Pereirinha: A saga de um amigo leal, agregador  e cumpridor da palavra

Quando se elegeu, pela primeira vez, presidente da Câmara Municipal de São Luís, em primeiro de janeiro de 2005, Antônio Isaías Pereira Filho, o Pereirinha talvez nem soubesse que estava começando escrever, naquele momento uma das mais importantes páginas da história daquele parlamento.

Seria reeleito quatro vezes seguidas para o mesmo cargo  e, durante uma década no comando da casa de Simão Estácio da Silveira, mostrou seu perfil de um político agregador, articulado, leal, amigo e de cumpridor da palavra empenhada.

Costuma dizer que se baseia na máxima de que: “palavra de homem tem que valer mais do que documento lavrado em cartório”. Fui diretor de Comunicação, em suas gestões, em períodos intercalados com o saudoso Aldionor Salgado e José Raimundo Rodrigues.

A política está no DNA. É filho de Antônio Isaías Pereira e da professora Maria Baroni. Acompanhou a trajetória do pai, que, por duas vezes foi prefeito da cidade de Timbiras. Seu ingresso na política de São Luís foi em 1996, quando se elegeu pela primeira vez vereador.

A saga de Pereirinha na vida pública começa na década de 1970, como funcionário da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG-MA), sendo deslocado, posteriormente, por interferência do amigo Francisco Augusto Maia Gama, para desempenhar as atividades do órgão no estado do Amazonas.

Isso depois de haver instalado mais de 20 sindicatos de trabalhadores rurais em municípios maranhenses e haver criado a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Maranhão (FETRAPEMA). No Norte do País, foi diretor da  CONTAG  nos estados do Acre e Rondônia.

Um dos episódios mais marcantes de sua carreira no movimento em defesa dos trabalhadores rurais, aconteceu em 1979, no Acre, no município de Brasileia. O país vivia sob o impacto das greves dos metalúrgicos do ABC Paulista, liderado por Luís Inácio Lula da Silva e o início das discussões pelo retorno da democracia, em pleno regime militar.

Em março daquele ano, 15 anos após o golpe militar de 1964, o general João Batista Figueiredo assume a presidência da República. Ex-chefe do Serviço Nacional de Inteligência, o antigo SNI, Figueiredo tinha a tarefa de consolidar a abertura política e assegurar a transição democrática.

Sua primeira medida nesse sentido foi a sanção, em 28 de agosto de 1979, da lei 6.683, que concedia anistia a todos os que haviam cometido crimes políticos desde setembro de 1961 até aquela data. A lei teve efeito imediato e beneficiou 2.200 pessoas, que puderam deixar a clandestinidade ou retornar ao Brasil após exílio no exterior. No Maranhão, João Castelo assume o governo do Estado, após ter seu nome referendado pela Assembleia Legislativa, sendo o último governante eleito de forma indireta.

Lula e um grupo de companheiros iniciam o movimento para a criação do Partido dos Trabalhadores, num momento em que aumenta o clima de tensão entre trabalhadores rurais e grileiros, principalmente no Norte do País. E foi exatamente no fim de 1979, que Lula e Jacob Bittar chegam a Brasileia, a 237 km da capital, Rio Branco, para o sepultamento do líder sindical Wilson Pinheiro, executado a mando de posseiros.

Pereirinha foi buscá-lo no aeroporto, numa Rural Willys.  Seu relato é que que, durante o trajeto, a conversa entre ele e o futuro presidente brasileiro foi permeada de tristeza, pela morte de Wilson Pinheiro, com alguns momentos de distensão, e avaliação sobre o panorama político da época. Os dois foram ainda em Xapuri, buscar  o lendário líder camponês Chico Mendes, que também tombou morto posteriormente pelas balas assassinas disparadas a mando de um grupo de posseiros. Hoje é símbolo internacional dessa luta pela posse da terra.

Talvez o líder operário Lula não imaginasse, naquele momento chegar à presidência da República e nem  Pereirinha em  assumir, algum dia o comando da Câmara Municipal de São Luís, a terceira mais antiga do País e com uma história permeada de lutas, exemplos de coragem e independência.

Pereirinha também foi um dos dirigentes da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Amazonas (EMATER_MA), ficando  responsável pela região da cidade de Careiro, num abrangência de oito municípios.

