Souza caprichou no desenho da página dupla e quando o Cordeiro chegou no jornal no início da noite, estava acompanhado do jornalista Sílvio Leite, que era um renomado colunista político do CORREIO BRAZILIENSE. Me perguntou sobre a matéria. Disse que estava na diagramação.

Levou o visitante até a mesa do diagramador  Neiraldo, que lhe mostrou as páginas. Ele soltou um palavrão, comemorando o trabalho e mostrou a produção ao Sílvio Leite, que parabenizou o que supunha ser uma equipe.

Aí então Cordeiro retrucou:

-Que equipe que nada, Sílvio! Isso é obra desse sacana bem aqui, esse baixinho que está ali! E apontou para a escrivaninha onde eu estava. O Sílvio foi lá me cumprimentar.

O JH passou, posteriormente  a contar com a participação societária do ex-governador João Castelo e do empresário Caros Gaspar. Cordeiro acabou saindo  e partiu para outra empreitada jornalística, com a implementação da revista LEIA HOJE, depois a fundação do DIÁRIO DO NORTE,  depois,  o jornal A HORA e ,após alguns anos,  focou  apenas nas  edições anuais do GUIA DO MARANHÃO.

Eis o perfil desse extraordinário profissional, que imprimiu novas técnicas e um novo modelo na imprensa do Maranhão. Um autêntico revolucionário.

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