Altair Rosas e meu ingresso na Câmara Municipal

No dia 20 de agosto de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, o lendário primeiro ministro inglês,  Winston Churchill, durante um histórico discurso na Câmara dos Comuns, proferiu a célebre frase: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Era uma forma de reconhecer o heroísmo dos jovens pilotos da  RAF (Real Força Aérea Britânica), no prolongado enfrentamento à  Luftwaffe (Força Aérea Alemã), que, naquele período, bombardeava incansavelmente inúmeras cidades da Inglaterra.

Gosto de usar a frase em contraponto ao que aconteceu comigo ao longo da batalha  que travei pela sobrevivência. Quando lembro essa frase de Churchill, em conversas com amigos, afirmo  que “nunca, apenas um deveu tanto a tantos”. É uma das formas de externar gratidão àqueles que me estenderam a mão em momentos de penúria, angústia e dificuldades.

Um desses meu eternos credores é o saudoso Altair da Trindade Rosas, primeiro suplente de vereador da capital na legislatura de 1983/1988. Foi o responsável pelo meu ingresso na Câmara Municipal,  no cargo comissionado de Oficial de Gabinete. Uma história interessante, já que só vim a conhecê-lo no ano anterior, através dos vereadores Aldionor Salgado, Cordeiro Filho e Arimatéia Viegas.

Altair Rosas já havia assumido, anteriormente, o mandato de forma temporária, por força de uma licença de Cordeiro Filho. Como fazia cobertura da Câmara para o  JORNAL DE HOJE, tinha me entrosado com o grupo da oposição. Eram apenas 21 vereadores e foram eleitos. 11 da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), sigla de apoio ao regime governista e  10 do MDB, partido da oposição.

O bipartidarismo havia sido extinto pela Lei nº 6 767 de 20 de dezembro de 1979. Em 1985, os partidos autodenominados socialistas e comunistas foram novamente legalizados.  Mesmo assim, predominavam no Legislativo, em suas três esferas, a força das duas agremiações partidárias. Alguns dos vereadores da oposição, posteriormente se filiaram ao PT e PDT, o que não alterou o número da oposição no Legislativo Ludovicense.

O ano de 1985, foi de muita movimentação política em São Luís, por conta da  disputa pela Prefeitura. O embate se polarizou entre Gardênia Ribeiro Gonçalves, esposa do então senador João Castelo, ex-governador e o deputado federal Jayme Santana, filho do ex-governador Pedro Neiva de Santana. Este contava com o apoio político e logístico do então presidente da República, José Sarney, do governador da época Luiz Rocha e do prefeito Mauro Fecury.

Em torno de Jayme Santana, foi formada uma grande coalizão, denominada “Força Total”. A campanha foi marcada por inflamados discursos de ambas as partes. Uma eleição em que quem não conhecesse a alma política da cidade, apostaria todas as fichas no candidato dos três governos. Numa autêntica demonstração de independência, a população elegeu Gardênia,

Ela assumiu no dia 1° de janeiro de 1986, encontrando uma baú de problemas. Seu antecessor havia nomeado 15 mil funcionários. Ela revogou as nomeações e os adversários montaram uma barricada em frente à Prefeitura. Tocaram fogo no prédio. Um início de administração infernal. Naquele período, as transferências de recursos para as prefeituras vinham via governo do Estado.

Não havia municipalização de verbas e os prefeitos de oposição viviam a pão e água. Ocorriam atrasos de pagamento de salários e faltava dinheiro para a realização de políticas públicas. Um massacre. Ela enfrentou a ira dos governos federal e estadual. Essa situação só viria a ser modificada com a implementação da municipalização de recursos e outros instrumentos  de legalização e fiscalização instituídos pela Constituição de 1988.Tiraram o cabrestos a que eram submetidos os gestores municipais.

Em sua montagem de secretariado, Gardênia nomeou o combativo vereador Hélcio Silva, abrindo vaga  na Câmara Municipal para Altair Rosas. Ele tomou posse no dia 3 de janeiro e, no dia seguinte, fui surpreendido ao chegar às 9h da manhã na sede do JH, na rua Cândido Ribeiro. Ele estava lá, à minha espera.

O parabenizei e ele foi direto ao assunto:

-Vim te convidar para compor minha assessoria.

_ Todo mundo deve saber que salário de jornalista é uma ninharia. Aceitei na hora e, no dia 9 daquele mês, minha nomeação, assinada pela então presidente da Câmara, Lia Varela, foi publicada no Diário Oficial do Município.

Minha tarefa era ajudá-lo na montagem de proposituras e textos de suas matérias quando encaminhadas e aprovadas. Estava indo tudo tão bem, mas alegria de pobre dura pouco. Quatro meses depois, Hélcio Silva se desentendeu com a administração municipal, pediu demissão e retornou à Câmara. Altair Rosas  voltou para o banco de reservas da política e eu perdi a suplementa orçamentária.  Jamais poderei esquecer o gesto do  Altair. Ele foi efetivado como vereador ainda em 1986, quando seu colega de parlamento, Hilton Rodrigues, teve seu nome aprovado pela Assembleia Legislativa para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Não  o acompanhei desta vez porque já tinha outra ocupação, fora o jornal. Eu só voltaria à Câmara, em 1988, através do presidente Raimundo Assub.

Nasceu em 16 de novembro de 1950, no município de Igarapé Miri, no Pará. Foi professor de Técnicas Comerciais.

Casou, em 1970, com Ana  Parente Rosas, com teve os filhos, Ajax Wellington e Altair Júnior. Com o fim do primeiro casamento e levado pelo desejo de novos ares, arrumou as malas e veio de carro, morar em São Luís, onde vendia bonecas na feira do João Paulo. Em 1976, casou-se pela segunda vez, agora com a Senhora Cesária Mendes Gomes. Desse casamento foi gerado a filha Kellangela Raquel e considerava o enteado Flavio Gomes como seu filho mais velho.

Em 1979, atendendo a pedidos de amigos feirantes, assumiu a presidência do Sindicato dos Vendedores Ambulantes e Feirantes de São Luís.

Sempre disposto a ajudar, estava presente no dia-a-dia dos ambulantes e feirantes, conquistando respeito e a admiração de todos.

Passou os últimos anos, gerenciando a empresa da família, que atuava no ramo de confecções. Faleceu precocemente, aos 40 anos, em 31 de janeiro de 1991, vítima de um infarto fulminante. Os filhos, posteriormente, reconhecera a paternidade da irmã mais nova, Rosângela Almerinda.

Uma figura muito carismática e prestativa. Mantive prolongadas conversas com ele. Tabagista, detestava bebida alcóolica. Brincava muito com ele, por conta do sotaque paraense. Galhinha, ao invés de galinha. Costumava convidá-lo para almoçar uma “galhinha ao molho pardo”, no feira da Praia Grande, imitando seu sotaque. Foi uma homem marcante nessa minha caminhada.

Deixou um grande  legado para a família, para os amigos e para a população de São Luís. Abençoado seja, para toda a eternidade!

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