Lula na presidência da República e Pereirinha presidente da Câmara Municipal se encontraram em São Luís, no dia 10 de dezembro de 2009, quando o presidente veio em visita ao Maranhão, a convite da então governadora Roseana Sarney. Na sala vip do aeroporto, Pereirinha, no grupo de autoridades convidadas se aproximou, apertou-lhe a mão e  foi indagado:

-Estou lhe reconhecendo de uma viagem no Acre, não é isso?….

Recebeu a resposta:

-Sim, senhor presidente, muito me honra estar aqui com o senhor, nesse momento ímpar de nossa história. Sou, atualmente, presidente da Câmara Municipal de nossa cidade e o senhor presidente do nosso País Isso me orgulha muito. Estivemos juntos no  enterro do Wilson Pinheiro e fomos em Xapuri, buscar  o Chico Mendes. São momentos que guardo na memória e no coração-, respondeu-lhe Pereirinha.

A conversa foi extremamente proveitosa. Envolvido com o esporte, o então presidente da Câmara fez alguns pleitos a Lula, que chamou o ministro dos Esportes, Orlando Silva e determinou que viabilizasse os pedidos do vereador. Isso resultou na instalação de 10 quadras poliesportivas em São Luís.

Isaías Pereirinha dá início a uma nova fase em sua vida, no ano de 1984, quando retorna o Maranhão, impelido por um problema familiar e ingressa como funcionário da Companhia de Desenvolvimento Rodoviário do Maranhão – (CODERMA). Permanece nesse órgão até 1996, quando assume, pela primeira vez, o mandato de vereador da capital.

Ele foi, também, durante 10 anos, presidente da Federação Maranhense de Futsal e, na gestão do prefeito Tadeu Palácio, presidiu a Fundação Municipal de Esporte (FUMDEL), embrião da Secretaria Municipal de Esporte (SEMDEL). Implantou 76 escolinhas, nas mais diversas modalidades nos bairros da capital.

Apaixonado pelo esporte, foi um dos dirigentes do Sampaio Correa e, em 2008, fundou o Instituto de Administração de Projetos Educacionais Futebol Clube (IAPE), denominado Instituto de Amigos de Pereirinha. Foi concebido   a partir de projeto sociais por ele dirigidos, o que resultou na criação de dezenas de escolinhas de futebol espalhadas pela cidade.

O IAPE  acabou se tonando um competitivo clube de futebol  profissional local, chegando a disputar até a Copa do Brasil, enfrentando grandes agremiações, como o Atlético Mineiro e outros históricos times. Ele decidiu encerrar as atividades profissionais da equipe, indignado com a marcação de uma falta inexistente a favor do Sampaio Correa, aos 47 minutos do segundo tempo  de uma renhida partida , o que resultou em derrota de seu time. Tem forte vínculo com a cultura popular, sempre envolvido nos festejos juninos e carnavalescos.

Como presidente da Câmara Municipal de 2005 até o último dia de 2014, contabiliza muitas conquistas coletivas. Esteve à frente das articulações que elevaram  de 21 para 31 o número de vereadores em São Luís e é autor da lei que instituiu a emenda parlamentar para vereadores, conseguindo a mesma prerrogativa de senadores, deputados federais e estaduais.

Foi sob sua gestão que a Câmara ampliou espaços de trabalho, ocupando a parte em que funcionou a Secretaria Municipal de Administração áreas do pátio, para a instalação de departamentos técnicos e cinco gabinetes de vereadores.

Na sua administração, foi resgatado o acervo da Câmara o ementário de 1948 a 2000, pelo vereador Chico Poeta e, de 2001 até 2015 pelo superintendente legislativo Manuel Gomes de Castro e a diretora de Documentação, Maria Coseth, servindo de fontes de pesquisas pela Universidade Federal (UFMA)  e como subsídios para monografias.

Considera uma marca relevante de seu trabalho, não haver demitido um único servidor durante os 10 anos como presidente e destaca esse período pela valorização do funcionalismo, através da concessão da vale-transporte, ticket-alimentação e outras vantagens. Exerceu seis mandatos na Câmara, cinco como titular e um ocupando uma vaga quando era suplente.

É um amigo leal e cumpridor da palavra.

 

 

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