Morre em São Paulo a herdeira da Daslu

A dona da Daslu

Morreu no início desta madrugada, aos 56 anos, a
empresária Eliana Piva de Albuquerque Tranchesi, dona da Daslu. Ela estava
internada no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Eliana não resistiu ao câncer contra o qual lutava
desde 2006 e que acabou por afastá-la do comando da Daslu, o maior templo do
consumo de luxo do país.

Em setembro de 2006, quando revelou que havia
retirado um tumor do pulmão e que iniciaria sessões de quimioterapia e
radioterapia, ela afirmou que “a crise da Daslu e mais o câncer me fizeram
sentir como se eu fosse uma criança deixando abruptamente a Disney. Até então,
eu imaginava a vida como uma grande brincadeira (…). A Daslu é a Disney, onde
tudo é lindo, as vendedoras são lindas, o cabelo é lindo, a roupa é linda, é
tudo bonito. É tudo agradável. Então, de repente, você sai desse mundo da
Disney e cai lá dentro do [hospital Albert] Einstein já com um monte de
pacientes com câncer”.

Eliana herdou a Daslu da mãe, Lucia Piva. A loja
nasceu quando Tranchesi tinha apenas um ano de idade, na sala da casa de sua
mãe. O nome da loja vem da junção dos nomes das primeiras sócias da loja, Lucia
Piva e Lourdes Aranha, ambas apelidadas de Lu.

A loja virou uma grife e, a partir dos anos 90,
começou a trabalhar com importados, quando as importações foram liberadas pelo
então presidente Fernando Collor de Mello. Ela foi para a Europa e voltou com a
mala abarrotada de marcas famosas que caíram no gosto dos endinheirados brasileiros.
A partir daí, a Daslu virou referência para quem tinha dinheiro para gastar e
queria ver e ser visto. Ela criou setores para atrair homens, grávidas,
decoradores e adolescentes.

Eliana sempre afirmou que gostava de comprar, mas
nunca havia pensado em tocar os negócios da mãe. Porém, ela assumiu o controle
da butique, após a morte da mãe e deixou de lado o sonho de ser artista plástica.
Começou a trajetória como vendedora, o que, aliás, é prática na loja entre as
atuais diretoras e gerentes. Desde o início, ela contou com a ajuda dos irmãos
no negócio.

Eliana foi casada como o médico Bernardino Tranchesi
e tinha três filhos: Bernardo, 26, Luciana, 23, e Marcela, 20.

Religiosa, tinha o hábito de ir à missa aos
domingos. Na Daslu há até uma capela, onde uma missa, fechada aos mais íntimos,
serviu de cerimônia de “passagem”. Eliana apontou para Deus quando
tentou traduzir o segredo do sucesso. “Acho que o segredo do meu sucesso é
Deus e trabalhar feliz, em um astral bom”, disse a empresária dias antes
de inaugurar a Villa Daslu na zona sul de São Paulo, em 2005.

Em fevereiro de 2008, a BR Malls, maior empresa do
setor de shoppings centers do país, anunciou que passaria a gerenciar a Villa
Daslu –shopping com 70 lojas anexa à boutique de luxo Daslu.

Segundo a empresa, foi firmado um consócio onde a BR
Malls ficaria responsável pela administração da Villa Daslu, que fica na Vila
Olímpia (zona sul de São Paulo), sem nenhuma espécie de pagamento ou troca de
ações entre as duas partes.

Tanto a Daslu como a operação das marcas
internacionais feitas pela boutique de luxo ficaram de fora da negociação.

POLÍCIA FEDERAL

Em 13 de julho de 2005, teve início a Operação
Narciso, da Polícia Federal, onde Tranchesi era suspeita de cometer crime de
sonegação fiscal nas importações da Daslu.

Ela foi detida e liberada no mesmo dia. Antonio
Carlos Piva Albuquerque, irmão de Eliana e seu sócio na butique, e Celso de
Lima, ex-contador da Daslu e dono da importadora Multimport (uma das principais
da loja) ficaram presos durante cinco dias.

Segundo o Ministério Público Federal, as
investigações sobre supostos crimes cometidos pela Daslu duraram cerca de 10
meses.

À época da operação, a Daslu movimentava ao ano mais
de R$ 400 milhões em vendas, segundo a conta de especialistas. Eram mil
empregados, sendo 200 “dasluzetes” –apelido das vendedoras que
recebem até R$ 15 mil (incluindo comissão) por mês. Entre 75% e 80% das pessoas
que vão à Daslu não vão embora da loja sem comprar alguma coisa. Já em
shoppings, essa taxa varia de 15% a 30%.

Em investimentos, os volumes também são altos. Para
a inauguração da nova Daslu –o espaço de 20 mil metros quadrados, incluindo o
terraço, aberto ao público em junho de 2005–, foram gastos R$ 200 milhões.
Estima-se que R$ 40 milhões tenham sido bancados pela própria Daslu, e o
restante, rateado entre as grifes que estão na operação comercial.

SENTENÇA

Em março de 2009, Eliana e seu irmão foram
condenados a 94,5 anos, sendo três anos por formação de quadrilha, 42 anos por
descaminho consumado, 13,5 anos por descaminho tentado e 36 anos por falsidade
ideológica.

Para Celso de Lima, a pena de 53 anos incluiu três
anos por formação de quadrilha, 21 anos por descaminho consumado, nove por
descaminho tentado e 20 por falsidade.

As sentenças levaram em conta a teoria do
“concurso material”, ou seja, que os crimes não foram cometidos em
sequência e num mesmo momento, o que permite que se somem todas as penas.

Em sua decisão, a juíza Maria Isabel do Prado
mencionou que a “organização criminosa” também devia ser presa por
ter “conexões no estrangeiro” e ter dado prosseguimento aos crimes
mesmo depois de descobertos a primeira vez (em 2005), mudando-se apenas o eixo
de atuação de São Paulo para o sul do Brasil. “Os acusados praticaram
crimes de forma habitual, como verdadeiro modo de vida, ou seja, são
literalmente profissionais do crime”, escreveu.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *