O NOME É AMÉRICO

bentivi

 

João Melo e Sousa Bentivi

 

Américo Azevedo Neto ou simplesmente Américo. Está entremeado em minha vida. Quando estudante do Luís Viana já o conhecia de nome, por suas qualidades literárias. Fui ao Rio de Janeiro fazer a minha residência Médica e, voltando, atendendo aos meus dotes jornalísticos, adentrei aos meandros da notícia, no curso de Jornalismo da UFMA.

Antes de terminar o curso, iniciei a minha petulância jornalística e, não sei por quais razões, apareci em um jornal, na época grande representante da oposição: O Jornal de Hoje.

Ainda nesse tempo, como líder de um movimento grevista que fez história, quando paramos toda rede pública de São Luís, fui preso por quase duas semanas, por ordem do governador Luiz Rocha (sou um dos poucos presos políticos que conheço, ainda vivo, no Maranhão) e, preso, protagonizei uma correspondência com o Américo.

Explicando melhor, à época, o Américo escrevia uma série de crônicas denominadas Cartas a Daniel. Daniel referia-se ao tal de La Touche que, hipoteticamente, falava com o Américo. Assim, fui importante, pois conversava, da cadeia, como Senhor de La Ravardière. Isso inspirou-me a, anos depois, estabelecer no Jornal Pequeno, na coluna semanal Janela Livre, uma série denominada Conversando com Papai, na qual descrevi com habilidade e astúcia, com era o governo da senhora Roseana. Um desastre, reafirme-se.

A partir daí configurou-se uma grande amizade, a tal ponto de, em algumas ocasiões, sentir-me diretor sem pasta do Grupo Cazumbá, a jóia da coroa do coração saltitante do Américo.

Pois bem, nesse desastre chamado governo Dino, tenho o cuidado de analisar as suas peças e pedir a Deus proteção para os meus amigos que por lá labutam. Minha oração, creio, não produziu os efeitos desejados por mim. Um foi o Marco Pacheco, judiado até a tampa. Pacheco entregou o seu nome, um nome limpo para esse governo e esse governo não o deixou trabalhar. O outro é o Américo, motivo dessa matéria.

Só ser Américo já é um fato relevante. Significa chefe trabalhador, chefe ativo, chefe da casa. Sim, Américo. Mas quando esse Américo é Azevedo, a coisa aumenta de temperatura. O sobrenome Azevedo é, com certeza, a mais rica tradição artística e literária do Maranhão. Não é a toa que todos os Azevedos passaram pela Academia Maranhense de Letras.

O caso do nosso teatro é mais emblemático: Américo é descendência direta de um senhor conhecido aqui e mundo afora, como Artur Azevedo.

Não é um qualquer e, aproveito para me desculpar com Américo, pelas lacunas que essa minha descrição deixará. Típico homem das letras, Américo é jornalista, ensaísta, poeta, contista, cronista, diretor de teatro, crítico, teatrólogo, ator, folclorista, diretor cênico, diretor de dança, etc. etc.

Nada mais concordante que esse homem dirigisse o teatro Artur Azevedo. Falei para muitas pessoas que o governador Dino tinha marcado um gol e que gol de placa com a nomeação do Américo para dirigir a nossa principal casa teatral.

Santa burrice de minha parte. Analisei o Américo e me esqueci de pensar no Dino. Repito, muita burrice!

De repente, um amigo me liga inconformado: Bentivi, o Américo não é mais diretor do teatro. Incontinente, perguntei o pior: ele morreu? Sim, meus amigos, como era uma das poucas escolhas inteligentes desse governo, só a morte para tirá-lo. Repito: um dos poucos fios de inteligência desse governo não poderia sucumbir. Não rapaz, ele está vivo, só que está muito puto, respondeu o meu interlocutor.

Conversa foi e fiquei sabendo, então, do verdadeiro motivo da exoneração do Américo: ser o que sempre foi – um homem sério. Parecem que os homens sérios não possuem longevidade em determinados ambientes.

A informação não contestada afirma que o Américo colocou falta em determinada servidora que não comparecia às suas obrigações no teatro. Como um administrador correto e honesto vai marcar presença em alguém que não existe no local de trabalho? Américo não seria o reitor da UEMA que deu presença para o faustoso Waldyr Maranhão, sem que esse participasse de um único seminário, quanto mais ministrado aula.

Vamos sonhar com a seriedade desse governo Dino. Estou sonhando. Imagino, agora, que o fato do Américo ter defendido a coisa pública seria tão óbvia que não chamaria a atenção de ninguém e o governador não se incomodaria com um fato tão lógico. Aliás, um fato simplório administrativamente como esse nem deveria merecer o conhecimento do governador. Mereceu! Expulso o sonho e volto a realidade e, de novo, palmas para a minha burrice dinística!

A realidade enche de vergonha a quem tem vergonha! Em vez da funcionária desidiosa ser demitida, demitiram o diretor que honrou a seriedade administrativa e o dinheiro do contribuinte.

Amigo Américo, não somente eu, mas todos os acadêmicos da Academia Atheniense de letras e Artes estamos solidários a você. Acho mesmo que todos os sodalícios dessa cidade deveriam tomar a mesma atitude. Conheço as dificuldades específicas aqui e acolá e nem todas tomadas de posição são fáceis, principalmente se contra governos e, muito mais específico, se os governos primam pela perseguição.

A Academia Atheniense de Letras e Artes tem a santa liberdade que as letras e artes exigem para que se configurem como elementos libertadores e de defesa da sociedade. Pode ser solidária, sem barreiras e temores, ao genial Américo Azevedo Neto.

Aproveito para um singelo convite. No dia 29 de maio, às 17 horas, a ALEART (Academia Atheniense de Letras e Artes) fará um sarau poético-musical com obras de autores maranhenses, no encerramento da FLAEMA – Feira do Livro do Autor e Editor Maranhense. Américo, és nosso convidado especial.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *