Ivan Sarney: O intelectual, gestor dinâmico e transparente

Conheci o acadêmico, imortal e político Ivan Sarney em meados da década de 1980, período em que, a convite do então, Presidente do Instituto   do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional  (IPHAN), Aloísio Magalhães, exercia as funções de Diretor Regional do órgão e da Fundação Nacional Pró/Memória (2a. DR), com jurisdição nos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Exerceu os dois cargos ao longo de uma década, de 1980 a 1990.

Fui entrevistá-lo na sede do Iphan, na Deodoro, para o JORNAL DE HOJE, numa tarde de quarta-feira, sobre o antigo e ainda atual problema da preservação dos casarões do Centro Histórico de São Luís. Fiz a entrevista e recebi uma aula sobre os mais variados estilos arquitetônicos, a exemplo do Art Nouveau, Neoclássico, Colonial e Barroco. Foi daquelas conversas em que você sai impressionado com o grau de conhecimento e a simpatia do entrevistado.

Nem sei se ele lembra. Nunca tratamos depois dessa  história. O destino fez com que nossos caminhos se cruzassem na Câmara Municipal de São Luís, onde ele foi presidente de 2001 a 2004, marcando a primeira Legislatura do Século XXI.

Fui convidado, em 2002 para ser o diretor de Comunicação,  em sua gestão, em substituição a Luís Cardoso, que deixou o cargo para cuidar do seu blogue, que acabara de criar.  Um fato interessante  o levou a  me escolher para a função, conforme me revelaria no dia do convite. Eu estava como diretor desde 1993, e vinha, a partir de 1995, no cargo, sob a direção do vereador Francisco Carvalho. Em 2000, Jackson Lago foi reeleito prefeito de São Luís e recebeu o apoio do grupo Sarney.

Isso criou um clima de muita agitação na época. Nesse período, a Oposição dizia ter ojeriza aos Sarney. Após a eleição, no final da apuração, Jackson Lago foi, no início da madrugada, brindar com a então governadora Roseana Sarney, na casa dela, com uma garrafa de champanhe.

Como é habitual, após toda eleição municipal, se iniciam imediatamente as articulações para eleição da Mesa Diretora da Câmara Municipal. Vi que Ivan seria um páreo duro para Chico, que estava no terceiro mandato consecutivo de presidente. Isso, pelo que ouvi do próprio Ivan, na noite da eleição, na sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/MA), após o fim da apuração.

-Nós demos apoio incondicional ao Jackson Lago e isso me credencia a disputar a presidência da Câmara Municipal. Preocupado, liguei para Chico Carvalho, que estava em casa, no Alto do Calhau. Ele me disse para ficar despreocupado, porque tinha número de votos suficientes para mais uma reeleição.

Afirmava contar com o apoio do ainda vereador Tadeu Palácio, que havia sido eleito vice, na chapa de Jackson Lago. Para chegar a esse cargo, Tadeu teve o apoio de Chico, que articulou um abaixo-assinado subscrito por 16 dos 21 vereadores, o indicando como companheiro de chapa do prefeito reeleito.

Ele pensava contar com esse trunfo, mas eu vislumbrava outro cenário. Ivan foi ganhando espaço e, em meio a essa campanha, certa manhã, fui abordado por Rubens Rodrigues, que seria o diretor financeiro de Ivan, no pátio da Câmara.

-Djalma, o vereador Ivan Sarney quer conversar contigo no gabinete dele.

Respondi que não iria, de jeito nenhum, argumentando que estava com o Chico Carvalho durante seis anos e que ficaria ruim pra mim, ser visto saindo do gabinete de seu opositor num momento bastante tenso como aquele.

-Vão pensar que estou traindo o Chico e isso não é nada bom pra mim, ponderei.

Ivan  venceu a eleição a vida seguiu seu curso normal. Um ano depois, por volta das 15h de uma ensolarada terça-feira, estava na casa da minha sogra, Elineide, no bairro do João Paulo, quando recebo o telefonema do Ivan.

-Preciso conversar com você. Onde está?

Respondi que estava no João Paulo. Ele me disse que se encontrava no Shopping Atlanta, no Renascença. Disse que chegaria dentro de 40 minutos.

Ele estava acompanhado do então vereador Pedro Celestino. Me recebeu com a sua marcante cortesia.

-Djalma, primeiro quero te parabenizar pelo teu comportamento com o Chico Carvalho. Um gesto muito nobre. Por isso é que quero te convidar para reassumir o cargo, porque o Luís Cardoso pediu demissão para cuidar do blogue.

Não me fiz de rogado e, na semana seguinte retomei a função.

Confesso que me surpreendi com a desenvoltura dele como gestor. Executou uma administração revolucionária. Foi o responsável pelo início da informatização dos trabalhos na Câmara Municipal. Instalou, a Ouvidoria, abrindo um espaço para a população se manifestar diretamente como Legislativo Municipal.

Criou o programa, Câmara Itinerante, com as ações: A Câmara vai às Escolas; A Câmara vai aos Bairros e A Câmara vai às Empresas, o que possibilitou o estreitamento das relações entre a casa de Simão Estácio da Silveira com a comunidade.

