Chico Carvalho: síntese da articulação, conciliação e serenidade

No exercício do seu oitavo mandato na Câmara Municipal de São Luís, o nome do vereador Francisco de Assis Maciel Carvalho, o Chico Carvalho se confunde com a conciliação, a articulação e a serenidade. É um dos parlamentares cuja atuação ao longo dessas últimas décadas o projetam como uma lenda no parlamento municipal, por conta da sua visão de águia na observação do cenário político, da sua forma de articulação e sua calma, quando busca equacionamento para os problemas que surgem no xadrez político. Sabe manejar essas peças como poucos de sua geração.

Político de atuação destacada, principalmente na zona rural de São Luís, tem o DNA da política. É filho de José Mário de Araújo Carvalho, que exerceu quatro mandatos de deputado estadual e faleceu em 1974, quando estava como vereador da capital. Naquele período, apenas dois vereadores faziam política na zona rural da cidade, área de difícil acesso: José Mário e Evandro Bessa de Lima.

Chico Carvalho, que havia sido contador do Departamento Municipal de Trânsito (DMT), embrião da Secretaria Municipal de Trânsito (SMTT), ocupava, no período, o cargo de assessor da 1ª Secretaria na Câmara Municipal, cujo primeiro secretário era o então vereador Carlos Guterres. Aprovado para o cargo de auditor fiscal da Receita Municipal, foi chefe de departamentos na Secretaria de Fazenda e, no governo Luiz Rocha, a convite de Augusto Coelho, que era diretor da Unidade Setorial de Administração (USA), assumiu a  chefia do Departamento de Material. A secretária era Leda Tajra.

Interessante, segundo o próprio vereador, foi seu ingresso no  extinto  Banco do Maranhão S/A, segundo banco mais antigo do Brasil, criado pelo Imperador D. Pedro II e pelo então ministro da Fazenda, o Barão do Rio Branco, que autorizou a instituição a fazer a emissão de moedas.

Destaca que, a convite de seu amigo Ronaldo Botão, então contador da empresa Moinho de Trigo, cliente da instituição de crédito, participou de um torneio de futebol de salão dos bancários, em que o Moinho de Trigo era convidado.

-Eu não trabalhava na época e pensava ser admitido no Moinho de Trigos, contra a contade do meu pai,  que me exigia apenas foco nos estudos. Depois do torneio, em que fomos campeões, o presidente do Banco, Ruy Ilaino Coelho de Abreu me chama e diz que eu estava com uma vaga garantida. Foi meu primeiro emprego-, destaca.

Chico Carvalho iniciou suas atividades partido do zero no Banco do Maranhão, onde teve a providencial ajuda de Carlos Castro Gomes e seus filhos, Antonio Leonardo e Manoel Gomes de Castro. Este último foi que o ensinou a manusear a máquina de escrever. O Banco do Maranhão era herança dessa família.

Tempos depois, Manoel Gomes de Castro foi diretor Legislativo na Câmara Municipal de São Luís, onde executou um trabalho de excelência.

A morte de seu pai o levaria a herdar o espólio político. Ainda no velório, o deputado federal Magno Bacelar o avisou de que deveria se preparar para assumir o espaço ocupado pelo falecido. Foi incentivado ainda pelos deputados Luiz Rocha (que depois foi governador) e José  Bento Neves. Mesmo assim, só disputaria seu primeiro mandato, em 1982, ficando como suplente.

Meu contato com Chico Carvalho vem bem antes dele ingressar na política. É amigo do meu irmão, o desembargador aposentado José Bernardo Rodrigues, com quem compôs a equipe de aspirantes do Moto Clube. Nossos laços se fortaleceram ainda mais, quando, em 1985, a convite do saudoso jornalista Gil Maranhão, ingressei na escola de Samba Unidos de Fátima, à época, presidida pelo parlamentar.

Sua carreira na Câmara começou exatamente em 1988, quando se elegeu pela primeira vez, iniciando uma brilhante trajetória. Nessa legislatura, foi eleito primeiro secretário da Mesa Diretora, que teve Manoel Ribeiro como presidente.  Em 1993, voltou a compor a Mesa, no cargo de segundo vice-presidente, quando João Evangelista se elegeu presidente.

