E-mail pra dona Bibi

Ei, pretinha, acorda logo, que a barra tá é pesada neste domingo, mulher de Deus! É parangolé pra tudo enquanto é lado, minha fofa. Mesmo assim, quero te desejar um bom domingo, juntamente com aqueles nossos amigos e parentes que estão por aí nesse lugar abençoado. Gata, a maré não tá pra peixe aqui no Maranhão. Tu nem imaginas, mas os policiais militares e o pessoal do Corpo de Bombeiros entraram em greve. Num movimento pra valer. Estão acampados, desde quarta-feira, lá na Assembléia Legislativa. Uma confusão dos diabos. O governo disse que não abre e eles afirmam que encaram até trem carregado de chumbo.

Sem buscar diálogo com os grevistas, o governo chamou a Força Nacional, o Exército e, se não houver outra alternativa, é provável até que chamem as forças de paz da OTAN. Por aqui tudo é possível, minha gata, não tenho a menor dúvida. Os nobres deputados governistas estão numa sinuca de bico, porque não tem capacidade para negociarem um vintém furado. Muito frágil essa Assembléia.

Bem, antes de continuar com a história da greve, quero te dizer que tua netinha está cobrando aqui uma viagem de fim de ano, porque já entrou de férias e diz ter plena certeza de que só irá tirar notas boas. Falando em Lívia, fui cobrado, pela rapaziada do Extra, porque não falo sobre os teus outros netos.

A questão é que os outros tão tudo criado, como dizia minha avó Chiquita. O Marco Aurélio, por exemplo, mora no Rio, já casou, separou e recasou. A Tâmara, que está quase recebendo o diploma de psicóloga, casou e também é empresária, enquanto a Anaya, fisioterapeuta, vive como o pai, saindo de uma clínica pra outra. Dá um duro danado. Agora, o Djalma Segundo, não quer muita coisa com a vida, é pesado. Dá o mesmo trabalho de empurrar um carro pregado ladeira acima. O que fazer? Mas tá aí, pra turma curiosa do Extra, quem são os demais da trupe.

Vamos deixar essa rapaziada de lado e partir para as mais importantes.

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Vixe, Bibi, ainda não tinha visto negócio desse por aqui, ao longo do mais de meio século de vida. Os militares entram em greve e os governistas tentam apagar fogo com gasolina.

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Para que tu tenhas uma idéia, o líder do governo na Assembléia, o Manoel Ribeiro, antes de iniciado o movimento, chamou os grevistas e disse que suas reivindicações iriam ser atendidas.

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Pois bem, ele vendeu um peixe que não era dele. Foi desautorizado pela governadora Roseana e, quando começou a greve, atravessou o Atlântico e foi se empanturrar de bacalhau e vinho em Portugal.

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O movimento dos militares está chamando tanto a atenção, que ninguém se lembra que os delegados também estão em greve. Retomaram o movimento, após terem sido ludibriados pelo governo.

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Falando em governo, morena, essa parece ser a única administração que não tem interlocutor com a sociedade. A casa tá pegando fogo e o chefe da Casa Civil, o Luis Fernando vai pro interior participar de festa de aniversário de municípios.

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Isso também me surpreende, porque governo que é governo, quando eclode qualquer crise, cancela a agenda e se concentra no equacionamento do problema. Principalmente um dessa envergadura.

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A reboque da greve, está vindo a molecagem. A todo momento espalham boatos sobre arrastões em diversos pontos da cidade, provocando um clima de medo e de tensão.

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Tem jornalista, coitado, com a cabeça rodando mais do que biruta de aeroporto. Antes, elogiava líderes da greve, agora, por conta da vontade dos patrões, passa a esculachá-los.

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E a coisa promete piorar a partir dessa segunda-feira, quando os policiais civis estarão se reunindo para tirar um indicativo de greve por tempo indeterminado.

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Na realidade, morena, o Maranhão passa por uma intervenção branca. O sistema de Segurança está sob o controle total do Exército, que solicitou tropas até de outros Estados.

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Mesmo com todo esse problema, a bancada federal do Maranhão no Congresso não emite um “ai” sobre o assunto. É como se estivessem ali representando a China.

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Apenas o deputado Domingos Dutra fez um chocho pronunciamento, com aquela mesma verborragia de chamar a governadora de “Roseana Mubarack”, em alusão ao ex-ditador do Egito e pronto. Muito fraco.

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Pensando bem, o povo merece os representantes com que vota. A bancada do Maranhão na Câmara Federal é considerada a mais inexpressiva dentre as dos outros Estados. Uma lástima.

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No Senado, então, de lá é de onde não se espera e é de onde nada vem. Cafeteira, anda pra cima e pra baixo numa cadeira de rodas, mas não tira licença pro seu suplente, o Afonso Ribeiro.

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Aí, os outros dois representantes, são senadores sem votos. O Lobão Filho e o Clóvis Fecury. O Maranhão, como se vê, Bibi o Maranhão está órfão de representação política, apesar do presidente do Congresso ser maranhense.

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Os militares estavam se organizando para ficarem aquartelados no comando geral da PM, no Calhau, mas decidiram ir para a Assembléia, em represália ao que consideram molecagem dos deputados com eles.

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Ah, ia esquecendo, os proprietários de transportes coletivos também ameaçam fazer sua “greve”, caso os militares permaneçam na paralisação.

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Motivos pra isso não tem, morena, porque os militares estão em greve, mas por aq ui estão a Força Nacional, o Exército e o escambau. Vai ver que eles irão reivindicar mais um aumentozinho no preço da passagem.

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Uma coisa me chama a atenção nessa greve. O ausência dos petistas, que viraram “petelhos” após alcançarem o poder. Ué! Antigamente, se envolviam até em greve de sexo, estimulando as grevistas.

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Cadê o vice-governador Washington Luiz? É a pessoa ideal para negociar com os grevistas, já que é do ramo. Subiu na vida como sindicalista, liderando greves.

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Procuro também e não encontro o presidente da Embratur, o Flávio Dino, que se intitula líder das oposições no Maranhão. Falando nisso, Bibi, procuro: O Maranhão tem oposição?

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Bem, minha fofa, com essa, teu pretinho vai ficando por aqui, garantindo retornar no próximo domingo, se Deus quiser. E ele quer, porque ele é muito legal.

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Beijão do teu filhote amado.

Djalma

Obs: Esta coluna foi publicada no último domingo (27), no jornal ATOS E FATOS, antes da deflagração da greve dos policiais civis e agora fará parte deste blogue, sempre aos domingos.

Dona Benedita Rodrigues, mãe do blogueiro, empreendeu sua viagem celestial no dia 8 de dezembro de 1965, quando tinha apenas 28 anos de idade. A coluna está sendo publicada a 7 anos no ATOS E FATOS.

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