Sua administração, dinamizada e de resultados de curto prazo, também mostrou alto grau de transparência e seriedade. As quatro prestações de Contas Anuais, de gestor- Presidente, 2001, 2002, 2003 e 2004, foram aprovadas sem ressalvas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Voz poderosa em defesa do meio ambiente, priorizou a sustentabilidade e fazia seu alerta a partir do slogan “É preciso amar a cidade”. Ministrava palestras sobre o assunto,

Foi presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal (1999 a 2000). Implantou e Coordenou a Agenda 21, do Município de São Luís, por cinco anos, no período de 1999 a 2004. Implantou e coordenou a Campanha Municipal Permanente por uma Cultura de Paz, denominada “Adeus às Armas”, no período de 1999 a 2004.

Além de subordinado, virei seu admirador. Um político diferenciado, avesso às práticas da política tradicional, do toma-lá-dá-cá, e contra as artimanhas que deixam a imagem da classe bastante fragilizada perante a opinião pública, como pode ser observado pelas pesquisas de opinião.

Nos tornamos amigos. Ivan Sarney foi o primeiro fora do círculo familiar, a visitar a Lívia, minha filha caçula após o nascimento, no dia 6 de maio de 2004, no Hospital Aliança, na rua Rio Branco, levado um buquê de flores para a Elineusa.

Cumpriu, por 14 anos, em 4 legislaturas, o mandato de vereador, por São Luís, sendo 12, como titular (1992 a 2004) e 2, como Suplente, por licença médica do vereador Sebastião do Coroado (2006 a 2008).

Posso afirmar, sem sombras de dúvida que ele é um homem diferenciado, culto, inteligente e bastante eclético.

Ivan Sarney é Procurador Federal, aposentado, advogado e administrador de empresas, com especialização em Advocacia Empresarial, pela Universidade Federal do Maranhão.

Escritor e político, é membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.

Cineasta amador, realizou 14 filmes, em bitola Super 8, muitos dos quais premiados em festivais de cinema, locais, regionais e nacionais, na década de 70.

Realizou exposições de artes plásticas, individuais e coletivas, na cidade de São Luís, tendo participado, após seleção crítica, eliminatória, do Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1977, com o filme: “Nada mais disse, nem lhe foi perguntado”, distinguido com Menção Honrosa.

Integrou, como Conselheiro, o Conselho Estadual de Cultura, por quatro anos (1981 a 1984). Fundou, com alguns cidadãos, a Sociedade dos Amigos de São Luís e Alcântara, em 1978, tendo sido o seu primeiro Presidente. Fundou e dirigiu o Jornal das Empresas, tabloide de periodicidade quinzenal, dedicado a divulgação de atividades empresariais, no Maranhão, na década de 1970.

Publicou os livros: Meia-Morada, Coração (poesia); O Sótão (teatro); Chapéu de Couro (contos); Chapéu de Couro e Palha (contos); Na Boca-da-Noite (contos); São Luís, Uma Ilha Bela por Natureza (documentário); Uma Cidade no Tempo (crônicas); O Congresso das Garças (crônicas). Escreveu artigos para os extintos: Jornal do Dia e Jornal de Bolso, para este, como colunista semanal, até sua extinção, em 1972. Publicou artigos no tabloide semanal “Sete Dias“, publicado sob a coordenação do jornalista Pergentino Holanda, no jornal O Estado do Maranhão (1977 a 1979).

Ex-colunista do jornal O Estado do Maranhão, onde escreveu já em sua primeira edição, em 1973, e exerceu o cargo de Redator de Cultura; tendo assinado, posteriormente, a coluna “Hoje é dia de Ivan Sarney“, no Caderno Alternativo, aos domingos, até o mês de agosto de 2015.

Atualmente, desde setembro de 2015, integra a equipe de articulistas do Jornal Pequeno, assinando uma coluna de assuntos sócio-econômicos, políticos, culturais e literários, aos domingos, no Segundo Caderno, na página Geral.

É possuidor das seguintes condecorações, representadas pelas medalhas: Medalha do Mérito Cultural “Gonçalves Dias”, outorgada pela Academia Maranhense de Letras; Medalha “Brigadeiro Luis Antônio”, outorgada pela Polícia Militar; Medalha de “Amigo da Marinha”, outorgada pela Capitania dos Portos do Maranhão; Medalha “Rodrigo de Melo Franco”, outorgada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Medalha do Mérito “São Luís, IV Centenário”, outorgada pela Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão; Medalha do Mérito Legislativo “Simão Estácio da Silveira”, outorgada pela Câmara Municipal de São Luís; Medalha da Ordem do Mérito Timbira, no grau de “Oficial” e Medalha da Ordem do Mérito Timbira, no grau de “Grande Oficial” , outorgadas pelo governo do Estado do Maranhão.

É Faixa Preta, em Karatê, graduado 1º Dan, pelo Sensei Tadashi Takeuchi, em 1979. Conquistou o 4º Dan, pela Confederação Esportiva Brasileira de Karatê -WUKO, em 2013, integrado à Academia Kawamura, sob orientação do Sensei Murilo Pinheiro.

Exerceu, de março de 2011 a janeiro de 2015, o cargo de Diretor Institucional da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão e as funções de: Coordenador Geral da Escola do Legislativo. Exerceu, ainda, as funções de Coordenador do Núcleo de Apoio aos Legisladores Municipais do Maranhão e Coordenador do Conselho de Interlocução Social, naquele Poder. Integrou a Diretoria da Associação Brasileira de Escolas do Legislativo, como Diretor, representando a Região Nordeste, no biênio 2014/2015.

Esse é o perfil do intelectual, do político, gestor dinâmico e transparente

(Com subsídios da Academia Maranhense de Letras)

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