Ele mostraria toda a sua capacidade de articulação, elegendo-se três vezes consecutivas para a presidência da Câmara Municipal, cargo no qual permaneceu entre 1° de janeiro de 1995 a 31 de dezembro de 2000, quando foi substituído por Ivan Sarney.

Daria demonstrações de muita articulação e se apresentaria como grande conciliador. Em todas as vezes que se elegeu presidente, não teve apoio dos prefeitos (Conceição Andrade, inicialmente, depois, Jackson Lago). Isso não o impediu que mantivesse uma relação institucional e extremamente amistosa com ambos durante suas três gestões, que ficaram marcadas no Legislativo Ludovicense. Chegou a assumir interinamente a prefeitura, durante 15 dias, em substituição a Jackson.

Eu era diretor de Comunicação de seu antecessor, João Evangelista e, após a eleição de 1988, Chico Carvalho me encontra num ensaio da Unidos de Fátima e diz que gostaria de contar com meu apoio para se eleger presidente, que deveria ser o responsável pela comunicação. Da mesma forma como atuei  com Evangelista, disse a ele que tudo dependeria da decisão do ainda presidente.

Imediatamente ele entra em contato com João Evangelista, que me autoriza a trabalhar pela candidatura do futuro presidente. Apesar de não ter apoio da prefeita Conceição Andrade, a sua vitória foi sem muitos sobressaltos, uma vez que ele havia feito interessantes costuras políticas individuais e partidárias para chegar ao cargo.

Não lhe faltaram problemas, que driblou com extremada competência. Chegou inclusive e ser incentivado a abrir uma CPI para a cassação de Jackson Lago, por conta de um problema sem muita gravidade. Isso seria uma forma de acirramento político entre o grupo Sarney, do qual nunca se desvinculou e a oposição, à época comandado pelo próprio prefeito.

Realizando uma administração compartilhada, pautada sempre na busca do bom senso e do diálogo, Chico Carvalho teve seu nome alçado ao cenário nacional, por conta de uma reivindicação que ganhou a adesão de todos os segmentos da sociedade maranhense, em 1998.

Ele sabia que havia um estudo realizado pela Petrobrás, que apontava São Luís como a capital do Nordeste mais propícia tecnicamente para a instalação de uma refinaria de petróleo. Isso por conta do porto do Itaqui e da malha ferroviária. Esse projeto de refinaria colocou na disputa, além do Maranhão, os estados do Ceará e de Pernambuco.

Sua iniciativa foi a de conclamar todas as correntes políticas do Maranhão, pedindo que fossem esquecidas as divergências de cunho partidário e ideológico, para que se unissem em torno do grandioso projeto, orçado, no período, em 600 milhões de dólares e com estimativas da geração de 10 mil empregos diretos e indiretos. Entendeu que seria um dos pilares da redenção econômica do Maranhão.

A causa foi abraçada por todos. A Câmara Municipal realizou audiências públicas em alguns bairros, inserindo a comunidade nessa luta. Chico Carvalho reuniu um grupo de vereadores e rumou para Brasília, numa audiência com o então presidente do Senado, José Sarney. Joel Rennó era o presidente da Petrobrás e foram iniciados os debates em nível nacional.

Embora afirmando estarem na luta pelo projeto petrolífero, integrantes da bancada maranhense em Brasília não se mostraram ativos. Os congressistas cearenses e pernambucanos estavam em peso, enquanto os maranhenses se retraíram. Num  dos encontros,  Joel Rennó,  falou que a refinaria em São Luís tinha pouco peso, perto da riqueza que o Maranhão tem, em reservas de gás natural, principalmente na área dos Lençóis e outras regiões.

São Luís não sediou a refinaria, mas a Câmara Municipal ganhou projeção nacional.  Por conta dessa ação, no ano seguinte, Chico Carvalho foi escolhido como o melhor presidente de câmara municipal de todo o Nordeste. A premiação aconteceu numa grandiosa solenidade na cidade de Teófilo Otoni, na cidade de Minas Gerais, reunindo a classe política de todo o País.

Sua sensibilidade o levou a fazer todo tipo de manobra para evitar demissão de servidores não concursados, enfrentando uma forte pressão do Ministério Público, que exigia a retirada de todos os que haviam ingressado após a promulgação da Constituição de 1988. Conseguiu mantê-los a salvo da degola, sob o risco de ser levado às barras da Justiça.

Versátil, tem marcante atuação na cultura popular. A história da escola de Samba Unidos de Fátima por exemplo, pode ser dividida entre duas fases: Antes e depois de Chico Carvalho. Ele assumiu a presidência da agremiação carnavalesca no início da década de 1980, por incentivo do então deputado José Bento Neves.

Até aquele momento, a Unidos não passava de um grande bloco. Ele iniciou a montagem de uma forte diretoria, incluindo Arnaldo Castro (que depois foi presidente), os médicos Clodomir, Antônio Monteiro, Cosmo Ferraz  (ex-vereador) Djalma Brito, Ribamar Pereira, Luís Marques, Graça Menezes (ex-presidente), Ester, Ana, Mário Almeida e a esposa Serlígia, Rosário, Casanovas, além de outras destacadas figuras do bairro.  Como conselheiros, Antônio de Paulo e José Raimundo, que foram fundadores da agremiação festiva e filantrópica.

Começa daí, uma marcante trajetória da Unidos, que, em 1984, se firma entre as grandes, quando levou para a avenida o enredo sobre a Festa da Juçara, conquistando o inédito 3º lugar.

Foi várias vezes a terceira colocada. Em diversas ⁸ocasiões, foi apontada para ser a grande campeã, numa época que só ganhavam a Turma do Quinto e a Flor do Samba. Sempre perdia notas dos jurados, em quesitos em que se sobressaía perante o público, o que levantava suspeitas. Em 1990, A escola apresentou um desfile de vencedora, falando sobre “Bombagira”. O público aplaudiu entusiasticamente sob o grito de “é campeã! é campeã!”, mas os jurados não se sensibilizaram e ela foi a quarta colocada, num dos resultados mais estranhos do carnaval maranhense.

O primeiro campeonato só chegou em 1991, com o enredo “Soy Louco Por Ti América”. A façanha foi repetida em 1994, com o enredo “Tropa, Tropeços do País Tropical, Tudo Acaba em Carnaval”, ambos assinados pelo lendário carnavalesco Chico Coimbra, homenageado com o nome da Passarela do Samba de São Luís. Chico Carvalho, além de presidente, era, também, o intérprete da escola, atividade que costuma se chamar no mundo do samba de puxador.

Tem suas digitais na formatação de vários blocos tradicionais e ressalta que, aos três anos de idade era levado pelo tio, Aldir Araújo  irmão de seu pai, para os desiles do bloco Os Vira-Latas, onde ficou até a extinção do grupo carnavalescos.

Campanha política é uma das atividades mais cansativas que se possa imaginar. Quem está envolvido diretamente neste tipo de atividade sabe que, principalmente com a proximidade do dia da eleição, o tempo é curto. As ações são iniciadas bem cedo, e não se pode marcar data exata para almoço, jantar e dormir. Os trabalhos se arrastam dias a fio, sem folgas nos domingos, dia santo e feriado.

Fiz parte do grupo de trabalho de Chico Carvalho durante seis anos. O puxado trabalho de campanha, principalmente na zona rural era amenizado por conta do clima de harmonia reinante entre toda a equipe. Não havia intrigas, todos eram unidos. Nos finais de semanas as tarefas eram encerradas geralmente com uma seresta, em que o próprio Chico era o seresteiro.

Não havia cenário para fuxicos entre o grupo, porque ele estava sempre presente, discutindo o que cada um deveria fazer. Visitava as casas de seus diretores e de cabo eleitorais. Fazia com que o ambiente, principalmente na Câmara Municipal no dia-a-dia, durante seus três mandatos como presidente, fosse o mais ameno possível.

Sua longevidade como vereador, sendo o detentor do maior número de mandatos, está justificado pela sua forma de fazer política. Sempre atuando com a cordialidade que lhe é peculiar, além do seu poder de articulação, sua serenidade e o seu estilo conciliador. Eis aí um retrato sem retoque desse grande líder da política municipalista maranhense.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *